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Fala, Torcida
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Dança das Cadeiras no futebol brasileiro

Neste ano, passadas 12 rodadas do Campeonato Brasileiro, temos a incrível marca de 13 mudanças de comando nesse hiato

Thiago Henrique de Morais

30/06/2023 13h02

Foto: AFP

Há alguns anos, a CBF chegou a impor uma regra, impedindo uma rotatividade de treinadores ao longo da competição. Segundo o regulamento, cada time poderia ter apenas dois técnicos durante o Brasileirão. Mas as exceções à regra estragaram tudo. A principal delas era de que, caso o comandante pedisse demissão, o clube estaria isento, podendo fazer novas mudanças. Como o jeitinho brasileiro está intrínseco em nossas veias, a maior parte das saídas foram justamente dessa forma. Logo, a CBF aboliu a regra já na temporada seguinte.

Neste ano, passadas 12 rodadas do Campeonato Brasileiro, temos a incrível marca de 13 mudanças de comando nesse hiato. A última delas aconteceu ontem, com o pedido de demissão do técnico Luís Castro, do Botafogo. A última demissão a critério do próprio clube aconteceu na terça-feira pela manhã, quando Antônio Carlos Zago – que já havia substituído o português António Oliveira após a primeira rodada – acabou sendo informado de sua desvinculação junto ao Coritiba. Claro, a campanha do time ajuda na decisão, uma vez que a equipe sequer venceu na atual edição do Brasileirão. Mas doze rodadas são o suficiente para tanto?

É bem verdade que nessa lista extensa há a o nome de técnicos interinos, como o de Mário Jorge, no Flamengo, e Emerson Ávila, no Cuiabá, além de Cuca, que só treinou o time por uma rodada após a pressão da torcida corintiana contra o seu nome, em função da condenação da Corte Suíça por estupro, em 1987. Ainda assim, a rotatividade é enorme neste início de Campeonato Brasileiro. Um retrato de que a nossa escola de treinadores é fraca ou os dirigentes são amadores e não sabem escolher os nomes de forma correta? Talvez os dois.

Dos 20 clubes do Campeonato Brasileiro, apenas oito ainda mantêm o seu treinador desde o início da competição. Em nenhum dos times que trocaram o seu comando houve pedido de demissão ou troca para outro clube, mas por não serem o nome certo para estarem à frente da equipe. Com o sim de Luís Castro para treinar o Al Nassr, de Cristiano Ronaldo, recebendo quatro vezes mais do que no Botafogo, esse foi o primeiro caso de saída partindo diretamente por um treinador para comandar outro clube durante essa temporada do Brasileirão.

E a tendência é que nas próximas rodadas essa lista aumente de forma significativa. Na zona de rebaixamento e sem a vaga na próxima fase da Sul-Americana, Vagner Mancini balança no cargo do América-MG. Renato Paiva, no Bahia, ainda não convenceu o torcedor neste início de temporada e também está na corda bamba. Isso sem contar as próximas mudanças que poderão ocorrer nos times que estão na parte de baixo da tabela – pois há muita água (e cabeças) para rolar nesta competição.

Os únicos times que ainda não trocaram seus treinadores e estão “estáveis”: caso do próprio Luís Castro, que se depender do Botafogo não liberaria o treinador  tão cedo, ainda mais pelos resultados atuais; Pepa, do Cruzeiro, que está fazendo um torneio regular neste início de Brasileiro; Caixinha, do Bragantino, que está em ascensão na competição após a goleada sobre o Flamengo; e os longevos Vojvoda (Fortaleza), Abel Ferreira (Palmeiras), Mano Menezes (Internacional) e Renato Gaúcho (Grêmio).

Após essas 12 rodadas e 13 trocas de comando, a tendência é que tenhamos um número parecido com o de 2015, quando houve nada menos do que 32 mudanças de técnico ao logo da temporada – entre demissões e trocas de times. Nas últimas 10 edições do Brasileiro, o menor número de saídas de treinadores foi em 2021 – 20 no total –, justamente no ano em que foi imposta a regra da CBF. Ela tinha o seu valor e poderia ter sido melhor adaptada, mas a escolha não foi essa, muito por pressão dos próprios clubes, alegando “interferência externa” da entidade em suas (más) escolhas.

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