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Conflito de interesses

A escolha de Fernando Diniz para comandar interinamente a seleção brasileira mesmo enquanto ele treina o Fluminense configura, sim, conflito de interesses

Thiago Henrique de Morais

07/07/2023 5h00

Atualizada 06/07/2023 17h52

Foto: Rodrigo Ferreira/CBF

Entre as 23ª e 24ª rodadas do Campeonato Brasileiro, o técnico Fernando Diniz terá uma missão dupla. Além de ser o responsável por comandar o Fluminense nos jogos contra o Vasco da Gama e o Cruzeiro, ele será o responsável por dirigir a seleção brasileira na abertura das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2026, contra Bolívia e Peru. A pergunta que fica é: o treinador interino escolhido pela CBF irá convocar jogadores que atuam no Brasil para esses confrontos, abrindo precedentes para possíveis conflitos de interesse durante esse período?

De certo, a decisão da entidade em escolher Fernando Diniz para ficar nesta dupla jornada foi um equívoco. Ainda que exista uma compensação financeira ao Fluminense em torno de R$ 7 milhões (parte da multa rescisória), como o próprio clube citou em nota divulgada à imprensa após a apresentação de seu treinador, esse trabalho dividido entre o clube carioca e a seleção brasileira gera inúmeras teorias conspiratórias, uma vez que ao convocar um jogador de um determinado clube brasileiro, poderá prejudicá-lo na competição nacional. Será que vale a pena?

Entre os jogos da chamada Data Fifa – que gera uma paralisação fajuta, tendo em vista que a rodada se inicia no dia seguinte ao confronto da seleção brasileira –, os times que mais vêm cedendo jogadores à seleção são Flamengo e Palmeiras. Durante esse período, o rubro-negro terá pela frente o Athletico-PR, no Rio de Janeiro, e depois encara o Goiás após a pausa de 10 dias no calendário. O Verdão, por sua vez, enfrenta o mesmo Goiás, em São Paulo, e depois terá um duelo importante contra o Grêmio, que, levando em consideração a atual situação da tabela do brasileiro, tende a ser um confronto para definir as primeiras colocações.

E mais: Fernando Diniz irá desfalcar o seu próprio time em meio a um clássico?

Tudo bem, a presença de alguns jogadores desses dois times tem sido por méritos dos atletas, por mais que os torcedores sempre acusam a CBF de prejudicar o seu time ou beneficiar o rival. Mas tudo dependerá do número de convocações e pelo critério a ser adotado. O Fluminense garante que não haverá esse conflito, ainda que isso seja totalmente implícito. A CBF poderia ter evitado isso, ainda mais nos momentos atuais. Mas não. Insiste em querer contratar Ancelotti, ainda que o italiano nitidamente faça pouco caso da seleção brasileira, e aposta em um interino que será sempre questionado por maus resultados, seja no Fluminense (como já vem acontecendo) ou em possíveis tropeços no início das Eliminatórias.

Isso porque estávamos falando apenas da primeira convocação, contra adversários fracos. Imagine na Data Fifa de outubro, entre as 27ª e 28ª rodadas, quando o Brasil terá pela frente a atual campeã do mundo, Argentina, e o clássico contra o Uruguai?! Já em reta final de Campeonato Brasileiro, Diniz irá fazer as escolhas por jogadores do Brasil ou apostará apenas em estrangeiros? Se eleger atletas que atuam no país, irá utilizá-los nos jogos ou vai só os deixar no banco, como Tite sempre costumava fazer? Ou seja, por mais que CBF e Fluminense neguem, existe, ainda que implícito, o confronto de interesses.

Vale destacar que essa decisão da CBF em escolher um treinador para dirigir simultaneamente a seleção e a sua equipe no campeonato nacional não é novidade. Em 1998 e 2000, Vanderlei Luxemburgo e Emerson Leão, respectivamente, tiveram essa mesma dupla jornada, mas não como interinos. O primeiro conseguiu conciliar o trabalho, levando o Corinthians ao título brasileiro, mas fracassou na seleção. O segundo ficou na situação por um curto período de tempo, indo mal tanto no Sport Recife quanto na seleção brasileira, sendo demitido em ambos os casos. Ou seja: os cases anteriores não são de sucesso. Mas a CBF gosta de cometer os velhos erros, seja por superstição ou mera incompetência.

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