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Fala, Torcida
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Bola de neve

As competições sul-americanas estão cada vez mais inchadas. Isso é péssimo para o espetáculo, mas é bom para as marcas e dirigentes

Thiago Henrique de Morais

31/03/2023 4h59

Atualizada 30/03/2023 18h56

Foto: NORBERTO DUARTE / AFP

A partir da próxima semana, 14 equipes que estão na elite do futebol brasileiro dão início a sua saga nas competições internacionais. Como já deixei explícito algumas vezes neste espaço, vejo que os estaduais são uma forma de pré-temporada – ainda que eles sejam decisivos para a permanência de treinadores ou evitar uma crise interna, como vem acontecendo com o Flamengo recentemente. O fato é que a temporada começa, de verdade, a partir da próxima terça-feira (4/4).

Mas, atualmente, as competições da Conmebol possuem um certo desprestígio. Na Libertadores, são sete times brasileiros, número idêntico aos da Sul-Americana. Ainda que alguns clubes sofram a duras penas para obter uma classificação nos duelos eliminatórios, as fases iniciais não são tão complicadas.

Em discurso na última segunda-feira, antes do sorteio dos grupos da Libertadores, o presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, enalteceu o fato de mais de 90 times estarem nas disputas das competições sul-americanas. Isso não deveria acontecer. O nosso continente não tem esse número de equipes competitivas e nunca terá. O mesmo vale para a Europa e até mesmo para a Copa do Mundo, que, com o passar dos anos, vêm sofrendo com um inchaço de clubes e seleções, respectivamente.

Com exceção da Copa do Brasil, que no meu ponto de vista deveria ser nacional – com todos os times interessados em participar, gerando mais fases, como acontece na França e Inglaterra, por exemplo – os torneios principais do continente não poderiam contar com um número excessivo de clubes. O Brasil mesmo não possui sete clubes aptos a serem os melhores do país. Se formos forçar muito a barra, o máximo deveria ser cinco clubes. E olhe lá.

Mas é aquela: mais clubes participando significa mais votos, o que gera uma espécie de vitaliciedade nos cargos dos presidentes das confederações. Sem contar que mais partidas dão maior exposição das marcas, o que rende mais dinheiro. É uma bola de neve. A meta não é deixar a competição competitiva, mas, sim, encher os cofres, manter-se à frente de um cargo pomposo, com a promessa do “desenvolvimento do futebol em outros países”. Pura balela.

Com uma maioria de times brasileiros e argentinos nas fases de grupos da Libertadores, o que a gente vê com frequência são equipes desses dois países sempre avançando de fase, criando uma espécie de torneio Brasil-Argentina na reta final. Tanto é verdade que nas últimas cinco edições da principal competição sul-americana, somente em uma houve a presença de um clube que não fosse os dois grandes citados (Barcelona de Guayaquil, em 2021). E se for puxar para as quartas de final, são somente sete times que não fossem brasileiros ou argentinos que chegaram a tal fase. No ano passado, por exemplo, dos oito melhores times do continente, cinco eram do Brasil e três da Argentina. A última vez que times fora desse eixo chegaram a uma final foi em 2016, com Independiente Del Valle (EQU) e Atlético Nacional (COL). Curiosamente, em uma época em que havia, no máximo, cinco times brasileiros na disputa, em que havia um critério mais justo para a competição.

Os clubes que conseguiram essas vagas, por óbvio, não vão reclamar. Mas que seria necessária uma mudança no critério de classificação para essas competições, seria. Até porque, um time que brigou contra o rebaixamento até as rodadas finais do Brasileiro não está apto a entrar em uma disputa de uma competição tão importante como é a Sul-Americana. Isso só desmerece o nível técnico do torneio. Porém, a tendência é que esses números só aumentam com o passar dos anos.

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