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Ciência da Psicologia
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Faculdade de psicologia na modalidade EAD no Brasil? Só pode ser piada

Por questões históricas sociais, o Brasil ainda fornece uma formação defasada da psicologia, na maioria das universidade

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

13/06/2023 12h25

Foto: Agência Brasil

Falamos do futuro, mas vivemos no passado. Nossas salas de aula ainda hoje funcionam no modelo cartesiano linear, que, por sua vez, é estrutural e baseia-se no modelo de um estudo dos componentes separados em sua própria identificação, onde muitas vezes o aluno é um número e não um ser a frente de sua própria vida.

Ainda assim, queremos introduzir a EAD em nossas faculdades como algo natural. Por questões históricas sociais (que não vou tratar aqui), o Brasil ainda fornece uma formação defasada da psicologia, na maioria das universidades, publicas ou privadas, com uma base psicanalítica, vendo o ser muito mais como psicossocial do que biopsicossocial como o resto do mundo.

Apesar do comentário a respeito da base psicanalítica, deixo claro que não tenho nada contra a psicanálise, muito pelo contrário, considero a base de nossa ciência. E mesmo que alguns “fanáticos da psicologia baseada em evidências” retirem a psicanálise das prateleiras da ciência, não podem jamais classificá-la como pseudo ciência.

Já começamos errado ao nos referimos a métodos pedagógicos nas faculdades, quando, na verdade, deveríamos focar nos métodos andragógicos e na EAD nos Heutagogicos. Assim, nossa formação presencial ainda carece de muita revisão antes de querer adentrar ao mundo da EAD, como exposto no início desta coluna, afinal antes de começarmos a correr, devemos aprender a andar.

Atualmente, os modelos existentes são mais do que ultrapassado. As universidades chamam de EAD a colocação de conteúdo em PDF e a gravação um vídeo de 5 minutos do professor explicando de forma medíocre o conteúdo do documento.

Lamento, mas não só como psicólogo, mas acima de tudo como ex-diretor da Secretaria de Educação à Distância do Ministério da Educação, não posso deixar de criticar a maioria dos modelos existentes de “EAD” oferecidos pelas universidades brasileiras.

Um simples passeio pelo Museu de História Natural de Nova York é melhor do que muitas formações no Brasil, e digo isso pelo modelo de interação existente no museu e nem tanto pela qualidade do ensino no Brasil (que também é lamentável).

Se partirmos para adoção da EAD, é preciso repensar as práticas atuais, e com isso, não digo aumentar os custos e sim, utilizamos não só da tecnologia, mas, acima de tudo, do lúdico na aprendizagem.

Neste sentido, lembro que Comenius em sua obra Didática Magna – desde 1600 já colocava a importância do lúdico para reforçar o ensino. “Otro aporte de gran importancia, con una de sus obras es la inclusión de ilustraciones para enseñar y la utilización del teatro y la interpretación teatral como un instrumento importante de motivación y estimulación del aprendizaje”

Vivemos o momento de dualidade, onde mesmos os conservadores defendem mudanças e usos de tecnologia como sendo a saída para nossos problemas educacionais, no entanto, o que vemos é uma constante proposta de mudanças de meios e não de métodos.

Desejamos um futuro, que não se apresenta viável no presente, ou você viajaria com um piloto de avião que se formou na modalidade EAD, ou faria uma cirurgia com um médico formado a distância? Não seria o momento de investirmos mais em pesquisa para depois pensarmos na EAD?

Afinal, “Não existe ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino”. E como bem coloca Jostein Gaarder, em seu livro EI! Tem alguém ai? (Editora companhia das letrinhas – 1997). “Ao pesquisar, o aluno busca uma resposta. No entanto, a resposta é sempre um trecho do caminho que esta atrás de você.”

Só uma boa pergunta, digna dos pesquisadores pode apontar o caminho para frente.

Até a próxima.

*Demerval Guilarducci Bruzzi – CRP 01/21380

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