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Ciência da Psicologia
Ciência da Psicologia

A importância do psicólogo no esporte

Diversas são as contribuições da Psicologia no esporte. É possível observar, nas mais diversas modalidades esportivas, que um dos pontos cruciais no esporte é a dificuldade de controle de estresse por parte do esportista. No texto de hoje, vamos entender de que maneira o psicólogo pode ajudar

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

24/01/2023 19h07

Como se não bastasse o ocorrido durante os Jogos Olímpicos de Tóquio com a ginasta Simone Biles, tivemos, recentemente, na Copa do Mundo, um dos piores exemplos que um técnico poderia dar aos seus atletas e aos milhões de espectadores. Me refiro ao Tite, agora ex-técnico da Seleção Brasileira de Futebol, que abandonou seus jogadores em campo ao final da partida contra a Croácia, onde fomos eliminados da Copa do Mundo.

Vale lembrar que este mesmo técnico não permitiu que a seleção tivesse um profissional da Psicologia, alegando que ele mesmo seria o psicólogo de seus atletas durante o campeonato mundial.

Exemplos como estes estão espalhados por todas as esferas da sociedade. Infelizmente, ainda se confunde o psicólogo como um conselheiro, ou pior, como um coach.

Diversas são as contribuições do psicólogo e da Psicologia no esporte. Vai desde a questão da motivação e das emoções, passando pela carreira esportiva, percepção subjetiva do esforço, percepção da competência, suporte parental, indo até mesmo à questão da imagem corporal, afinal tem-se em mente que atleta possui por natureza o corpo de David (escultura de Michelangelo).

É possível observar, nas mais diversas modalidades esportivas, que um dos pontos cruciais no esporte é a dificuldade de controle de estresse por parte do esportista. Obviamente, atletas de alto desempenho convivem com pressão. É por isso que o apoio de um
psicólogo pode ajudá-los na identificação das principais situações geradoras do estresse, antes, durante e depois das competições, afinal, engana-se quem pensa que o nervosismo e a irritação ocorrem apenas durante as partidas. Assim, a tomada de consciência é fundamental para que se obtenha o necessário domínio da situação a fim de alcançar seu potencial pleno, pois é por meio da dela que o atleta reconhece seus pontos fortes e frágeis, podendo potencializar suas capacidades e minimizar, com pequenos ajustes, os déficits apresentados.

E como o estresse funciona em nosso cérebro?

O estresse é uma reação do organismo causada por alterações psicológicas e fisiológicas que provocam comportamentos físicos e psicológicos. No âmbito do esporte, ocorre quando o esportista está diante de situações que, de algum modo, provocam irritação,
medo, excitação, confusão ou mesmo felicidade. Considerando que um atleta não vive mais à mercê da luta ou da fuga como nossos antepassados, situações gerais que possam vir a provocar duvidas ou que exijam mudanças, drásticas ou não, vão exigir do atleta um reposicionamento de sua ação e/ou pensamento a fim de obter uma conduta favorável ao atingimento de seu objetivo.

Um ponto que merece destaque e que torna evidente o trabalho entre o psicólogo e o desportista é a positividade do estresse. Ao contrário do que se pode pensar, a inquietação também pode ser positiva para o atleta, afinal faz parte da vida e, guardadas as devidas proporções, é necessária para manutenção e aperfeiçoamento da capacidade funcional, da autopreservação e, acima de tudo, dos próprios limites do praticante de esporte.

O estresse, quando negativo, é classificado como distress; quando positivo, age de forma protetora e é denominado eustress.

Um segundo ponto de destaque é o trabalho do psicólogo por meio de uma avaliação psicológica ou neuropsicológica. A forma como o individuo vai avaliar as situações e estímulos é que vai determinar sua própria resposta a eles. A resposta a estas questões, por sua vez, resulta da forma como o individuo interage às questões relacionadas ao meio, ao ambiente e às suas características pessoais. Desta forma, uma boa avaliação permite ao psicólogo a cognição e a personalidade do atleta, e, com isso, conduzi-lo ao despertar de sua consciência a respeito da necessidade de um processamento cognitivo mais adaptativo à realidade, de forma a buscar as soluções mais adequadas, selecionando as melhores condutas e preparando, na maioria das vezes, o organismo para agir e/ou reagir de forma rápida e vigorosa.

O papel do psicólogo é fazer com que o atleta desenvolva uma adequada estratégia de coping, ou seja, direcionamento de esforços cognitivos e comportamentais. Isso vai minimizar a importância de um perigo e ampliar a capacidade de tolerar situações física e mentalmente desagradáveis.

O terceiro ponto relevante a ser citado é a diferença entre estilo e estratégia de coping, uma vez que os estilos estão mais relacionados a personalidade do atleta, e as estratégias, à cognição e/ou ao comportamento adquirido em um evento estressor. Assim, as estratégias estão ligadas a fatores situacionais que podem variar a cada momento durante as diversas etapas de um momento de estresse, tendo inclusive o suporte social como base para superação necessária.

Fazer um acompanhamento com um psicólogo esportivo, aliado à avaliação da cognição e dinâmica da personalidade, pode ser o grande diferencial entre a vitória ou derrota de um jogador ou uma equipe. E no caso de derrota, o trabalho de apoio e condução da conscientização da situação, avaliando erros e acertos, como base para o futuro, ativando o sistema de coping de cada atleta e respeitando a individualidade dentro da coletividade, economiza tempo e dinheiro para os times e patrocinadores, já que para um atlesportista eta de alto desempenho, independentemente da vitória ou derrota, o amanhã sempre guarda um novo desafio.

O quarto ponto de destaque é a preparação para o fim, afinal todo atleta um dia se aposenta. Aqueles que recebem o devido tratamento, com correto acompanhamento de um psicólogo, conseguem fazer a transição sem depressões emergentes e/ou retornos nem sempre gloriosos. A volta aos gramados, por exemplo, pode ser muito mais aversivo do que pendurar as chuteiras.

Em Brasília temos um excelente exemplo de parceria entre a psicologia e o esporte com o Centro de Excelência de Saltos Ornamentais, localizado na Universidade de Brasília (UnB). O Programa Saltos Brasil conta atualmente com uma das melhores psicólogas do esporte atuando no Brasil, a Paloma Vaz de Mello Moreira, que, em conjunto com os técnicos Hugo Parise, Ricardo de Lima Moreira, Gabriel Rodrigues Serra e Érica Cristiane Moraes Duarte, vem construindo um trabalho sólido e com resultados expressivos no esporte, alcançando conquistas como participação em final olímpica, conquista de campeonato mundial, sul-americano, entre outras.

Um grande destaque desta parceria, além de todo o suporte psicoológico é a avaliação neuropsicológica de todos os atletas. A ideia é facilitar o aperfeiçoamento e conscientização dos esportistas envolvidos no projeto e de suas cognições e personalidades, facilitando assim a compreensão do como falar, do quando falar, o que corrigir, o que elogiar e onde modificar a metodologia adotada no treinamento, afinal cada um apresenta uma característica própria, singular – tratar indivíduos de maneira idêntica, do ponto de vista cognitivo e da dinâmica da personalidade, é um erro que se evita no projeto.

Não seria justo abordar o assunto sem reconhecer o árduo trabalho dos técnicos na montagem dos treinamentos, transmissão apropriada das técnicas e apoio ao seus atletas, que por sua vez, também têm grande parcela neste empreendimento de sucesso, chegando a treinar até oito horas por dia, chova ou faça sol.

Para saber um pouco mais a respeito da psicologia no esporte, aconselho a leitura do livro Psicologia do Esporte, dos autores Leonardo de Sousa Fortes e Lenamar Fiorese, editora Ampla.

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