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Ciência da Psicologia
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Humor ou emoção?

Estudado e debatido em diversas ciências, o humor, pelo viés da psicologia cognitiva, pode ser interpretado como uma derivação da emoção. Mas o que é emoção?

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

07/02/2023 17h12

Foto: Cottonbro Studio/Pexels/Divulgação

Alguns conceitos, apesar de terem sido apropriados pela psicologia, não são estudos apenas de seu campo. O humor e a emoção exemplos. Estudado e debatido em diversas ciências, o humor, pelo viés da psicologia cognitiva, pode ser interpretado como uma derivação da emoção.

Mas o que é emoção?

De forma abrangente e corroborando com Moors & Sherer (2013), poderia afirmar que a emoção é caracterizada por episódios curtos e não duradouros, com início e fim, demarcados e com um antecedente especificado. O humor, por sua vez, é compreendido como um estado afetivo de menor intensidade, difuso, subconsciente e duradouro e com causa antecedente não especificada (FORGAS & KOCH, 2013).

Então, o humor faz parte da emoção ou a emoção é um estado de humor? Neste momento, imagino que o amigo leitor deve estar pensando o quão simples é esta definição e o quanto estou tornando confuso um conceito que a principio já está dito no início deste texto. Mas e se considerarmos, por exemplo, a raiva?

A raiva é uma emoção que pode ser evocada quando somos insultados, injustiçados. Já o humor irritado ou irritável, por exemplo, pode simplesmente surgir, sem nenhuma causa aparente, de forma inespecífica, deixando-nos sem clareza do que está acontecendo. Assim, seria correto afirmar que as emoções são mais intensas, conscientes e de curta duração, afinal ficamos menos tempo com raiva do que irritados.

O fato de estarmos sempre intercambiando conceitos prejudica ainda mais uma definição clara entre o humor e a emoção. Por isso, autores como Terry & Lane (2011) apontam critérios que servem para nos auxiliar a diferenciar, o que na psicologia chamamos de construtos. De acordo com os autores, os construtos ‘humor’ e ‘emoção’ podem ser diferenciados pela causa, consciência da causa, consequências, controle, manipulação, duração, intensidade, intencionalidade , estabilidade e temporização.

Assim, Terry e Lane (2011) nos apontam que, em relação à emoção, o humor teria causa menos definida e, consequentemente, teríamos menos consciência desta causa, sendo mais controlável e com menos impacto cognitivo, de manifestação menos visível, com intensidade difusa apesar de mais duradoura, sem nenhuma intencionalidade aparente, com inicio e fim mais lentos e estáveis.

Outro ponto importante é que, mesmo sem haver um consenso sobre a definição de humor e sua diferença para a emoção, sabe-se atualmente que o humor influencia uma série de respostas cognitivas afetivas e comportamentais, o que nos ajuda a associar o humor a uma série de processos autorregulatórios que direcionam a maneira como pensamos, lembramos (as lembranças são afetivas) e lidamos com as informações disponíveis. Tal associação faz com que o humor seja um dos construtos mais aferidos na avaliação psicológica, uma vez que informa sobre o bem-estar geral de uma pessoa, tornando-se um importante indicador da maneira com a qual a pessoa está lidando com seus problemas e circunstâncias do dia a dia.

E mesmo sendo de causa menos definida e tendo menos consciência desta causa, nós psicólogos conseguimos “coletar” dados por meio da avaliação psicológica e/ou neuropsicológica, do estado de humor de um paciente, para que possamos estruturar uma sessão e/ou tratamento adequado. No meu ensaio a respeito da psicologia do esporte, abordo o quanto o psicólogo é importante na vida de um atleta de alta performance, afinal, pode-se medir o estado de humor deste atleta e consequentemente direcionar seus treinos visando menor prejuízo, usando, para isso, medidas fisiológicas como batimento cardíaco, pressão arterial, taxa respiratória, movimentos oculares etc.

Desta forma, antes de pensarmos quem nasceu primeiro, o humor ou a emoção, é importante lembrar que somos seres autopoiéticos, ou seja, tanto influenciamos como somos influenciados pelo ambiente. Por falar nisso, percebo que o amigo leitor está de bom humor hoje. Ou estaria apenas menos irritável?

Até a próxima!

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