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Histórias da Bola
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Copa sem papel

Torcedor antigo sente falta das imagens das antigas magazines

Gustavo Mariani

18/12/2022 10h26

Depois da Copa do Mundo-1950 – disputada no Brasil -, uma tradição que muito contagiava o torcedor, grassava – e a galera adorava: o desfile de fotos e reportagens sobre a glórias brazuca, que fazia o torcedor limpar as prateleiras das bancas de jornais e revistas. Hoje, isso não rola mais. O máximo que temos são uma, duas páginas de semanárias para público classe média. Bons tempos aqueles em que as revistas faziam questão de apresentar os seus profissionais para as coberturas copeiras e prometiam ganhara o campeonato da melhor divulgação.

A revista carioca O Cruzeiro, por exemplo, prometia voar para o Chile-1962, levando “seis profissionais de primeiro time” – Luiz Carlos Barreto, Mário de Moraes, Henri Ballot, Ronaldo Moraes, Jorge Audi e George Torok – para colher a média de 1.200 flagrantes de cada partida, totalizando, ao final do Mundial, 800 rolos de filmes fotográficos, ou 35 mil fotos, com destaque para uma teleobjetiva, de um metro de comprimento e “única existente no continente sul-americano”, capaz de clicar a careta de um craque “a centenas de metros de distância”. Logo, que esperasse o leitor em suas páginas “o preciosismo das jogadas do Didi; o arabesco das arrancadas do Pelé e os ziguezagues das cortadas do Garrincha”.

Realmente, estava quase tudo isso prometido lá nas páginas da então maior revista sul-americana. E na primeira edição após uma partida canarinha. Além do show de sua teleobjetiva, O Cruzeiro de 1962 trazia caderno copeiro à parte, ao centro da edição, podendo ser transformado, depois, em livro com capa dura. Isso, no entanto, já o fizera, durante o Copa-1954, na Suíça, só em preto-e-branco e com os inevitáveis riscos nas imagens provocados pelas transmissões por telefotos (seis transmissões do mesmo click, em cores diferentes, para serem sobrepostas e trabalhadas em laboratório). O Cruzeiro, porém, não estava só naquele lance. A concorrente e também carioca Manchete (noticiário geral e a só esportiva) encarava aquele jogo bola a bola, foto a foto. A sua capa com o capitão Mauro Ramos erguendo a Taça Jules Rimet, a do bi, foi encantante. Até hoje, nunca se viu uma primeira página tão chocante. Mas jogo empatado por edição especial da O Cruzeiro e uma contra-resposta da Fatos & Fotos, filha da Manchete.

O tal campeonato de edições e imagens das Copas era disputado, nos jornais, com mais força, evidentemente, pelos mais fortes do país, os do Sudeste e que, ainda, vendiam as suas cobertura para publicações de menos poder aquisitivos. O Jornal de Brasília, por exemplo, produziu um caderno especial pela conquista do tetra-1994, nos Estados Unidos, com 99,9 % de textos e fotos de agências noticiosas, deixando só a capa (o capitão Dunga erguendo A Taça FIFA) por conta do seu fotógrafo Roberto Stuckert.

E assim esta história mandou avisar que o seu último grande lance gráfico das Copa do Mundo poderia ser o de 2014, no Brasil, novamente, quando a crise econômica mundial já apertava forte os cofres das empresas jornalísticas. Por ali, a revista paulistana Placar produziu uma edição especial a cada jogo brazuca – hoje, raridade disputadas pelos colecionadores que bobearam na época e agora correm a garimpar sebos e sites de buscas.

Pois é! Chegamos ao final de mais uma Copa do Mundo, hoje, sentindo falta do shwos de imagens das velhas magazines. Quer se esquece da foto do soco no ar, por Pelé, seguido por Tostão e Jairzinho, comemorando (em Manchete) o segundo gol de Brasil 4 x 1 Tchecoeslováquia e do lance em que o tcheco Masopust (Fatos & Fotos) se recusa a combater o contundido Pelé, com bola dominada sobre uma linha lateral do gramado? Hoje, é tudo na imagem da TV, do computador, do tempo real – para muitos, ficou a lembrança da então desconhecida modernidade virtual.

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