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Cinema com ela
Cinema com ela

Iberê Carvalho e Paulo Miklos falam sobre o filme “O Homem Cordial”

Com estreia marcada para esta quinta-feira (11), o novo longa do cineasta brasiliense fala sobre as injustiças no Brasil

Tamires Rodrigues

11/05/2023 5h00

Atualizada 10/05/2023 16h57

Foto: Divulgação/O2 Play

Depois de anos de atraso devido à pandemia da covid-19 e os vários empecilhos caudados pelo último governo, que não investia em cinema, chega às telas de todo o país “O Homem Cordial”, com direção de Iberê Carvalho, que também assinou o roteiro ao lado do uruguaio Pablo Stoll. Protagonizado por Paulo Miklos, o filme não poderia ser mais atual: fake news, racismo, cultura do cancelamento, linchamento e violência policial são alguns dos pontos que o cineasta aborda na produção.

Iberê Carvalho e o protagonista Paulo Miklos deram entrevista para a coluna Hashtag Cinema sobre “O Homem Cordial”. Confira:

Paulo Miklos vive o roqueiro Aurélio Sá em “O Homem Cordial”. Foto: Divulgação/O2 Play

Hashtag Cinema: Como foi participar do filme e como é vê-lo finalmente pronto?

Paulo Miklos: Foi uma grande aventura, muito emocionante. Ver o trabalho pronto chegando ao público não tem preço, principalmente por ser um filme impactante, que às vezes é divertido, mas tem variações de humor conforme vai caminhando. É uma delícia. 

Como surgiu o convite para viver o protagonista Aurélio Sá?

O Iberê já conhecia o meu trabalho e já tinha esse personagem, que seria um líder de banda de rock. Ele lembrou de mim e me convidou. No início, eu achei estranho por ser muito parecido comigo — naquele momento, eu estava querendo fugir da minha zona de conforto como ator. Mas ele me disse que, por mais que parecesse comigo, era tudo muito diferente. Quando ele me deu mais detalhes do projeto, eu me apaixonei. 

Você interpreta grande parte da sociedade que acaba não enxergando o outro lado. Como é estar neste papel, com todas suas dificuldades?

É de enorme importância. O cinema acaba sendo uma coisa muito elitista, então a gente está falando para essas pessoas. Eu acho que o papel da arte é comover e tocar o coração das pessoas, e esse filme faz isso. Ele te coloca você em situações do Brasil real em que você nunca se imaginou.

Iberê Carvalho – Foto: Divulgação

Hashtag Cinema: A proposta do filme sempre foi mostrar a realidade do Brasil e as suas desigualdades?

Iberê Carvalho: No início, a proposta era mostrar a desigualdade social, mas como você fala sobre isso sem falar sobre a questão racial? E como eu falo sobre o racismo sendo um homem branco, com um certo privilégio? Então, procuramos qual seria o nosso lugar de fala, ou seja, criar um personagem mais parecido comigo que tenha a intenção de mudar e contribuir, mas que acaba metendo os pés pelas mãos porque a realidade é muito mais complexa. 

A cultura do cancelamento está presente desde o início do filme. Por ser um tema muito atual, como foi adaptar isso para o cinema?

Hoje é muito fácil atacar qualquer pessoa pelas redes sociais, mas lá na ponta existe alguém, independente da sua cor ou da classe, que vai sofrer com aquilo uma forma diferente. Portanto, eu queria mostrar esses dois lados; o menino negro e pobre e o cara rico e branco. São dois pesos diferentes, e essa abordagem você só percebe no fim do filme.

O longa começa pelo fim. Tudo que acontece entre o Aurélio Sá e o garoto só é mostrado no último bloco das cenas. Acaba que, na realidade, você nunca sabe como a história começou.

Nós estamos vivendo um momento em que o fato não é mais tão importante, e sim suas versões que chegam e viralizam, cada hora é um fragmento diferente. E o linchamento é isso, várias pessoas que nem sabem o que aconteceu já iniciam uma verdadeira guerra a partir desses fragmentos que vão chegando aos poucos. Por isso, eu quis mostrar o jornalismo independente, que vai fundo na história. Um spoiler: nada realmente acontece com nosso personagem principal. E por que será que não acontece nada? Nós sabemos o porquê, mas não são todos que entendem e aceitam que, com ele, é diferente por um motivo.

O filme traz muitas perguntas e poucas respostas. A ideia era espelhar a realidade brasileira, onde determinadas questões quase nunca apresentam um desfecho?

É por aí. Primeiro, eu não queria filmar toda a agressão que o menino sofre, não cabia a mim explorar isso, seria passar um limite muito grande. Em segundo lugar, são muitas histórias diferentes. O que acontece com ele não é um caso isolado, acontece todos os dias. Então, eu preferi deixar na imaginação, porque você sabe o que acontece pelo histórico no Brasil, mas não tem certeza.

Confira o trailer do longa “O Homem Cordial”:

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