Trezentos e cinquenta quilômetros é a distância que separa Brasília de um pedaço do paraíso na Terra. Estamos falando de uma das mais famosas cachoeiras da nossa região, a Santa Bárbara.
As águas têm cor única, tons de azul claro e turquesa, que remetem ao Caribe. O poço de cor azul piscina é de uma perfeição que chega a emocionar. A transparência é incrível. É impossível visitá-la e não dar mergulho de lavar a alma, sem falar do banho na cachoeira, uma queda d’água de 30 metros.
Essa maravilha totalmente preservada só pode receber 300 visitantes por dia. Nos dias mais cheios a permanência permitida é de apenas uma hora. Ela fica a 27km da cidade de Cavalcante, dentro da propriedade da comunidade Kalunga, terra quilombola de mais de 250 hectares até pouco tempo intocados e preservados. O acesso à Cachoeira Santa Bárbara é pelo povoado do Engenho II.
E hoje, queremos mesmo é homenagear esses guardiões do paraíso.
O povo Kalunga forma um dos maiores remanescentes quilombolas do país, mantendo sua cultura há mais de 300 anos, e protegendo a natureza. Uma troca admirável, afinal, é em torno do turismo sustentável que os Kalungas movimentam a economia local e têm a sua fonte de sobrevivência. Uma relação harmoniosa que envolve preservação ambiental, das tradições e sustento familiar.
A comunidade também guarda as cachoeiras Capivara e Candaru. Recebem turistas de todo Brasil, na verdade do mundo inteiro, em busca do turismo de experiência. Os moradores oferecem opções de pousadas, camping, hostel, restaurantes caseiros e guias para as cachoeiras. Além de protegerem os recursos naturais, orientam os visitantes pelos caminhos que levam aos atrativos.
Na comunidade do Engenho II tem um Centro de Atendimento ao Turista, com loja que promove e vende o artesanato quilombola e produtos da roça que reúnem tradição indígena, tempero africano e sabores exclusivos do Cerrado.
Em determinadas épocas do ano os visitantes têm a oportunidade de participarem de festas populares, com rituais católicos e danças africanas. Uma experiência única de imersão cultural nos costumes locais. Tanto que o espaço é reconhecido como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, pela Fundação Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura.
A verdade é que com o avanço da pandemia de Covid-19, a comunidade enfrenta um duro desafio. Afinal, a principal fonte de renda, que é o turismo, está comprometida. A Chapada dos Veadeiros está praticamente fechada para visitantes e os programas governamentais de auxílio não estão disponíveis para todos na comunidade, conforme nos relatou Minelci, proprietária de um restaurante dentro do Engenho 2.
Além do complexo problema causado pelo coronavírus, a região vive um dos capítulos mais tristes da sua história de preservação ambiental. Neste ano, cerca mil hectares de Cerrado nativo, dentro do território quilombola, em área próxima à nascente do Rio da Prata, foram destruídos por desmatamento ilegal. Sem apoio, enfraquecidos economicamente, mais uma vez a capacidade de resistência, luta e resiliência dos Kalungas é colocada à prova.
Com certeza quando tudo tudo isso passar nós queremos visitar esse lugar especial e de alguma forma colaborar com a comunidade que nos presenteia com uma recepção calorosa, compartilhando a sua tradição e suas riquezas naturais. Um povo guerreiro que vive para fazer justiça ao nome Kalunga, que significa lugar sagrado, de proteção.
Fica registrado aqui o nosso orgulho, admiração e respeito por esse povoado de grande força. Protagonistas de uma luta histórica por igualdade, sobrevivência e de proteção da natureza.
Vidas negras importam! Vida longa aos Kalungas, Chapada dos Veadeiros e ao Cerrado!
Por enquanto, se puder, #fiqueemcasa e depois #vemprocerrado.
* Foto em destaque: André Dib