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Um Conto de Fadas Punk, com Natália Lage, mostra a vida de um escritor que não existiu

Arquivo Geral

15/02/2012 7h43

Camilla Sanches
camilla.sanches@jornaldebrasilia.com.br

 

Como contar a história de alguém que não existe? Essa é a aventura a que a atriz Natália Lage se propõe em JT – Um Conto de Fadas Punk, que estreia nacionalmente nesta quinta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul), sob a direção de Susana Ribeiro e direção-geral de Paulo José. Jeremiah Terminator Leroy, o JT LeRoy, é um jovem escritor que ficou famoso entre a classe artística internacional com sua triste história de vida e com os livros que publicou, entre eles sua autobiografia.

 

A questão é que JT não passa de um  personagem criado pela autora Laura Albert, cantora punk mal sucedida, que, há dez anos, sobrevive fazendo disque-sexo. Ela lança o livro Maldito Coração, que “conta a  vida“ desse jovem escritor de 16 anos, louro, de olhos azuis, gay, travesti, drogado e com problemas mentais. Prato cheio para um best seller.

 Foto: divulgação

Assim, Laura volta indiretamente aos holofotes. É que “LeRoy” passa a dar entrevistas sobre as “histórias” contadas na autobiografia. A questão é que ele, LeRoy, não existe na vida real. Mas tem que existir na peça. E Laura, então, convoca sua cunhada, Savannah Knoop, para fingir que é o jovem escritor.

 

Natural da Virginia, um estado norte-americano, de acordo com a obra autobiográfica, o rapaz teria nascido em 31 de outubro de 1980 e sofrido abusos durante a infância e adolescência, o que justificaria sua maneira tímida e amedrontada de encarar os jornalistas durante as entrevistas.

 

 Foi assim que a autora da peça, a jornalista Luciana Pessanha, chegou até esta inusitada figura. “Fui mandada à Feira Literária de Paraty (RJ), em 2005, para entrevistar o escritor JT LeRoy. Na época, ele lançava Sarah. Numa rodinha de três pessoas, meu fotógrafo enxergou nosso entrevistado, enquanto eu acreditei que eram apenas três garotas”, lembra. “Meu espanto foi descobrir que o fotógrafo estava certo. A assessora dele me apresentou aquele que eu pensei ser uma garota, mas na verdade era o JT”, completa.

 

 

A verdade sobre este personagem apareceu dois anos depois deste encontro, quando Luciana leu no jornal norte-americano The New York Times que a escritora Laura Albert estava sendo processada pela produtora Antídoto Filmes, por ter mandado a cunhada assinar um contrato de cessão de direitos autorais, se fazendo passar pelo escritor JT LeRoy, que jamais existiu. “Estava desfeita a confusão. Aquele menino era uma menina, como eu pensei, mas isso não me incomodava. O que me incomodava era o fato de estarem processando a autora de uma história tão sensacional”, observa a dramaturga.

 

Desta inquietação, surge  JT – Um Conto de Fadas Punk, em parceria com a atriz Natália Lage – coprodutora da peça –, intérprete de Savannah Knoop, a cunhada de Laura, que se passou pelo protagonista. “Ela foi processada e perdeu os direitos da obra por ter inventado um personagem. Mas isso não é literatura, não é ficção?”, questiona Luciana. Para ela, o público quer que o protagonista tenha “apanhado, sido abusado, passado fome”. “Gosto de não precisar ser real. A alegria ou a dor podem ser de mentira”, diz. “Isso me deixa injuriada. As pessoas (neste caso, os escritores) não podem inventar que são sofridas?”, argumenta.

 

 

 

Natália Lage concorda e, por isso, embarcou no projeto. “A peça é uma defesa da ficção”, explica. “Fala desde direito autoral a processo criativo”, pontua. O que mais a levou a colaborar com o espetáculo foi a identificação com a personagem Savannah: “Ela tinha uma espécie de pânico em apresentações sociais, o que comprovava a questão dos abusos e maus-tratos quando criança. Meu ponto de partida foi ela e esse medo do público.”

 

 
É neste ponto que essas duas mulheres se identificam. “A própria personagem, num primeiro momento, quis fazer, ao mesmo tempo em que teve medo de dar errado, mas foi em frente. Esse dilema se assemelha muito com o universo do ator, encarnar alguém que ele não é. Aparece muito disso na minha profissão”, comparou.

 

  
Depois da temporada em Brasília o espetáculo segue para o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com apresentações de 15 de março a 27 de maio. No elenco, ainda, Débora Duboc, Nina Morena, Hossen Minussi e Roberto Souza.

 

 

 

JT – Um Conto de Fadas Punk –  De amanhã a 11 de março. De quinta-feira a sábado, às 21h, e domingo, às 20h, no CCBB (Setor de Clubes Sul). Ingressos: R$ 6 (inteira). Informações: 3108-7600. Não recomendado para menores de 16 Anos.

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