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Analice Nicolau
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Professor de oratória, Carlinhos Faria conta que a habilidade de comunicação é essencial para quem quer ingressar e se manter no mercado de trabalho

O mineiro que superou a infância humilde e sem grandes expectativas do interior, hoje em dia é referência quando o assunto é curso de oratória e liderança no Sul de Minas Gerais.

Analice Nicolau

12/08/2023 11h00

Atualizada 11/08/2023 19h36

Carlinhos Faria é referência quando o assunto é curso de oratória e liderança no Sul de Minas Gerais. Créditos: Instagram

Carlinhos Faria nasceu em São Gonçalo do Sapucaí, município de Minas Gerais e foi criado em Turvolândia, cidade do interior mineiro. O são-gonçalense teve uma infância muito tranquila e simples, brincava de futebol na rua e nadava em rios. Quando ele tinha de 13 para 14 anos ele começou a praticar capoeira e após três anos, ele começou a dar aulas do esporte.

O mineiro estudou em escola pública e não era um aluno introvertido, mas também nunca teve facilidade de ser expressar em público. Durante as aulas de capoeira que ministrava, ele esporadicamente até falava com os seus alunos, mas nem muita noção de como fazia aquilo. Durante todo seu período escolar, Carlinhos nunca teve muita pretensão de fazer faculdade, como morava em uma zona rural, as pessoas de lá normalmente não almejavam fazer uma graduação, o máximo que ele cogitou foi cursar Educação Física, por causa da capoeira, mas foi pensamento passageiro.

Na juventude, Carlinhos teve problemas com álcool e maconha, o uso desses entorpecentes na adolescência fez com que ele perdesse um semestre do ano letivo. Ele se formou no ensino médio aos 18 anos e continuou a dar aulas de capoeira. Aos 21 anos, deixou de lado o esporte e começou a trabalhar como servente de pedreiro ou na roça. No ano de 2003, o são-gonçalense estava com 23 anos e durante uma quaresma na qual ele se encontrava completamente embriagado, em um determinado domingo ele criou coragem de ir até uma missa, após anos sem frequentar o culto católico. “A única coisa que eu me recordo é do padre cantando o Pai Nosso, é a única memória que eu tenho, porque eu estava muito bêbado mesmo, até encostava na porta, meus alunos perguntando o que eu tinha ido fazer na igreja. Eles participavam de missa, eu não participava de nada”, relembra o mineiro.

No dia seguinte, o jovem acordou às 5 horas da manhã com vontade de assistir aquela missa que na quaresma é muito comum, a missa da penitência. Ele acompanhou o ato litúrgico, mas foi muito rápido, durou cerca de 15 minutos a 20 minutos. Como Carlinhos se sentiu insatisfeito, ao chegar em sua casa, mesmo sem ter muita noção de como rezar, ele foi até o paiol da casa do seu avô que era onde guardavam o milho, ele pegou algumas espigas, debulhou o grão em um saquinho, contou 100 caroços de milho e procurou um lugar descampado. Nesse lugar, ele encontrou um vale, que é um espaço onde ficam buracos no chão porque nasceram árvores. “O fato é que nesse lugar, eu comecei a rezar o Pai Nosso e a Ave Maria, o que eu sabia, a minha Ave Maria tinha alguns erros também na estrutura dela, mas eu passei um tempo rezando 100 Pai Nosso e 100 Ave Maria. Terminou isso aí, eu simplesmente me convenci que eu ia fazer isso todos os dias em uma igrejinha que tinha na cidade”, recorda o são-gonçalense.

Para ter algum tipo de orientação, Carlinhos foi até a casa de sua avó e pegou um livrinho que ensinava como rezar o terço. Após dar sua aula de capoeira, ele deixou o berimbau, o atabaque e pandeiro do lado de fora da igrejinha, se despediu de seus alunos, entrou na capela e começou a rezar. Quando o são-gonçalense terminou suas orações, a igrejinha estava cheia, uma menina se levantou e foi até a ele, ofereceu uma bíblia e pediu para que ele explicasse aos demais que estavam no recinto. “Eu lembro que eu peguei aquela bíblia na mão, eu li um texto que eu não lembro qual era, eu fiz uma explicação lá de uns 15 minutos, também não lembro o que é. Depois desse dia eu me encontrei, eu tomei gosto para estudar, comecei a estudar bastante, a ler bíblia, eu comecei a fazer pregações nas casas das pessoas, para partilhar a palavra. Eu fiz isso de 2003 até 2011, logo eu peguei uma habilidade razoável de comunicação no tête-à-tête da experiência”, conta o mineiro.

Paralelamente, em 2007 para 2008, Carlinhos iniciou o seu contato com livros que trabalhavam os conceitos de liderança e oratória. Foi nessa época que ele conheceu livros como “O monge e o executivo: Uma história sobre a essência da liderança” de James Hunter, também conheceu livros do Reinaldo Polito, um grande professor e escritor de oratória. O mineiro juntou prática que adquiriu em anos de pregação com técnicas encontradas nos livros e começou a ministrar na própria igreja cursos de pregação, nos quais ele ensinava como preparar um discurso, de qual jeito tirar a mensagem de algum texto, como convencer as pessoas, de qual modo enfatizar as palavras, tonalidade de voz, expressão corporal. “Em 2012, eu vim para cidade de Congonhal para dar o curso de bíblia e teologia, o grupo de jovens daqui já eram mais maduros, já tinham feito graduação ou pós-graduação e eles queriam fazer um curso de oratória, foi aí que eu comecei a dar aula de oratória e liderança para eles. Depois dessa experiência, eu continuei a dar aulas de teologia em outros lugares e também a aplicar cursos liderança e oratória”, lembra o professor.

Em 2018, Carlinhos ministrou um curso de oratória em Congonhal que durou 9 meses, foi um curso mais longo, mas como ele sempre partiu do princípio que para se ter uma boa comunicação é fundamental que haja conteúdo, durante essa formação ele incentivava o estudo, a leitura de capítulo, o resumo, a avaliação, também a escrita para ordenar as ideias. Já em 2019, um pouco antes do início da pandemia da Covid-19, o mineiro foi para a cidade vizinha, Pouso Alegre e lá ele iniciou um curso oratória voltado pra empresários. Além dos empresários, esse curso tinha como alunos advogados e professores, era um grupo mais seleto. Desde a criação desse curso, a cidade de Pouso Alegre recebe pelo menos dois cursos presenciais de oratória e dois cursos presencias de liderança anualmente. Mas o professor enfatiza que as habilidades de comunicação que são ensinadas em seus cursos são para todas as pessoas, independentemente do grau de instrução. “Hoje eu considero a oratória como uma ferramenta fundamental para inserção e subsistência do mercado de trabalho. No meu ponto de vista uma pessoa que não consegue se comunicar bem, dificilmente vai conseguir se manter no mercado de trabalho”, explica ele.

Após a experiência na igreja que foi essencial para o despertar intelectual de Carlinhos, ele fez a licenciatura em Pedagogia, após dois anos o bacharelado em Teologia, e na sequência uma especialização em filosofia, sociologia e ciência da religião. Também cursou formações de linguística e inteligência emocional. Além disso, ele possui uma biblioteca com mil títulos, que é onde ele faz suas pesquisas, produz seus artigos e lê sobre os mais variados assuntos, desde filosofia, passando por neurociência até mesmo física quântica. Apesar de toda a sua bagagem de vida e acadêmica, ele se considera um curioso que gosta de estudar. Atualmente, o são-gonçalense trabalha como professor de religião no colégio São José, em Pouso Alegre, presta serviço de assessoria parlamentar para políticos e ministra cursos tanto de oratória, como de liderança na cidade de Congonhal e região.

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