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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Rafael Soul: protagonista nos palcos e na vida de muitos movimentos sociais

Artista também atua no campo de desenvolvimento pessoal, como terapeuta – uma forma de colaborar para o desenvolvimento de jovens na sociedade

Thaty Nardelli

17/02/2023 10h27

Foto: arquivo pessoal

Homem preto, cis, que sabe viver a oportunidade de ser “quem nós podemos em conexão com a terra”. Criativo, amoroso e exagerado… diretor, educador social, ator e produtor cultural, além de um grande pesquisador das artes. Fora dos palcos, Rafael Soul, 39 anos, também atua no campo de desenvolvimento pessoal, como terapeuta – uma forma de colaborar para o desenvolvimento de jovens na sociedade. No meio de tantas atividades exercidas, ele ainda carrega o sonho de ter “um centro de formação artísticas para pessoas pretas”.

Me fala um pouco da sua infância, adolescência, até, realmente, conseguir definir qual carreira queria seguir…

Eu não tive uma infância com muito acesso a áreas artísticas culturais presenciais, essa parte ficou muito por conta da escola. A arte em que eu mais tive acesso foi quando ia ao cinema. Com a arte da atuação foi mais vendo filmes e novelas, além de apresentações no Ensino Fundamental. Dentre elas, lembro de uma sobre o meio ambiente em que eu fui vestido com um tanto de cor preta para interpretar a poluição.

Já na fase mais adolescente, eu fazia parte de um grupo jovem em uma igreja e com a encenação da Via Sacra, comecei a ter um contato mais frequente, mas nada pensado como arte, era mais pelo viés religioso. Na escola eu tive a primeira experiência de estar no papel de “ensaiador da turma”. Foi esse o nome que o professor usou ao me escolher para fazer os ensaios no período da tarde. E, nesse processo, eu também operei a luz. Acho que dali começou meu interesse pela direção, assim como pela a atuação. Mas nada disso profissional ainda.

Foi só na faculdade de Educação Física, em que após uma apresentação de um trabalho em grupo, em que eu dirigi para fazer uma “pecinha com o tema da história da dança”, que ouvi de uma professora que estava na profissão errada. (risos) Nesse dia, saí pensativo e fui parar no Festival de Cinema de Brasília. Fui todos os dias e, meses depois, eu estava fazendo vestibular para artes cênicas. Ai sim, fui aprendendo, desenvolvendo e aprimorando dentro das Artes.

Você tem um currículo vasto, experiente… Além de dirigir e atuar, também ensina. Como consegue diferenciar tudo?

Acho que a maior diferença está nos momentos particulares que cada uma das áreas possuem. Atuando, eu uso meu corpo pra viver uma vida que não é minha. Eu posso ser tudo, sentir e viver cada emoção para que alguém que esteja vendo aquele personagem receba de forma completa a comunicação que aquela peça deseja compartilhar. E não os meus próprios sentimentos e desejos. Eles podem estar de acordo ou não com a ideia da peça, mas o que prevalece é que a ideia central do espetáculo é o maior condutor.

No papel de professor de quem ensina técnicas para se viver outra vida com o seu próprio corpo, sou eu com minha experiência de quem também passa por aquele processo, mas naquele momento com minhas emoções, meus estudos, contribuindo para que o ator alcance a melhor performance para aquela peça.

Como é ser um educador social?

Essa é a parte que faz com que eu me sinta contribuindo um pouco pra comunidade preta e periférica de favela. É ver pessoas com condições bem abaixo do que seria agradável para viver, se erguendo e construindo um projeto de futuro, é poder olhar pro Rafael do passado e do futuro. E me reconhecer em missão.

Quais os pequenos núcleos sociais que você movimenta?

Eu acho que hoje o maior movimento está nas favelas de forma geral, eu participo de três projetos diferentes com o mesmo fim. Em uma carreta que tem ido em várias cidades do DF com cursos, tem A CuFA-DF, que também tem seus núcleos nas periferias e tem o Jovem De Expressão, na Praça do Cidadão, em Ceilândia Norte. Lá a gente desenvolve várias atividades de formação educacional nas áreas artísticas, pré-vestibular, Enem e línguas estrangeiras também. 

Teve alguma apresentação que foi a grande realização de um sonho?

Teve uma recente. Foi fazer parte da mostra competitiva da 55ª edição do Festival de Cinema de Brasília como ator do filme “Anticena”.

No curta-metragem, Clarice, uma jovem documentarista, decide retratar o processo artístico de Jonathan, um entregador de aplicativos que faz filmes durante o turno de serviço. Acompanhamos a noite de entregas e filmagem dos cineastas até o encontro com Wesley, um cozinheiro desempregado e cinéfilo improvável. Assista ao trailer:

Existe alguma experiência que você sempre quis realizar? Qual é?

Atuar em um filme estadunidense bem, bem comercial, um blockbuster desses em Hollywood. Com um grande cachê e uma grande bilheteria. (risos)

Qual peça teatral você dirigiu e atuou que te marcou muito e por quê?

Acho que direção foi o espetáculo “E Quando Vem a Lucidez”, uma peça realizada dentro de banheiros, com o público todo dentro do banheiro também. Ela surgiu de um exercício na faculdade e tomou corpo de peça e teve uma boa temporada de existência. Ela foi apresentada em alguns festivais internacionais na América Latina. Isso a deixou com gostinho especial, sabe?! Atuando, me marca a primeira peça profissional, por ser a primeira e um clássico do Nelson Rodrigues, “Perdoa-me Por me Traíres”, com direção da Barbara Tavares.

Me conta mais sobre seu trabalho em pesquisas da arte…

A maior parte da minha pesquisa se desenvolveu na parte de direção artística teatral e preparação de atores. E, paralelamente, os estudos em psicologia para conseguir esses objetivos, que me levaram a me especializar nessa área também. Como professor particular de oratória, eu consegui reunir ferramentas das três áreas em um processo que desenvolvi ainda sob o nome de método Sou L – Sou L( Livre). Hoje eu tenho pesquisado para um doutorado em alguma convergência entre as áreas de comunicação/psicologia/artes para poder seguir aprendendo.

Com tanta coisa sendo construída e já realizada, qual projeto ainda falta realizar?

Ainda falta existir um centro de formação artísticas para pessoas pretas.

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