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Jornal Olé revela a estratégia do Boca: explorar a lentidão de Marcelo e Felipe Melo

A estratégia não deu certo. Tanto que – apenas uma dia após a derrota – o técnico Jorge Almirón pediu demissão. Ele entregou o cargo pouco depois de aterrissar em Buenos Aires

Marcondes Brito

06/11/2023 6h46

Reprodução/TV

O Boca Juniors tinha um plano para ganhar do Fluminense e faturar a sua sétima Copa Libertadores. O plano era explorar a lentidão de Marcelo e Felipe Melo, dois veteranos do sistema defensivo brasileiro, e assim criar chances para fazer gols no Maracanã.

A estratégia não deu certo, claro. Tanto que, neste domingo (5), apenas uma dia após a derrota, o técnico Jorge Almirón pediu demissão. Ele entregou o cargo pouco depois de aterrissar em Buenos Aires.

Em artigo assinado pelo jornalista Vicente Muglia, o jornal Olé analisou os pontos positivos e negativos do Boca Juniors na final da Libertadores. Confira:

Por um lado, a transição defensiva. Do outro, a lentidão de Marcelo e Felipe Melo. Jorge Almirón, ao planejar a final junto com sua comissão técnica, detectou essas duas fragilidades específicas do Fluminense. E trabalhou na prévia focado em tentar aproveitar esses defeitos, ao mesmo tempo em que observava os pontos fortes do rival: a capacidade de se agrupar em determinadas áreas para gerar jogo, a técnica a serviço da tática e a hierarquia da maioria dos jogadores.

O plano de jogo considerou ambas as questões (virtudes e defeitos), além do eventual plano B e do plano C, de acordo com o desenvolvimento da partida. Mas a teoria colocada em prática não foi totalmente bem sucedida e isso explica, em parte, porque o Boca não foi campeão desta Copa Libertadores.

A ideia era clara: um 4-4-2 compacto, posicionado num bloco médio-baixo. Que o Fluminense passasse a ser dono da posse de bola e que a dupla Cavani-Merentiel não fosse pressionar alto e sim na área do círculo central para incentivar o avanço das linhas adversárias. A equipe brasileira assumiu o controle no primeiro tempo (69% contra 31% de posse de bola) e impôs as condições, embora, com exceção do gol, sem gerar muitas jogadas de perigo.

O objetivo foi expor a fraca transição defensiva do rival. Mas o Boca teve dificuldade em roubar a bola porque se preocupava mais em ocupar os espaços do que em pressionar o dono da bola.

Da mesma forma, deixou claro que o plano seria muito direto na hora de recuperá-lo. Ele teve duas ações onde confirmou essa posição.

Num deles, iniciado por Barco, Merentiel avançou contra uma última linha que corria para trás e o seu remate de meia distância foi para as mãos do goleiro. Na outra, também com Barco como arremessador, Cavani, aproveitando a distância entre Nino e Felipe Melo, inexplicavelmente tocou para trás quando conseguiu finalizar contra Fábio.

O golaço do Flu mudou o roteiro. Menção especial para aquela ação onde a equipe de Diniz deu um exemplo notável daquele ataque funcional, que é marca registrada desta equipe.

Diferentemente do famoso Jogo de posição que hoje predomina na elite do futebol – e cuja síntese é a ocupação racional de espaços – a proposta do técnico brasileiro é que seu time se organize através da bola e não dos espaços. Ou seja, gerando superioridades numéricas na área onde a bola está localizada. Em suma, Diniz, admirador confesso do histórico “Jogo Bonito” que identifica o futebol brasileiro, incita o caos organizado onde, por exemplo, um extremo atravessa todo o campo e procura associar-se na ala oposta juntamente com o outro extremo.

Almirón conhecia esses movimentos e os seus jogadores também. Mas o Boca, naquela jogada específica, não conseguiu desmontar aquela clássica tabela entre Jhon Arias e Keno em que o lateral esquerdo, agora posicionado  na direita, transbordou e jogou o zagueiro para o implacável Cano.

Com o resultado em 0x1, a ordem ao intervalo foi apelar ao plano B. Isto passou para um 4-1-3-2, com Equi Fernández a avançar e toda a equipe a parar cerca de 15 metros mais à frente. Além disso, Cavani e Merentiel não pressionariam mais no círculo central, mas na meia-lua da área em cada tiro de meta rival.

Assim, viu-se o melhor do Boca na partida. Sufocado, o Fluminense começou a errar e perder a bola no próprio campo. A posse deixou de ser exclusivamente brasileira graças a uma pressão de bloco onde Fernández (Equi e Pol) se destacou nas recuperações e na circulação. A lentidão de Marcelo, principalmente no fechamento, foi outro ponto fraco que teve que ser explorado. E Advíncula passou a atacar com mais frequência pela sua banda. Cerca de 15 minutos antes do gol ele fez uma jogada presciente. De mãos dadas com Marcelo, ele desviou para dentro com o pé esquerdo e finalizou para o gol, um pouco ao lado. Foi um alerta e um sinal de que os problemas do lado brasileiro se aproximavam: o peruano havia ganhado dois metros de vantagem com aquele gancho. Algo muito semelhante ao que aconteceu depois, quando marcou 1×1.

Se a fraca transição defensiva do Flu não tinha conseguido ser aproveitada por Merentiel e Cavani no que fizeram no primeiro tempo, agora Advíncula aproveitou a fraqueza do ex-jogador do Real Madrid.

Os 20 minutos finais pareciam o que o Boca queria. Diniz já havia tirado Felipe Melo e depois fez o mesmo com Marcelo e Ganso, derretidos fisicamente. O mesmo que Cavani e Barco, que deixaram seus lugares para Benedetto e Langoni. Quanto ao empate, Almirón manteve o 4-1-3-2 mas com Langoni pela direita e Medina passando pela esquerda. Naquele período parecia que faltava algo a mais para o time conseguir o nocaute. Com a posse de bola a seu favor, ele não conseguiu gerar ações perigosas, exceto alguns chutes de fora. E o mais claro nessa reta final foi o incrível mano a mano que Diogo Barbosa desperdiçou contra Chiquito Romero.

O início da prorrogação e o gol imediato de Kennedy, aproveitando os espaços defensivos que o Boca não conseguiu cobrir na defesa corpo a corpo, levaram o time ao desespero pelo empate. O extra durou apenas dez minutos por causa do cartão vermelho para Fabra.

 Àquela altura, com o Fluminense afundado em sua área (linha de seis e mais três alguns metros à frente), o plano era o cruzamento sistemático (acabaram com 29 cruzamentos em 120′ quando tinham média de 14 por jogo nesta Copa).

O Fluminense se fortaleceu por cima, soube sofrer quando necessário, e assim sagrou-se campeão e o Boca saiu de mãos vazias.

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