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Mídia esportiva: conheça o poder incômodo da LiveMode

A empresa que hoje é simultaneamente a vendedora e a compradora dos principais direitos esportivos do país

Marcondes Brito

24/11/2025 4h56

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A decisão da LiveMode de assumir 100% da CazéTV não é apenas mais um movimento societário no mercado de mídia esportiva. É a consolidação de um poder que, nos bastidores, provoca irritação de praticamente todo o setor. A LiveMode ocupa hoje uma posição incomum, para dizer o mínimo: é simultaneamente a vendedora e a compradora dos principais direitos esportivos do país.

A operação anunciada na semana passada apenas cristaliza uma prática que já inquietava o mercado. Nos últimos dias, conversei com três executivos de canais e plataformas que, por motivos óbvios, preferem não aparecer. Eles garantem que, entre dez players relevantes do setor, há desconforto real, crescente e difícil de administrar. O incômodo é simples de entender: a empresa que vende os direitos é a mesma que pode direcionar eventos para sua própria vitrine digital, a CazéTV, moldando a concorrência e influenciando faturamento. “É desleal”, disseram à coluna esses executivos.

No caso específico da CazéTV, o benefício foi evidente. O canal explodiu pelo talento indiscutível de Casimiro Miguel, mas também porque a LiveMode abriu para ele portas que outros criadores jamais tiveram. Não se sabe em que condições, a que preço ou sob quais critérios. Mas se sabe que funcionou. E funcionou tão bem que a CazéTV virou fenômeno já em 2022, com a Copa do Mundo do Catar, e se consolidou como um polo de audiência nas grandes competições.

Há ainda um detalhe importante. Segundo os mesmos dirigentes, a FIFA também está incomodada com esse arranjo. A entidade concedeu à LiveMode os direitos de negociação até a Copa masculina de 2026 e até a Copa feminina de 2027, que será no Brasil. Depois disso, o acordo será reavaliado.

A reorganização societária da LiveMode mostra outro ponto relevante. Casimiro deixa de ser sócio direto da própria TV e passa a ser acionista da holding internacional que controla toda o sistema. Na prática, troca uma participação em um único canal por uma fatia do grupo bilionário, financiado por investidores como General Atlantic e o braço de private equity da XP.

Vale lembrar de onde ele vem. No início da década, Casimiro era estagiário do canal ‘Esporte Interativo’. Passou pelo SBT do Rio, ganhando algo entre 10 e 12 mil reais por mês. Foi na internet que descobriu o próprio tamanho. E o motor dessa virada foi o Twitch, plataforma de transmissão ao vivo baseada em assinaturas, doações e impulsos de audiência que rapidamente transformaram suas lives em uma máquina de monetização. Em pouco tempo, seus vídeos já lhe rendiam algo entre 400 e 500 mil reais mensais.

Em seguida, montou a CazéTV e se tornou um dos jovens mais ricos do Brasil porque entendeu, antes dos outros, como a internet muda o jogo. A LiveMode entendeu isso junto com ele e, ao comprar 100% da CazéTV, confirma que pretende jogar com todas as cartas nas mãos. O mercado observa, desconfiado, e a FIFA também.

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A coluna Futebol Etc na edição impressa do Jornal de Brasília nesta 2ª feira (24/11)

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