O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurológica complexa que afeta o desenvolvimento social, comportamental e comunicacional. O termo “espectro” reflete a ampla gama de manifestações e gravidades do autismo, tornando cada caso único em suas características e desafios. Embora o diagnóstico de TEA tenha se tornado mais comum nas últimas décadas, ainda há uma significativa falta de compreensão sobre o que realmente significa viver com autismo e como a sociedade pode melhor apoiar essas pessoas.
O autismo é marcado por dificuldades na comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. No entanto, a maneira como essas características se manifestam varia amplamente entre os indivíduos, por exemplo:
Comunicação Social
Pessoas com autismo podem ter dificuldade em entender e utilizar a linguagem verbal e não verbal. Isso pode incluir desafios na interpretação de expressões faciais e gestos, e no desenvolvimento de habilidades de conversa. Alguns indivíduos podem ser não verbais, enquanto outros possuem uma linguagem altamente desenvolvida, mas enfrentam dificuldades em manter o fluxo natural de uma conversa.
Comportamentos Repetitivos e Interesses Restritos
Indivíduos com TEA frequentemente exibem comportamentos repetitivos, como balançar o corpo, repetir palavras ou frases, ou fixar-se em interesses específicos. Essas ações, muitas vezes, são uma maneira de lidar com o estresse ou uma forma de autoestimulação.
Sensibilidade Sensorial
Muitas pessoas com autismo são extremamente sensíveis a estímulos sensoriais, o que as tornam altamente reativas a sons, luzes, texturas ou cheiros. Isso pode levar a desconforto ou à sobrecarga sensorial, impactar no comportamento e na capacidade de se adaptar a diferentes ambientes.
O diagnóstico de TEA é baseado na observação dos comportamentos e no desenvolvimento das habilidades sociais e comunicacionais. Geralmente, os sinais de autismo aparecem nos primeiros anos de vida, mas o diagnóstico pode ocorrer em qualquer idade. Uma avaliação completa deve envolver uma equipe multidisciplinar, incluindo pediatras, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais.
Diagnósticos e protocolos: a necessidade de rigor
E aqui começa o problema que, atualmente, tenho percebido. Alguns pacientes relatam sobre diagnósticos rápidos, obtidos em uma única consulta com psiquiatra ou em apensas duas ou três sessões com psicólogos sem especialização alguma em neuropsicologia.
Esse cenário aponta para a necessidade urgente de protocolos mais rigorosos, com a união e colaboração do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Federal de Psicologia, para garantir avaliações completas e embasadas que envolvam uma ampla análise neuropsicológica que deve ser corroborada por um neurologista, já que se trata de um transtorno do neurodesenvolvimento ou vice-versa.
Um segundo ponto muito importante e que merece um profundo acompanhamento por parte das autoridades competentes é a emissão de laudos apenas para atender à Lei 12.764/2012, ou seja, tanto médicos, como psicólogos com ou sem especialização em psicologia, sem a devida avaliação, têm realizado diagnósticos e emitido laudos de autismo no intuito de favorecer a pessoa “laudada” a receber os benefícios legais como PCD, dentre eles cota PCD para empresas e concursos públicos.
A falta de profissionalismo, ou colocando de forma mais clara, a ilegalidade desses processos pode mais prejudicar que ajudar. Afinal, se começarmos a ter um volume considerável de pessoas com laudos questionáveis, teremos um descrédito em relação à condição do autista, o que pode resultar em uma desvalorização das leis específicas para o autismo – leis 13.146/2015, 13.977/2020, 9.265/1996 e 8.742/1993 –, prejudicando quem realmente se enquadra nesse espectro e precisa desse amparo.
Intervenções precoces
As intervenções precoces são essenciais para ajudar crianças com autismo a desenvolver habilidades sociais, comunicacionais e adaptativas. Terapias como Análise do Comportamento Aplicada (ABA), terapia ocupacional e fonoaudiologia são frequentemente utilizadas para apoiar o desenvolvimento e a independência dessas crianças, maximizando a qualidade de vida.
Por isso a conscientização sobre o autismo é fundamental para a inclusão social. Indivíduos com TEA enfrentam desafios significativos, mas, com o apoio adequado, podem levar vidas plenas e produtivas. A verdadeira inclusão vai além de se adaptar a ambientes físicos; é necessário também promover uma cultura de aceitação e compreensão. Isso envolve a educação da sociedade sobre as realidades do autismo para reduzir o estigma e criar espaços mais acolhedores, desde escolas adaptadas até locais de trabalho inclusivos, além de suporte da comunidade para famílias que convivem com o TEA.
Da mesma forma, a lei deve prever a real necessidade de pessoas dentro do espectro serem enquadradas como autistas já que são totalmente funcionais. Nesse sentido, as autoridades competentes têm uma grande responsabilidade, afinal não é tão simples determinar o “limite” do sofrimento, diferentemente da funcionalidade para ser ou não enquadrado como PCD.
O valor da inclusão
O autismo é uma condição complexa e multifacetada que exige uma abordagem compreensiva e individualizada. À medida que a sociedade se torna mais consciente e inclusiva, as pessoas com autismo poderão encontrar mais oportunidades para participar plenamente da vida social e profissional. A verdadeira inclusão começa com a compreensão e o respeito pelas diferenças, reconhecendo que cada indivíduo, autista ou não, tem um valor e um potencial únicos.
Até a próxima!