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Ciência da Psicologia
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Falhas em psicotécnicos expõem disputados concursos públicos

Erros graves cometidos por bancas responsáveis pelos certames eliminam candidatos aptos, como no caso recente concurso da PMDF.

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

09/04/2024 13h58

Mais uma suspensão de concurso público

Nesta semana, compartilho aqui na coluna um alerta que é ao mesmo tempo um desabafo e uma denúncia ao Conselho Federal de Psicologia, ao Conselho Regional de Psicologia (CRP 01 Brasília), à Polícia Militar de Brasília e à Procuradoria do Distrito Federal.

Não é a primeira vez que escrevo sobre as falhas graves cometidas pelas empresas e institutos encarregados da aplicação e correção dos testes psicológicos em concursos públicos. Em 2022, um candidato ao concurso da Polícia Federal viu-se obrigado a contratar um advogado, apesar de eu, como seu psicólogo, ter apresentado à entidade responsável pela avaliação psicológica do certame provas inequívocas de seu erro técnico (erro de correção).

O recurso que submetemos foi negado, mesmo após meus esforços pessoais em ir à sede da entidade, enviar emails e contatar a responsável pela banca na época. Ocorre que o erro FOI DE CORREÇÃO da própria entidade. Isso mesmo que vocês estão lendo. A entidade responsável, na época, pela avaliação psicológica ERROU na correção de um dos testes, o que resultou na ELIMINAÇÃO do candidato na última fase do processo.

Esse candidato, que já estava nas últimas semanas de seu treinamento na academia, teve de recorrer à contratação de um advogado para buscar, por meio do Judiciário, o retorno ao processo de formação.
Além do erro gritante, a entidade responsável IGNOROU os diversos emails e o recurso que apresentei como psicólogo do candidato. Isso me fez questionar: qual o valor do meu título de especialista em avaliação psicológica se nem mesmo nossos colegas nos respeitam?

Já em 2023, ocorreu outra aberração no mundo dos psicotécnicos; desta vez, no edital para Agente Penitenciário do Distrito Federal (Polícia Penitenciária), no qual a entidade responsável também errou grotescamente, alterando o conceito de altivez que, de acordo com o manual do teste utilizado (BFP), é definida como um fator composto por itens que descrevem pessoas com uma percepção grandiosa sobre sua capacidade e o seu valor. Ainda citando o manual, indivíduos com altos escores nesta escala (como é o caso do certame que exigiu percentil igual ou maior que 30) relatam a necessidade de receber atenção das pessoas, a crença de que os demais a sua volta o invejam, bem como apresentam pré-disposição de falar de si.

No entanto, a banca responsável por este certame classificou, por conta própria, altivez como sendo resistência à frustração, contradizendo o próprio manual do teste, fazendo com que diversos candidatos fossem reprovados e tivessem seus recursos recusados, mesmo depois de apresentados, por diversos psicólogos, recursos apontando esse erro grosseiro.

Recentemente – para ser mais exato, no último domingo de Páscoa, 31 de março de 2024 –, tivemos mais um absurdo cometido em avaliações psicológicas para concursos públicos. Desta vez, no edital 04/2023-DGP/PMDF – concurso público para PMDF, no qual a banca responsável pelo certame, a mesma da Polícia Penitenciária, mais uma vez, cometeu uma falha grosseira, ao errar a correção das facetas e de um domínio do teste NEOPI-R. Além disso, a banca NÃO APRESENTOU AOS CANDIDATOS OU AOS SEUS PSICÓLOGOS A TABELA UTILIZADA PARA CORREÇÃO E CONVERSÃO DOS VALORES APRESENTADOS.

Para facilitar a compreensão, é como se você tivesse feito uma prova muito importante e o professor a devolvesse da mesma forma que estava, sem nenhum tipo de correção ou anotação, e apenas informasse que estava reprovado.

Isso mesmo, você não leu errado. A banca entregou o laudo do candidato informando que ele estava reprovado sem apresentar a tabela que foi utilizada para conversão e correção dos valores.

Pode isso, Arnaldo? A regra não é clara?

Concursando direito: Investimentos e Concursos Públicos
Foto: Banco de Imagens

Nesse caso da PMDF, os candidatos ainda não receberam os resultados de seus recursos. Ou seja, ainda resta esperança de que a banca reconheça seu erro. Mas não posso deixar de registrar que enviei email informando o erro técnico de correção ao instituto responsável, e claro não obtive resposta.
Até quando teremos de passar por estas situações?

Entendo que tanto o conselho regional como o federal tem diversas atividades, mas é preciso um posicionamento, em especial, em defesa da categoria, afinal, como já abordei, de que vale meu título se não sou validado e/ou apoiado nem por meus pares em situações como essas?

E para piorar a situação, nunca é demais lembrarmos as recentes tragédias envolvendo os soldados da Polícia Militar do Distrito Federal. E mesmo com todas elas, não vi nenhum posicionamento da corporação a esse respeito. Será que existe alguém cuidando do concurso?

Já imaginaram o que um erro como esse pode causar? Afinal, a falha grave foi na correção de testes de personalidade, o ponto mais frágil, atualmente, na corporação. Se houve um erro por parte da banca na correção e conversão dos valores, que resultou na reprovação de candidatos que atendiam ao perfil definido pela PMDF, será que não ocorreu o contrário? Pessoas não aptas foram aprovadas?

Mas nem tudo é culpa das bancas, ainda temos diversos candidatos que pagam a inescrupulosas pessoas, inclusive psicólogos, para “ensinarem” os testes, na intenção de terem mais chances de aprovação.

Essa situação dos candidatos pagando para aprender os testes psicológicos, além de bizarra, ultrapassa, ao meu entender, todos os limites da ética e da honestidade, isso porque são candidatos a cargos de agentes policiais.

Já com relação aos que “ensinam”, no mínimo, mereciam cadeia, pois colocam em risco a vida da população, possibilitando que pessoas com a dinâmica da personalidade não apropriada à função entrem para as corporações e portem armas.

Espero que a coluna de hoje chegue às autoridades competentes, ao coronel da Polícia Militar do DF, ao governador, ao Conselho Federal de Psicologia, ao Conselho Regional de Psicologia, à Procuradoria do DF; e quem sabe também a OAB possa se juntar nesta batalha contra as aberrações cometidas pelas bancas responsáveis pelos exames psicotécnicos nos concursos públicos.

Com relação aos conselhos, terei prazer em ajudar no que for possível para acabarmos de uma vez por todas com o amadorismo em nossa profissão.

Até a próxima…

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