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Fala, Torcida
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O mal dos estaduais

Torneios de estado não são parâmetro para competições nacionais e continentais e, no caso dos times grandes, acabam servindo apenas para derrubar treinadores

Thiago Henrique de Morais

24/02/2023 5h00

Atualizada 23/02/2023 18h42

Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Os principais campeonatos estaduais estão chegando à reta final da primeira fase, e com isso surge a desconfiança dos times em relação aos principais campeonatos nacionais. Alguns times pelo Brasil já começam a contestar seus treinadores, o que é comum no futebol brasileiro, mantendo o alto grau de rotatividade entre os comandantes.

Para os times que estão na Série A, os estaduais deveriam servir como uma pré-temporada. No entanto, a pressão da imprensa, torcedores e dirigentes por esses títulos amplia a pressão sobre os treinadores, colocando em xeque o cargo do comandante. Isso comprova que esse tipo de competição no futebol brasileiro só serve mesmo para derrubar treinadores e acabar com um planejamento para uma longa temporada.

O fato de algumas equipes de grande porte conseguirem, mesmo com a infinita troca de técnicos, lutar por títulos e até conquistá-los, é surpreendente. O Flamengo é um exemplo disso, pois nunca consegue manter um treinador durante um ano inteiro, mas ainda assim consegue ter bons resultados. Desde o começo da gestão de Rodolfo Landim, o time nunca conseguiu manter um comandante durante um ano inteiro, e em apenas uma das circunstâncias houve o pedido explícito para a saída do posto – caso de Jorge Jesus, que decidiu voltar para Portugal em meio ao início da pandemia, em 2020. Não existe planejamento algum. Diferentemente do Palmeiras, que mantém Abel Ferreira à frente do clube há mais de dois, mesmo com resultados iniciais aquém do esperado.

Claro que o torcedor quer ver o seu time vencer os seus maiores rivais, e conquistar essas taças é sempre interessante em função da rivalidade. Também é compreensível que os estaduais servem para preparar as equipes para competições de maior importância. Mas nenhum destes campeonatos serve como parâmetro para a disputa de competições de nível mais forte, como o Brasileirão ou os torneios continentais.

Atualmente, nenhum dos 20 clubes que estão na Série A trocaram de treinador em 2023. Contudo, críticas e cobranças existem e persistirão, e é bem provável que alguns treinadores caiam logo nas primeiras rodadas do Brasileirão ou em uma eliminação precoce da Copa do Brasil para times de baixo orçamento e que estão nas divisões inferiores do país. Essa rotatividade entre técnicos é um problema que precisa ser resolvido.

Ainda sobre a constante troca de técnico no país, é importante ressaltar que a pressão dos torcedores e da mídia é intensificada pela cultura do imediatismo presente no futebol brasileiro. Existe uma expectativa de resultados rápidos, sem considerar o tempo necessário para um trabalho sólido e consistente ser implementado. É preciso entender que o sucesso em uma competição não pode ser o único indicador de um bom trabalho de um treinador e que a continuidade de um projeto pode ser fundamental para o sucesso em longo prazo. A mudança constante dificulta a estabilidade e a evolução dos clubes, resultando em um cenário pouco favorável para o desenvolvimento do futebol brasileiro.

Infelizmente, isso não deve mudar tão cedo, o que mostra que o nosso futebol é muito aquém do praticado do outro lado do Atlântico. Ainda mais com a manutenção do atual calendário brasileiro. Só nos resta sonhar e esperar que um dia isso possa mudar.

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