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Histórias da Bola
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Canarinho joga periquito na rede

O Gama era um terror para a sua torcida, em seus primeiros tempos, autêntico “alegria do adversário”. Isso aqui, por exemplo, aconteceu durante jogo contra o Canarinho (foto)

Gustavo Mariani

13/08/2021 11h57

Era 11 de setembro de 1977, no velho Mané Garrincha, valendo pelo segundo Campeonato Brasiliense de Futebol Profissional , promovido pela antiga Federação Metropolitana de Futebol-FMF que, não esperando mais do que 20, ou 30 presentes ao estádio, enviou só um bilheteiro, a Diva. De sua parte, Liomar, que trabalhava há umas 20 temporadas para a entidade, se virava pra achar gandulas. Quem ligasse o rádio, ouvia Marcelo Ramos e Aílton Dias parecendo transmitirem uma final de Copa do Mundo.

O Gama, treinado por Eurípedes Bueno, que ligava o seu velho Corcel branco e saía catando os jogadores, de casa em casa, para colocar um time em campo, começou a pugna mais aceso. Mas o técnico do Canarinho, Aírton Santos, não botava fé no rival e passou um recado ao seu time: “Fiquem na sua, não corram muito, que o Gama vai terminar jogando pra gente”. Não deu outra. Aos 17 minutos, o lateral-esquerdo canário Del, lançado pelo zagueiro Grossi, jogou a bola na área do “Periquitão”. A defesa gamense não se entendeu e o zagueiro Nonato abriu o placar.

Vencido o primeiro tempo, por 1 x 0, o Canarinho voltou pra liquidar a fatura. Aos 10 minutos, Assis cruzou bola para Belo, que driblou o zagueiro Carlão e, com Atualba batido no lance, aumentou para 2 x 0. Aí foi a vez de toda a defesa do Gama xingar o goleiro. Mas todos continuaram errando muito. Aos 25 minutos, mais pixotadas e o Canarinho aumentou para 3 x 0. Entrevistado por Chico Legal, da Rádio Planalto, após sofrer mais um gol, Eurípedes Bueno considerou que o Gama jogava melhor, só não dava sorte. Falava em virada do placar e, enquanto falava, Marcos invadiu a área dos aurinegros, driblou Del e Grossi e, quando ia fuzilar, foi derrubado. Pênalti que ninguém reclamou com o juiz Adélio Nogueira. Marcos cobrou e fez Eurípedes Bueno a acreditar que a reação estava começando. Mas, em vez de aproveitar o bom momento, o Gama passou a errar mais. Quando o único bilheteiro, os dois maqueiros e até os gandulas já haviam ido embora, o Gama cedeu contra-ataque e Belo fechou a conta: Canarinho 4 x 1. Eurípedes Bueno ficara tão atordoado, que até perdeu a chave do seu velho Corcel branco. Foi preciso fazer ligação direta, pra voltar pra casa.

O Canarinho, time criado por Manoel Ramos, humilde servidor do Palácio do Palácio do Planalto, que gastava a maior parte do seu salário com o seu amor pela bola, venceu às custas de: Luís; Del, Nonato, Grossi e Zé Nílton; Bolinha, Jackson e Tião; Belo, Maninho (Roberto) e Assis (Rogério). O Gama teve: Atualba; Osvaldo, Carlão, Santana e Isaías; Rildo (Zé Vieira), Adílson e Marcos; Guará (Da Mata), Roldão e Carlinhos. O jogo rendeu Cr$ 345 cruzeiros, que não pagava o preço das bolas usadas no “espetáculo”, segundo Marcelo Ramos e Aílton Dias, estes grandes heróis que ajudaram a criar o futebol profissional candango, bem como Luisa Vilhena e Rubens das Silva, os dois bandeirinhas auxiliares de Adélio Nogueira. Bons tempos!

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