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Fala, Torcida
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Crise na CBF

Disputa pelo poder da entidade pode deixar clubes e seleções brasileiras de fora de grandes competições

Thiago Henrique de Morais

15/12/2023 5h00

Atualizada 14/12/2023 15h54

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Os resultados ruins da seleção brasileira em 2023 culminaram em uma crise além das quatro linhas para a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Das nove partidas disputadas neste ano, foram apenas três vitórias, todas elas contra seleções que estão em um nível técnico muito abaixo e que sequer possuem pretensões de irem à Copa do Mundo daqui a dois anos e meio (goleadas contra a Guiné e Bolívia e vitória nos minutos finais contra o Peru). Sem contar o empate vergonhoso diante da Venezuela, com direito a um gol de bicicleta marcado pela única seleção filiada à Conmebol que nunca disputou uma edição de Mundial.

As derrotas para Marrocos, Senegal, Uruguai, Colômbia e Argentina fizeram a gestão de Ednaldo Rodrigues ser massacrada pela oposição. E não se trata de uma oposição comum: são Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero. Por mais que os dois estejam banidos do futebol, são eles os principais críticos à gestão de Ednaldo. Eles não poderão assumir o comando da entidade, mas podem usar os seus vários laranjas para voltarem a ser os responsáveis pela gestão da principal confederação esportiva do país. Além do banimento no esporte, Teixeira e Del Nero estão na lista vermelha da Interpol, não podendo sair do Brasil em função de condenações por corrupção, nos Estados Unidos.

Ednaldo teve o seu mandato de presidente da CBF destituído após uma ação do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A decisão alega que o Termo de Ajuste de Conduta, assinado junto ao Ministério Público, era inválido, por se tratar de um ente privado. Foi graças a esse TAC que houve eleições, que substituíram Rogério Caboclo do cargo – após denúncias de assédio moral e sexual – e fizeram Ednaldo conseguiu se eleger, em março do ano passado. Para a esfera judicial, todos os atos após a assinatura do TAC são inválidos. Ou seja: de março de 2022 para cá, é como se a CBF não tivesse um presidente. Surreal.

Fora das quatro linhas, desconsiderando a seleção brasileira, a gestão de Ednaldo não é ruim. Conseguiu alavancar patrocínios e aumento de premiações para todas as competições nacionais e deu incentivos para as federações estaduais. Não à toa, o ex-mandatário da CBF possui apoio de praticamente todos os clubes da Série A e Série B do Brasileirão. Além disso, tem uma boa relação com as demais federações – que possuem uma maioria nos votos das eleições. Contudo, para pessoas como Teixeira e Del Nero, o que mais importa são os resultados das seleções. Além do fracasso pós-Copa do Mundo do Catar, o Brasil também não foi bem nos Mundiais Sub-17 e Sub-20 deste ano. “Tenho consciência tranquila de que estou fazendo o melhor para o futebol brasileiro”, afirmou, recentemente, o então presidente da CBF.

Ressalta-se ainda que esse lobby para retirar Ednaldo do comando da CBF pode prejudicar não só os clubes como as seleções. A Fifa e a Conmebol já emitiram um alerta à entidade sobre as interferências externas e os riscos que podem causar ao país – com suspensão automática de clubes e seleções em competições internacionais. Ou seja: os times não poderiam participar de Libertadores, Sul-Americana e Mundial; e o Brasil estaria impedido de disputar a Copa América, Sul-Americanos, Jogos Olímpicos e Copas do Mundo – independentemente da categoria.

Seria um golpe profundo somente para ter o poder em suas mãos. O custo é altíssimo para o esporte mais popular do país. É impensável ver nossos clubes ou seleções sequer podendo fazer jogos oficiais contra equipes internacionais.

Para nós, meros espectadores e fãs do futebol, o que nos resta é torcer para que as punições não se cumpram e que esses nomes que lesaram o futebol brasileiro em gestões anteriores fiquem longe do esporte.

• Essa coluna entra em período de recesso, voltando a ser publicada no dia 5 de janeiro.

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