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Fala, Torcida
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A Fifa estragou a Copa do Mundo

A partir de 2026, o Mundial vai mudar de formato. E vai mudar para pior.

Thiago Henrique de Morais

17/03/2023 5h00

Atualizada 16/03/2023 19h10

Foto: Ina Fassbender/AFP

A Fifa anunciou, no início desta semana, o novo formato para a Copa do Mundo a partir de 2026. Já era conhecido o aumento de 32 para 48 seleções, mas não se sabia, até então, como seria a forma de disputa. Muito se falou em 16 grupos com três países cada, o que gerou desconforto em relação à questão técnica e possíveis combinações de resultados. Assim, a entidade preferiu manter quatro seleções em um grupo, subindo o número de chaves para 12, e o de partidas, para 104.

Para quem gosta da competição, será um deleite acompanhar mais 40 partidas ao longo de quase um mês e meio de competição. No entanto, aumentar o número de seleções em um torneio tão importante não é a melhor das alternativas. Com 32 países na disputa, algumas partidas já possuíam um critério técnico contestável na primeira fase. Agora, ficará ainda pior.

O formato em que a competição será disputada também não é o melhor. Com 48 seleções e 12 grupos, a entidade abre a possibilidade de alguns dos terceiros colocados dos grupos se classificarem para a segunda fase do torneio. Se antes, metade das seleções que disputavam a competição eram eliminadas logo na primeira fase, agora somente os últimos colocados de cada uma das chaves e os quatro piores terceiros colocados terão de voltar para casa após as três partidas iniciais. Para alguns, pode ser uma forma de criar uma maior competitividade, mas não é bem assim. A chance de termos mais jogos ruins no mata-mata é grande.

Em um torneio de tiro curto como a Copa do Mundo, aumentar uma fase chega a ser absurdo e cansativo para os jogadores. O risco de lesões é ainda maior, fazendo com que as fases mais decisivas careçam dos principais craques. Mas já sabemos que a Fifa não se importa com isso. Mais jogos equivalem a mais dinheiro para o cofre da entidade e das confederações filiadas, independentemente da qualidade técnica.

Considerando apenas de maneira ilustrativa quais seriam as 48 seleções classificadas, já que o formato das confederações mudará devido ao novo quantitativo, trago um exemplo de quais seleções estariam classificadas. Veja:

Na Conmebol, Peru e Colômbia estariam com uma vaga direta para o Mundial, com o Chile indo para a repescagem. Até aí, tudo normal. Mas vejamos as demais confederações.

Na Concacaf, estariam no Mundial Costa Rica, Panamá e Jamaica, que se juntariam aos anfitriões Canadá, México e Estados Unidos. Mas não para por aí: El Salvador e Honduras também teriam chances de ir para a Copa do Mundo através da repescagem. Ruim? Calma, que ainda pode piorar.

Na Ásia, os Emirados Árabes Unidos, junto com o Iraque e a ‘poderosa’ seleção do Omã estariam na Copa do Mundo de forma direta, enquanto a Síria e a China disputariam entre si quem iria para a repescagem intercontinental.

A África, assim como a América do Sul, seria beneficiada. Seleções como Egito, Argélia e Nigéria, que estiveram fora da última Copa do Mundo, seriam agraciadas com uma vaga. Juntar-se-iam a eles o Congo e o Mali, sendo que apenas um deles teria vaga direta e outro iria para a fase eliminatória. Mas o que dizer da Oceania, um continente com futebol amador, que teria a Nova Zelândia classificada diretamente e as Ilhas Salomão indo para a repescagem?

A Europa, sem dúvida, será um dos continentes beneficiados, pois terá 16 seleções classificadas para o Mundial. O novo regulamento prevê doze grupos e não mais dez, sendo que quatro seleções irão para a Copa do Mundo através de uma repescagem local – até porque para eles não convém jogar com países de outros continentes.

Enfim, o certo é que a Copa do Mundo, um torneio tão midiático e esperado por longos quatro anos, começa a virar uma espécie de Copa São Paulo de Futebol Júnior. Que a Fifa não me ouça e não abra os olhos para o lado de cá, pois não duvido em nada que, em alguns anos, teremos outro inchaço no Mundial, deixando o nível técnico ainda pior, para azar de quem gosta da Copa do Mundo.

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