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O beco sem saída que levará Tarcísio de Freitas à candidatura presidencial

Já se fala, em Brasília, que sua campanha serviria não apenas como projeto de poder, mas como instrumento para libertar o ex-presidente

Vladimir Porfírio

10/09/2025 5h00

Foto: Agência Brasil

O governador Tarcísio de Freitas será candidato à Presidência da República em 2026. Mas será pela absoluta falta de alternativa.

Até pouco tempo, ele trabalhava com a perspectiva confortável de disputar a reeleição em São Paulo. O cenário mudou quando percebeu que, ao buscar um segundo mandato pelo Republicanos, correria o risco de ser deserdado por seu padrinho político.

Entre a cruz e a caldeirinha, Tarcísio não terá escolha, além da opção de recolher a viola. Ou aceita a coroa de candidato a presidente, transformando-se na “tábua de salvação”, enfrentando Lula em 2026, ou será dilacerado pelo clã Bolsonaro. A ameaça é explícita e foi transmitida em toda sua extensão por um mensageiro qualificado.

O dilema é amargo. Tarcísio vai para o sacrifício, na medida em que tornou-se a única via possível para manter viva a esperança de um indulto a Bolsonaro, após a consumação de sua prisão na Ação Penal da tentativa de golpe.

Já se fala, em Brasília, que sua campanha serviria não apenas como projeto de poder, mas como instrumento para libertar o ex-presidente, cuja hospedagem carcerária só seria interrompida pelo agravamento do estado de saúde do hóspede.

Tarcísio, antes discreto e calculista, mudou de tom. Na manifestação de 7 de setembro, atacou o ministro Alexandre de Moraes, chamando-o de tirano. A guinada foi resultado direto da pressão da família Bolsonaro. Na real, sem jogar o jogo de Bolsonaro, Tarcísio não sobreviveria nem em São Paulo. Para não deixar dúvidas, Eduardo e Carlos Bolsonaro reforçaram a ameaça em declarações públicas nas redes sociais.

Não se trata apenas de um estilo, já conhecido, de linguagem chula nas conversas entre pai e filhos, reveladas pela Polícia Federal. O clã não tem outra saída, depois do fracasso da tentativa de chantagem com o tarifaço dos EUA, para livrar Bolsonaro da Ação Penal no STF.

Nada disso nasceu no Palácio dos Bandeirantes por obra de algum Rasputin de gabinete. A operação, segundo fontes próximas a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, foi gestada em Brasília. Especialista em engenharia eleitoral, Valdemar admitiu a um interlocutor que precisa de Tarcísio fora o Republicanos e filiado ao PL, garantindo que os votos presidenciais reforcem a chapa de deputados e senadores da sigla 22. Assim, Tarcísio, uma vez eleito, liberta Bolsonaro e ajuda a formar uma super bancada no Senado. Capaz até de sustentar pedidos de impeachment contra ministros do Supremo. Tarcísio, até agora, resiste, pela mesma razão que o fez evitar o PL no passado.

O movimento também atinge o PSD de Gilberto Kassab, que estaria projetando ser vice de Tarcísio na reeleição de 2026. É voz corrente na assembleia legislativa de São Paulo que ele preparava o terreno para disputar o governo paulista em 2030 — à semelhança de sua ascensão à Prefeitura de São Paulo, quando herdou o cargo de José Serra. Se a pressão bolsonarista prevalecer, contudo, será Ramuth, vice indicado pelo PSD, quem assumirá o governo paulista em abril.

A mudança de atitude do governador paulista — que já incluiu no vocabulário o compromisso com o indulto de Bolsonaro — serve ao propósito de garantir futuro político ancorado nos votos do bolsonarismo, que agora, em segredo, admite ter Michele Bolsonaro na chapa presidencial.

Mesmo diante da chance real de derrota em 2026, Tarcísio indica que atenderá à demanda do clã Bolsonaro. Melhor arriscar-se no tabuleiro nacional do que sofrer a derrota certa em São Paulo, carregando a pecha de traidor.

O governador, que cultivava imagem de moderação, ao fim e ao cabo, aderiu ao discurso mais radical em defesa da anistia a Bolsonaro e em ataque ao Supremo. Tarcísio só não imaginava que sua incontinência verbal no 7 de setembro teria resposta imediata, horas depois, na firme manifestação do ministro Gilmar Mendes, que, neste ponto, pôs todos os pingos nos is.

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