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Mídias e Identidade

Dois agostos…

Arquivo Geral

29/08/2017 12h06


Sionei Ricardo Leão*

Artigo especial ao Congresso em Foco

Em agosto, de 2007, a Universidade de Brasília (UnB) enfrentava a polêmica repercutida na imprensa a respeito dos critérios de ingresso na instituição pelo sistema de cotas para negros. Na época, teve grande impacto o caso de dois gêmeos idênticos que por meio de análise de fotos acabaram tendo recepção diferente. Um foi aceito, o outro não.

A UnB, primeira universidade federal a adotar o sistema de reserva de vagas para negros no vestibular, esteve na lupa da opinião pública por trilhar esse caminho. Ao longo desses anos, evidentemente, se aprimorou para lidar com essa demanda educacional, social e racial.

No mesmo período, ou seja, agosto de 2007, surgiram as hashtags por iniciativa despretensiosa de um internauta, o engenheiro Chris Messina. Ele postou no micro blog Twitter a mensagem “como vocês se sentem” usando # (Pound) para grupos. A ideia “viralizou”, usando um jargão atual e passou a ser empregada em outras redes.

As hashtags são ícones de uma linguagem inovadora adaptada para um universo paralelo e sempre em expansão. Há uma frase que propõe ser a internet, a primeira criação que o homem fez e não sabe como funciona, pois, aparenta ter vida própria.

Os dois episódios, as cotas na UnB e as hashtags, podem não ter conexão, aparentemente. Analisados de outro ângulo são simbólicos e entrelaçam a razão de ser de um coletivo fundado também em agosto, de 2007, a Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial do Distrito Federal (Cojira-DF).

Dito de outra forma, naquele período os temas da igualdade racial, combate ao racismo e respeito religioso estavam em evidência no Brasil e em outros países. Da mesma forma, os conceitos midiáticos e plataformas de comunicação estavam e estão em franca evolução.

Desde então, o que se mostra atual nos nossos dias, articular o idealismo de um mundo melhor do ponto de vista racial em face ao jornalismo, comunicação social, redes sociais e tantos outros campos correlatos, evidencia-se como uma tarefa nobre e desafiadora.

Em uma década, muito aconteceu. O aprimoramento dos aplicativos, a sofisticação de smartphones fazem parte do mesmo mundo que ainda requer amplas medidas para tornar o Brasil mais justo quando se averigua o fosso que permanece separando brancos e negros no país.

Neste ano de 2017, estamos ante a preocupante constatação que os discursos de ódios estão em pleno vigor e seus adeptos empregam em grande escala a internet para disseminá-los. Isso é válido tanto no Brasil quanto em outros países.

Entre os dois agostos, vimos o Supremo Tribunal Federal (STF) validar em votação unânime a constitucionalidade das cotas no Brasil. No entanto, a mesma corte depara-se agora com outro questionamento que afeta igualmente a população negra. Desta vez a pauta é o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), de número 3239, que questiona o decreto que regulamenta as terras quilombolas.

Dito de outra forma, de forma cíclica, a temática para qual se volta a Cojira-DF permanece na agenda da imprensa e da sociedade de forma intensa e permanente.

A Cojira-DF foi antecedida pela criação de instâncias semelhantes do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Tal como a de Brasília, todas vinculadas a sindicatos de jornalistas.

Atualmente, há outras cojiras em Alagoas, Bahia, Mato Grosso, Paraíba e Paraná. São coletivos que nos versos do poeta experimentam a ideia de que a “felicidade do negro é uma felicidade guerreira”.

Ou seja, a lógica de reunir pessoas que por ideal se propõem a doar-se voluntariamente para enfrentar estereótipos, indicadores socioeconômicos aviltantes a fim de aprimorar a sociedade.

Logo, a comemoração de ter se ter percorrido esta década merece alegria, aliada a percepção de que muito ainda há por ser feito no terreno da pauta da igualdade racial.

Que venham outros anos e outras décadas conjugados com a construção de um país melhor no binômio comunicação e igualdade racial.

*Pela Cojira-DF

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