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Brasília

Que vacilo, Fiel…

Arquivo Geral

25/10/2016 7h36

Atualizada 24/10/2016 13h37

Faltavam mais ou menos 12 minutos para o jogo começar e eu ainda me espantava com os camarotes vazios. Tanta gente querendo ir à reabertura do Maracanã para ver Flamengo e Corinthians e alguns lugares privilegiados vazios. Lugares caros, na faixa de R$ 400 (com direito a comidinhas e bebidinhas), porém vazios. E certamente não era por causa do preço. Lembrei, então, do que acontecera um pouco antes e tive a certeza de que o futebol caminha, de forma rápida e inevitável, a se tornar um triste espetáculo onde 22 atores, nem sempre bons, correrão atrás de uma bola. Torcidas? Esqueçam. E a Fiel, infelizmente, deu uma grande contribuição para isso neste domingo de sol no Rio de Janeiro.

Nenhuma semelhança com a invasão de 40 anos atrás, quando com a ajuda de vascaínos, botafoguenses e muitos, muitos, flamenguistas, conseguiu dividir o Maracanã com a galera do Fluminense numa semifinal do Brasileiro. Nada disso. Com um setor inteiro do estádio reservado para os menos de quatro mil que se aventuraram, houve um grupo da Fiel que não queria saber de jogo, mas sim de baderna. E começou, então, um dos espetáculos mais grotescos que já vi em um estádio de futebol. Animais (perdoem, mas não há outra definição) avançaram para destruir a grade que separa as torcidas. Agrediram policiais, jogaram objetos em torcedores…

Digo aos leitores: o policial militar que foi cercado e agredido, covardemente, pelos animais que estavam no meio da galera do Corinthians deveria ser homenageado. Ele correu perigo de morte, mas, mesmo assim, não sacou de sua arma. Se o fizesse e disparasse um tiro certamente teríamos uma tragédia no Maracanã. E, se sacando de sua arma, a tivesse perdido para aqueles animais, certamente agora estaríamos falando de um assassinato dentro do estádio que já foi palco de duas finais de Copa do Mundo. Sobrou sangue frio à Polícia Militar do Rio de Janeiro, mas que o revide seria justificado, lá isso seria.

Há anos os clássicos em São Paulo são disputados com apenas uma torcida. Este colunista, e todos os amantes do futebol, são contrários a tal decisão. Futebol é festa, é integração, é provocação (sadia) e rivalidade. Mas, diante de atitudes como as que vi, domingo, no Maracanã, por aquele grupo de animais que estavam com a Fiel corintiana, começo a pensar que o futebol deveria ser apenas um produto para a televisão. Como pensar em levar meus filhos, de nove e seis anos, num clássico se correríamos o risco de topar com outros animais como aqueles? A Fiel, fora de São Paulo, prestou um belo serviço contra o futebol. Agora, é provável que num próximo jogo não permitam mais a presença de outros torcedores que não os do time mandante. Erro? Não, preservação de segurança.

Como os animais eram perfeitamente identificáveis pelas imagens da televisão, lá pelas 22h (isso mesmo, cerca de três horas após o término do jogo) os torcedores começaram a ser liberados. A Polícia Militar, com as imagens, deteve 39 animais que participaram dos atos de vandalismo e os encaminhou para a Cidade da Polícia. Enquanto isso acontecia, nenhum torcedor corintiano pode deixar o estádio. Mulheres e crianças foram de pronto liberados, mas… Como deixar o lugar sem o pai, o marido, o namorado? Então, devido à ação dos animais, dezenas de família que foram ao Rio de Janeiro curtir um domingo de praia e futebol, acabaram perdendo horas de suas vidas. Horas que poderiam ser aproveitadas já voltando para casa, para chegar num horário que permitisse a todos descansarem para encarar o trabalho na segunda-feira.

Repito: a Fiel prestou um desserviço ao futebol brasileiro. Pior: ao seu time. Seria muito interessante e útil ao futebol brasileiro que o tribunal punisse o Corinthians. O clube não teve culpa? Relativo. Quando parte destes animais invade o centro de treinamento para “cobrar empenho” dos jogadores, os cartolas nada fazem – se os identificasse, talvez muitos estivessem presos. Quando vão pedir ingressos, muitas vezes os cartolas liberam para “ficar de bem” com a galera. Então, o clube é culpado, sim. Os cartolas são culpados, sim. E o futebol, que não tem culpa alguma, vai sendo, pouco a pouco, sepultado.

Bugre vingador

O colunista é um apaixonado pelo futebol. Por isso, não poderia, por mais que fosse este seu desejo, escrever um texto sem que houvesse um elogio ao esporte. E este elogio aconteceu no finzinho da noite de domingo. O Guarani, derrotado por 4 a 0 no jogo de ida, entrou no Brinco de Ouro da Princesa precisando de um milagre para eliminar o ABC da final da Série C. E o milagre aconteceu: um, dois, três, quatro, cinco, seis. Seis a zero foi o resultado da partida. Bugre classificado, ABC eliminado. Um resultado estranho, convenhamos – Geninho e seus jogadores precisarão explicar o que ocorreu –, mas aconteceu. Pena que o estádio, há anos abandonado, não estivesse lotado. Mas quem esteve lá certamente dirá: um vi um milagre do futebol acontecer.

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