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Turismo Sustentável – Tradição e Vidas negras no coração do Brasil!

E hoje, queremos mesmo é homenagear esses guardiões do paraíso…

André Perotto & Alfredo Moreira

20/06/2020 16h50

Foto: André Dib

Trezentos e cinquenta quilômetros é a distância que separa Brasília de um pedaço do paraíso na Terra. Estamos falando de uma das mais famosas cachoeiras da nossa região, a Santa Bárbara. 

As águas têm cor única, tons de azul claro e turquesa, que remetem ao Caribe. O poço de cor azul piscina é de uma perfeição que chega a emocionar. A transparência é incrível. É impossível visitá-la e não dar mergulho de lavar a alma, sem falar do banho na cachoeira, uma queda d’água de 30 metros. 

Foto: Reprodução

Essa maravilha totalmente preservada só pode receber 300 visitantes por dia. Nos dias mais cheios a permanência permitida é de apenas uma hora. Ela fica a 27km da cidade de Cavalcante, dentro da propriedade da comunidade Kalunga, terra quilombola de mais de 250 hectares até pouco tempo intocados e preservados. O acesso à Cachoeira Santa Bárbara é pelo povoado do Engenho II.

E hoje, queremos mesmo é homenagear esses guardiões do paraíso. 

O povo Kalunga forma um dos maiores remanescentes quilombolas do país, mantendo sua cultura há mais de 300 anos, e protegendo a natureza. Uma troca admirável, afinal, é em torno do turismo sustentável que os Kalungas movimentam a economia local e têm a sua fonte de sobrevivência. Uma relação harmoniosa que envolve preservação ambiental, das tradições e sustento familiar.

A comunidade também guarda as cachoeiras Capivara e Candaru. Recebem turistas de todo Brasil, na verdade do mundo inteiro, em busca do turismo de experiência.  Os moradores oferecem opções de pousadas, camping, hostel, restaurantes caseiros e guias para as cachoeiras.  Além de protegerem os recursos naturais, orientam os visitantes pelos caminhos que levam aos atrativos.

Foto: Reprodução

Na comunidade do Engenho II tem um Centro de Atendimento ao Turista, com loja que promove e vende o artesanato quilombola e produtos da roça que reúnem tradição indígena, tempero africano e sabores exclusivos do Cerrado. 

Em determinadas épocas do ano os visitantes têm a oportunidade de participarem de festas populares, com rituais católicos e danças africanas. Uma experiência única de imersão cultural nos costumes locais. Tanto que o espaço é reconhecido como Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, pela Fundação Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura.

A verdade é que com o avanço da pandemia de Covid-19, a comunidade enfrenta um duro desafio. Afinal, a principal fonte de renda, que é o turismo, está comprometida. A Chapada dos Veadeiros está praticamente fechada para visitantes e os programas governamentais de auxílio não estão disponíveis para todos na comunidade, conforme nos relatou Minelci, proprietária de um restaurante dentro do Engenho 2.

Além do complexo problema causado pelo coronavírus, a região vive um dos capítulos mais tristes da sua história de preservação ambiental. Neste ano, cerca mil hectares de Cerrado nativo, dentro do território quilombola, em área próxima à nascente do Rio da Prata, foram destruídos por desmatamento ilegal. Sem apoio, enfraquecidos economicamente, mais uma vez a capacidade de resistência, luta e resiliência dos Kalungas é colocada à prova. 

Com certeza quando tudo tudo isso passar nós queremos visitar esse lugar especial e de alguma forma colaborar com a comunidade que nos presenteia com uma recepção calorosa, compartilhando a sua tradição e suas riquezas naturais. Um povo guerreiro que vive para fazer justiça ao nome Kalunga, que significa lugar sagrado, de proteção. 

Foto: Reprodução

Fica registrado aqui o nosso orgulho, admiração e respeito por esse povoado de grande força. Protagonistas de uma luta histórica por igualdade, sobrevivência e de proteção da natureza. 

Vidas negras importam! Vida longa aos Kalungas, Chapada dos Veadeiros e ao Cerrado!

Por enquanto, se puder, #fiqueemcasa e depois #vemprocerrado.

* Foto em destaque: André Dib

 

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