Em um discurso feito no fim da noite deste domingo, 15, e que durou oito minutos, o candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, deixou claro que as regiões periféricas da cidade vão receber uma atenção especial durante a campanha do segundo turno, que ele disputará contra o atual prefeito, Bruno Covas, do PSDB. Ele citou cinco vezes a palavra “periferia” e disse que não é daqueles candidatos que só aparece nos bairros mais pobres de quatro em quatro anos, ao destacar que mora em um deles, o Campo Limpo, no extremo sul da capital paulista.
“Vamos inverter as prioridades, tirar a cidade do abandono, tirar a periferia do abandono”, afirmou o candidato do PSOL. “A periferia não é estatística, não são números, são gente, com história e trajetória. São essas pessoas que eu e Luiza Erundina (candidata a vice e ex-prefeita de São Paulo) queremos levar junto para governar a cidade”, ressaltou Boulos.
Ao contrário de Covas, que rechaçou transformar a disputa municipal em uma questão nacional, Boulos procurou nacionalizar o seu discurso, ao dizer que sua ida ao segundo turno representa uma vitória contra o presidente Jair Bolsonaro, o “ódio e o atraso”, e disse que quem governa de fato a cidade de São Paulo é o governador do Estado, João Doria (PSDB), que foi prefeito da cidade até 2018, quando renunciou para ser candidato ao governo estadual e deixou o lugar para o então vice, Bruno Covas.
“Vamos vencer João Doria, porque é ele quem de verdade governa São Paulo. Ele que foi prefeito e abandonou a cidade e foi mais vezes ao exterior do que a bairros como Campo Limpo e Guaianazes, da periferia”, disse. “Covas fala em radicalismo, mas, para mim, radicalismo é o abandono do povo numa cidade como São Paulo. Não é possível São Paulo ser a cidade mais rica do Brasil e ter gente procurando com fome procurando comida no lixo”, afirmou também o candidato, que lamentou haver hospitais fechados durante uma pandemia. “Estamos no meio de uma das crises mais graves da nossa geração e São Paulo é a terceira cidade com mais mortes por covid”, disse.
Assim como costuma fazer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Boulos fez uma analogia de política com futebol, ao destacar que no segundo turno a disputa será de igual para igual, com os mesmos tempos de televisão e debates na televisão. “No primeiro turno, eles tinham 11 jogadores em campo, e nós, quatro. Agora são 11 contra 11”, disse Boulos, que lembrou que só teve 17 segundos de tempo de televisão para propaganda eleitoral.
O candidato do PSOL também procurou atrair os votos dos eleitores de candidatos que não foram ao segundo turno, ao destacar que será o representante da mudança na disputa. “Vamos chamar aqueles e aquelas que querem mudança. A mudança, no segundo turno, é representada por nossa chapa”, disse Boulos, que lembrou que cerca de 70% dos votos válidos não foram para o atual prefeito. “Vamos virar o jogo, com esperança, luta e participação, com engajamento para vencer. Pessoas de verdade vão vencer os robôs e as máquinas”, afirmou o candidato, que disse que o que está em jogo é se quem vai vencer é a “mesmice” ou a “esperança”.
‘Radicalismo para mim é quem revira o lixo para comer’
“A cidade acompanhou, nós tínhamos 17 segundos na televisão contra quase 4 minutos do atual prefeito. Nós não tínhamos nem temos nem queremos apoio de máquinas do governo federal, do governo estadual e da Prefeitura”, afirmou.
“Tivemos nesse primeiro turno um resultado que surpreendeu muita gente”, completou e vislumbrou, no segundo turno, os 10 minutos por dia que ele e Covas teriam para expor suas propostas, além dos debates.
“São Paulo é a terceira cidade no mundo com mais mortes por coronavírus, mas tem hospitais fechados. A periferia está abandonada pelo PSDB. Eu não apareço na periferia de quatro em quatro anos para fazer promessas. As pessoas aqui não são estatísticas, são gente”, disse atacando a gestão de Covas, de quem rebateu sobre ser “radical”.
“Eu vi o Covas falar de radicalismo. Radicalismo, para mim, é gente virar lixo para poder comer, é o abandono do povo. Nós queremos e vamos inverter prioridades, tirar a periferia do abandono.”