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Brasília

Moradora de Águas Claras recebe bilhete de socorro em encomenda de site chinês

Arquivo Geral

25/10/2014 9h31

Quando fez uma compra pela internet, a advogada Sandra Miranda, de 48 anos, jamais imaginava o que aconteceria a seguir. Três meses depois de escolher as peças de roupa no site AliExpress, ela recebeu em casa um pacote lacrado, com a camisa que havia escolhido. Ao abrir a embalagem, um pedaço de papel caiu. Nele, encontrou um pedido desesperado de ajuda. “Eu (sou)   escravo. Ajude-me”, diz, em inglês, o bilhete. 

 “Fiquei perplexa. Fui à sala e falei para o meu filho ‘olha o que recebi junto da camisa’. Tirei uma foto do bilhete e mandei para minha filha, que mora em São Paulo. Foi ela, na verdade, quem denunciou”, conta a advogada, que diz ter se “sentido culpada” quando viu a mensagem. “Eu me senti cooperando, de alguma forma, para que isso aconteça. Chorei muito, muito mesmo. Eu me coloquei no lugar das mães dessas pessoas”, diz Sandra.  

 Agora, ela afirma que espera que as autoridades tomem alguma atitude. “A nossa parte, fizemos. O primeiro passo realmente é este, de denunciar, de chamar a atenção dos veículos de comunicação. O segundo passo foi entrar em contato com o Itamaraty e com a Embaixada da China. Estamos esperando o retorno. Eu realmente quero que esta situação seja investigada”, diz. 

 Acostumada a fazer compras pela internet, Sandra ressalta ainda que não tinha ideia da dimensão do problema. “Fazia isso com muita tranquilidade, até pela praticidade da coisa. A gente leva uma vida corrida, então a internet dá essa opção”, relata. 

Outras acusações

Mas, depois de receber o pedido de ajuda, ressalta, começou a pesquisar sobre o assunto e descobriu, então, que muitas marcas das quais gostava já foram acusadas de trabalho escravo. 

Diversos casos vêm à tona
Depois de pesquisar,  Sandra descobriu que  pelo menos três marcas de roupas que   usa são suspeitas de utilizar mão de obra escrava. “É chocante, porque vemos esse tipo de coisa em filme. É desesperador na verdade”, afirma a advogada. 
De fato, renomadas marcas passaram por suspeitas semelhantes. O último caso de grande repercussão aconteceu com a M5, dona da grife de roupas M. Officer. O Ministério Público do Trabalho em São Paulo entrou com uma ação  contra a empresa,   por supostamente manter em sua cadeia produtiva trabalhadores em condições análogas à de escravidão. O órgão exige o pagamento de R$ 10 milhões. 
 Segundo a procuradora do Trabalho Tatiana Simonetti, representante do MPT  na ação, ao ser questionada sobre a escolha de seus fornecedores,   a M. Officer   respondeu priorizar aqueles que subcontratam mão de obra, por representarem custos menores.
 
 Grandes empresas sob investigação

A M5,  dona da grife de roupas M. Officer, regularmente utilizaria a estratégia de pulverizar sua produção, “isentando-se de qualquer responsabilidade pelas irregularidades verificadas”, interpretou a procuradora do Trabalho Tatiana Simonetti.  Em nota divulgada à imprensa, a M5 declarou que cumpre integralmente todas as obrigações trabalhistas e que não possui qualquer responsabilidade sobre os fatos   noticiados.
 Assim como a M. Officer, que se fixou no País como uma das maiores grifes de roupas, a AliExpress também é referência no que diz respeito ao e-commerce. Hoje, a empresa é o segundo site de compras mais acessado no Brasil. A marca faz parte do grupo Alibaba, que transformou o fundador da rede, Jack Ma, em um dos homens mais ricos da China, com bens avaliados em   U$$ 25 bilhões.
  
 O JBr. tentou contato com a AliExpress por meio do site, mas até o fechamento desta edição não houve resposta. 
 
Saiba mais
Em junho deste ano, três consumidores britânicos encontraram pedidos de socorro pela suposta exploração de trabalho escravo em etiquetas de roupas da marca Primark, em Swansea, País de Gales. Duas das mulheres encontraram as mensagens em roupas em promoção (por US$ 17) na mesma loja da cidade da província britânica. Outra consumidora em Belfast, na Irlanda do Norte, diz ter encontrado uma anotação de um suposto prisioneiro chinês denunciando o trabalho forçado.

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