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Histórias da Bola
Histórias da Bola

BOLO TRICOLOR

Clube baiano antecipou-se, em duas décadas, à Loteria Esportiva

Gustavo Mariani

03/12/2023 10h29

Para os historiadores, o homem começou a apostar há uns 10 mil anos, por meio de lançamento de pedras, paus, flechas, lanças, o que pintasse. Mais à frente, há 3 mil anos Antes de Cristo, o Egito criou o dado e jogos de tabuleiro. A seguir, durante os séculos XII e XII, os chineses lançaram as cartas de baralho e, mais modernamente, ingleses e franceses se disseram inventores das apostas nos esportes. Os primeiros garantem terem começado tudo, apostando nas patas dos cavalos, mas os rivais juram terem feito primeiro, desde 15 de maio de 1651. E no Brasil?

Por aqui, apostas rolam desde o século 16, trazidas por europeus que jogavam a sorte em cartas e dados, entre outros. As loterias foram trazidas pelo Imperador Dom João VI, em 1.784, instalada em Vila Rica (depois, Ouro Preto), capital de Minas Gerais, com promoção a cargo da Igreja Católica. Dom Pedro II regulamentou a prática, pelo decreto Nº 357, de 27 de abril de 1844, mas, antes, em 1822, os brasileiros já apostavam em corridas de cavalo, que ficaram muito popular no Rio de Janeiro e geravam receitas para o Governo. Mesmo assim, foram proibidas, bem como outros chamados jogos de azar, em 1831, durando isso até 1854, quando surgiu o Jockey Club do Rio de Janeiro, para apostas das classes média e alta. Em 1892, foi a vez de (barão) João Batista Viana Drummond criar o “Jogo do Bicho”, para ajuda-lo a manter um zoológico.

Um retrocesso nas apostas veio durante o governo do presidente Venceslau Braz (1914/1918), com proibição e de criação de casas especializadas no caso. Mas a jogatina rolava na clandestinidade. Em 1917, surgiu a Loteria Federal, que emplacou legal. A partir da década- 1930, o presidente Getúlio Vargas legalizou os jogos e os cassinos impulsionaram a economia que gerou milhares de empregos. Em 1941, a Lei de Convenção Criminal derrubou a tal lei, mas o Governo “relegalizou-a” e o rolo rolou até o decreto-lei 9.215, de 30 de abril de 1946, do presidente Eurico Dutra, achar tudo “degradante para o ser humano”.

Por ali, não havia bola pelo meio. A primeira tentativa de uma loteria esportiva no Brasil foi em 9 de maio de 1966, vésperas do Mundial da Inglaterra, quando lançou-se a Lotecopa (Loteria da Copa do Mundo), criada pela Caixa Econômica Federal, em colaboração da Confederação Brasileira de Desportos-CBD, atual CBF. Mas, pra valer, a Loteria Esportiva brasileira só começou mesmo a partir de 27 de maio de 1969, por canetada do presidente-general Costa e Silva, pelo decreto-lei Nº 594, regulamentado, em 25 de março de 1970, pelo ministro da Fazenda, Delfim Neto, com o primeiro teste, em 19 de abril de 1970, no Rio de Janeiro, com tiragem de 100 mil bilhetes e prêmio de 253.958 cruzeiros novos – equivalentes, hoje, a R$ 394.388,43 reais.

“Chegou a hora do povo ficar rico” teria dito o presidente Costa e Silva, com um deslize gramatical e mostrando-se “pé frio”, já que ninguém acertou os 13 pontos exigidos pelos volantes iniciais – oito apostadores acertaram 12 palpites e cada um levou Ncr$ 10 mil cruzeiros novos (moeda da época). Depois, houve testes experimentais (3 de maio) no Rio de Janeiro, e (17 de maio), em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, mas, oficialmente, tudo começa em 7 de junho de 1970, quando alguém acertou os 13 pontos, pela primeira vez.

Bem antes de o Brasil ter a Loteria Esportiva, os baianos já faziam a sua “fezinha”, pelo Bolo Tricolor, lançado pelo Esporte Clube Bahia, durante a década-1950 e que era a mola mestra de sua engrenagem. Com o dinheiro apostado pela sua torcida, o “Tricolor de Aço” ganhou sede própria; aparelhos para uso medicinal; campos de treinamentos, piscina para desenvolvimento de natação, enfim construiu um patrimônio. Do arrecadado das apostas, 60% iam para os esportes amadores e 40% para o departamento patrimonial, que nada repassava ao futebol profissional, que se virava com a receita das bilheterias de campeonatos e de amistosos.

O Bolo Tricolor era formado por sete jogos, pagando-se pelo número de apostas e só valendo palpite cheio. Era comandado pelo malandro Gabriel Saraiva que, quando o prêmio acumulado, ele aumentava as dificuldades dos prognósticos, colocando até jogos do campeonato soviético,  que só eram do conhecimento de quem ouvia as jornadas esportivas das rádios cariocas e paulistas. Fechava-se o “volante” nas sextas-feiras. Pelas noites dos domingo, tinha-se todas as informações, borderô completo. O trabalho entrava pela madrugada e, lá pelas seis da manhã, era impresso, para chegar às ruas às oito horas da segunda-feira.

O Bahia da época detinha 70% da torcida do seu Estado e reunia quatro mil sócios que pagavam, direitinho, os seus carnês. Embora já mexesse com apostas 20 temporadas antes da Loteria Esportiva, foi ignorado por esta quando incluiu os primeiros times baianos em seus volantes –  Teste Nº 2, Ipiranga 1 x 1 Jequié. Só foi lembrado a partir do Teste Nº 5 – Bahia 0 x 0 Ipiranga -, recorde de prêmio, com um só ganhador, que fez 12 pontos e levou Cr$ 209 mil, 494 cruzeiros e 84 centavo. Hoje, a partir ds 16h, o Bahia enfrenta o América-MG, pela 37º rodada do Campeonato Brasileiro, no Estádio Independência, em Belo Horizonte, valendo pelo Concurso Nº 1089 da Loteca, atual nome da antiga Loteria Esportiva, pagando R$ 300 mil reais ao ganhador dos atuais 14 pontos. O Tricolor de Aço já enfrentou o time mineiro, em 25 partidas, tendo vencido 12 e empatado nove – escorregou em quatro. Durante o primeiro turno deste Brasileirão, marcou 3 x 1, em Salvador.

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