A poucas horas da discussão e votação do relatório final da CPI dos atos antidemocráticos, que conduziu – e pelo jeito continua conduzindo – com muita autoridade, o distrital Chico Vigilante, emitiu nesta terça-feira, 28, uma advertência de sentido amplo, geral e irrestrito.
Pelo X, o antigo Twitter, Chico Vigilante qualificou de “curioso” o comportamento de parlamentares que, “antes da leitura e votação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito, sem nem ao menos terem acesso ao conteúdo, anunciaram a divulgação de um relatório paralelo”.
Chico Vigilante até espicaçou, arriscando uma especulação: “Será o desespero do pânico?” Fica o registro de que a apresentação de relatório paralelo é um artifício comum em comissões de inquérito, quando a maioria opta por um veredito, mas encontra a discordância da minoria.
Acaba de ocorrer, por exemplo, na CPI Mista do Congresso sobre os atos de 8 de janeiro, em que os governistas favoráveis a Lula conseguiram mais votos e os oposicionistas, mais simpáticos a Bolsonaro, fizeram o seu relatório paralelo.
No caso da CPI da Câmara Legislativa também se falou nisso. Os primeiros a mencionar a hipótese foram, como no Congresso, os oposicionistas que se sentiram travados por algumas decisões do próprio Chico Vigilante, casos dos distritais Paula Belmonte e Thiago Manzoni, além do pastor Daniel de Castro. Depois, porém, distritais do PSOL, como Fábio Félix, reproduziram a ameaça.
Insinuaram que o relator João Hermeto, ele próprio originário das forças de segurança, poderia ser generoso com os acusados de “golpismo”.
Ou seja, poderia surgir tanto um relatório paralelo de um extremo do espectro político quanto do outro extremo do espectro. Restaria, portanto, a dúvida atroz: a qual dos lados o presidente Chico Vigilante estaria acenando com o “desespero do pânico”?
…para os dois lados
Seria desconhecer o deputado Chico Vigilante supor que essa advertência fosse unívoca. E, previsivelmente, ele mesmo torna claro, quando se pergunta a ele para qual dos dois lados se dirige o recado. “Para os dois”, resume o presidente.
Tudo pronto para o relatório final da CPI
O relatório final, até agora guardado a sete chaves, será apresentado ainda na manhã desta quarta, 29, pelo distrital Hermeto, relator da comissão, discutido pelos distritais e colocado em votação para aprovação ou rejeição pelo colegiado. Não se considera viável a hipótese de rejeição, mas fica em aberto a possibilidade do relatório paralelo. A cerimônia marcará o fim dos trabalhos da comissão, que vem se debruçando há mais de nove meses para investigar a tentativa de invasão à sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro, e a invasão e depredação dos prédios dos três poderes, no dia 8 de janeiro, em Brasília. O trabalho intenso da comissão neste período pode ser notado quando olhamos para os números. A comissão se reuniu no plenário da casa 33 vezes, e em 27 delas realizou oitiva de depoentes. Ao todo, 32 pessoas sentaram-se perante o colegiado para depor.