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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Atuante na cena de inclusão de pessoas com deficiência, conheça a artista e professora Samialien

Em 2016, Sâmia ingressou na graduação de Artes Cênicas na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, marcando um ponto de virada significativo em sua jornada

Thaty Nardelli

01/01/2024 14h13

Foto: Arquivo pessoal

Foi nas ruas de Taguatinga que a hoje artista e arte-educadora Sâmia Queiroz de Paula, mais conhecida como Samialien (foto), 27 anos, criou suas primeiras afinidades, naturalmente, com expressões artísticas. “Brincar de faz de conta, escrever versos sobre meus sentimentos e explorar o mundo da arte através do desenho eram atividades que permeavam minha vida desde cedo”, conta ela. Apesar de não vir de uma família abastada, sua  interação com formas de expressão artística era principalmente na escola e na igreja. 

“Minha imaginação sempre foi vibrante, mesmo sendo uma criança mais introspectiva. O mundo que habitava era criativo e repleto de amor, solitude e exageros. Embora o acesso a áreas artísticas fosse limitado, aos 12 anos, comecei a participar de atividades teatrais na escola”, relembra Samialien. No entanto, foi apenas no fim do terceiro ano do ensino médio, ao ingressar no curso de fisioterapia na UnB, que ela percebeu, claramente, que seu verdadeiro chamado estava na arte.

Em 2016, Sâmia ingressou na graduação de Artes Cênicas na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, marcando um ponto de virada significativo em sua jornada. “Este passo corajoso foi o divisor de águas que solidificou minha decisão de dedicar minha vida ao teatro. Desde então, tenho cultivado meu amor pelas artes cênicas, e cada momento nesse caminho tem sido enriquecedor e transformador”, revela. 

Na faculdade, Sâmia explorou de tudo um pouco: performance, sonoplastia, artes visuais, teatro, direção teatral, cinema, produção de eventos e até mesmo DJ. “Hoje também solto minha criatividade em músicas autorais e poesias, e ganhei alguns prêmios legais, como o Aldir Blanc e Sesc + Cultura. Destaco que um dos prêmios Aldir Blanc foi conquistado com a dupla de performance Samia(eu) e Cássia Olivier, enquanto o outro foi com o grupo Latino Americano INTENSAMENTE, criado após o 3º Encuentro Latinoamericano de Danza y Inclusión em 2020”, relembra.

Propagando a inclusão

Atuando desde 2019 em um dos mais importantes grupos voltados para Pessoas com Deficiência, o Projeto Pés, concebido por Rafael Tursi em 2009 após sua formação pela Universidade de Brasília (UnB), emergiu da experiência pessoal ao acompanhar a reabilitação de sua amiga Maiara Barreto, atleta paraolímpica que sofreu um acidente de trânsito, resultando em tetraparesia— sequela neurológica de dormência e formigamento, além da diminuição e redução da força muscular nos membros . “Esse contexto provocou a reflexão de Tursi sobre a limitação das abordagens convencionais, predominantemente centradas em fisioterapia e terapia ocupacional, sem considerar o potencial artístico. O projeto, desde então, se consolidou como uma proposta de teatro-dança voltada para a inclusão, utilizando diversas práticas corporais e destacando a criação artística para pessoas com deficiência.

“Ingressei no Projeto Pés como pesquisadora e aproveitei para estar dentro do processo artístico deles como contra-regra, desempenhando diversas funções ao longo do tempo, incluindo participação como dançante e, em algumas ocasiões, como videomaker, contribuindo de maneiras diversas para o grupo sempre que necessário”, diz Samialien. 

De acordo com ela, essa experiência enriqueceu sua compreensão do projeto e seu impacto, permitindo-a participar ativamente das atividades, promovendo a inclusão e a expressão artística em todas as facetas do Pés. Desde então, ela tem testemunhado e contribuído para a evolução do projeto, que hoje acumula um repertório diversificado com mais de cem atividades, incluindo apresentações, aulas, palestras e participações em eventos, destacando-se como um agente transformador nas artes cênicas e na promoção da inclusão.

“O projeto enfrenta desafios significativos, especialmente em questões burocráticas relacionadas a recursos financeiros para o trabalho com pessoas com deficiência. Buscamos desvincular-nos de estigmas, investindo na obtenção de informações que fortaleçam nossa comunidade e reconheçam o trabalho artístico de todos no grupo”, pontua a artista. “Enfrentamos desafios na acessibilidade de espaços artísticos ou não, exigindo cuidados especiais na compreensão dos desafios logísticos. Lidar com a diversidade de deficiências e garantir uma comunicação efetiva são pontos cruciais para superarmos alguns dos obstáculos”, adiciona.

Em dezembro do ano passado, o grupo Pés recebeu o Prêmio Destaque de Impacto Social durante a cerimônia do Prêmio Sesc + Cultura, em reconhecimento ao espetáculo Similitudo. “Este prêmio não apenas valida o esforço dedicado, mas também sublinha a importância de abordar questões culturais, estéticas, sociais e de mobilização de público.  Estamos verdadeiramente agradecidos por fazer parte desta colaboração que desafia limites e promove a diversidade por meio da arte“. Juntos, continuaremos a dançar, inspirar e construir pontes entre as diferenças, construindo um futuro mais inclusivo e empático”.

Sâmia também é sócia-criadora da Bora Lab de Design de Negócios, que fundou com o amigo e artista Rafael de Paula. “Nossa atuação na Bora Lab vai além dos negócios, envolvendo a expressão artística no projeto Bora Laboratório Criativo. Nesse espaço, oferecemos suporte a artistas e, junto com Rafael, tocamos e criamos na empresa. É uma oportunidade incrível de unir a criatividade artística com a visão empreendedora, proporcionando um ambiente diversificado e colaborativo para artistas explorarem e expandirem seus horizontes”, explica.

Atuação em sala de aula

Sâmia também atua na Secretaria de Educação do DF, como professora de teatro no Centro de Ensino Especial 01 do P Sul, em Cêilândia, e arterapeuta. “Meu trabalho vai além das aulas regulares. Além de ministrar aulas de teatro, meu papel envolve a produção de peças visuais, criação de cenários, confecção de figurinos e ensaios para espetáculos teatrais”. 

Para ela, ao realizar essas atividades, proporciona uma experiência completa e enriquecedora para os estudantes, promovendo não apenas a expressão artística, mas também o trabalho em equipe e a autoconfiança.

Para este ano, os principais planos de Samialien envolvem concentrar esforços na Bora Lab de Design de Negócios. Ela pretende aprofundar seu engajamento no desenvolvimento de projetos criativos e estratégicos, utilizando a arte como ferramenta de inovação. “Além disso, continuarei fortalecendo minha presença na cena artística do Distrito Federal, com foco no projeto Pés, em performances e demais expressões artísticas”, promete.

 

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