Em cena, o ato de trançar os cabelos deixa de ser um gesto cotidiano para se tornar rito, manifesto e celebração ancestral. Assim se constrói “Respeite Meus Cabelos”, solo poético-musical que retorna aos palcos neste mês da Consciência Negra com apresentações gratuitas nos dias neste final de semana, 22 e 23, no Espaço Multicultural Casa dos Quatro (706 Norte), e nos dias 28 e 29 de novembro, na Semente Cia de Teatro (Taguatinga), sempre com sessões às 19h, e aos fins de semana, às 17h e às 20h.
O espetáculo se passa em um espaço cênico que mistura salão e altar. Uma cadeira é tratada como trono; a trancista, como guardiã de histórias; e a sonoridade, construída ao vivo por um Grupo de Afoxé, estabelece o tom ritualístico da apresentação. É ali que ganha vida LUA, personagem que conduz a narrativa atravessada por memórias, cantos, rezas e gestos ancestrais.

Criado em 2022, o solo nasceu de uma experiência pessoal e artística da atriz Amanda Reis, que interpreta a protagonista. Estudante de Artes Cênicas na Universidade de Brasília, ela transformou o trabalho inicialmente acadêmico em um manifesto cênico sobre representatividade negra. Sua pesquisa encontrou ressonância no olhar do diretor Thiago Carvalho, doutor em Artes Cênicas pela UFBA, cuja trajetória é marcada pela investigação sobre memória e produção teatral.
Na dramaturgia, LUA representa a mulher negra na diáspora, múltipla e em permanente reinvenção. Sua jornada é organizada em cinco movimentos que seguem a simbologia do cabelo: raiz, ligada à ancestralidade; trama, que tece pactos e histórias; topo, que enfrenta o racismo; twist, que simboliza reinvenção; e ponta, que projeta futuro sem romper com a memória.

Para Reis, trançar os fios em cena é um gesto de pertencimento e afirmação identitária. “Quando LUA trança os fios, ela ativa um rito de pertencimento. Cada trança é um fio de memória que conecta o corpo presente às vozes ancestrais. A ação, que poderia ser lida apenas como estética, ganha no espetáculo a força de um manifesto: trançar é inscrever no corpo a resistência contra a tentativa colonial de apagar a identidade negra”, afirma a artista.
Além da narrativa simbólica, a montagem se ancora em elementos sonoros, sensoriais e rituais que evocam saberes de benzedeiras, referências da diáspora africana e práticas que integram corpo, política e espiritualidade. A cena se transforma em um território compartilhado, onde estética e memória se entrelaçam, e cada gesto funciona como costura entre ferida e cura.
Serviço
Espetáculo poético-musical Respeite Meus Cabelos
Acessibilidade: Sessões com audiodescrição e intérprete de Libras
Entrada gratuita
Ingressos: Retirada antecipada pela plataforma Sympla
Local 1: Espaço Multicultural Casa dos Quatro – 706 Norte
Quando: 22 de novembro (sábado), às 19h
23 de novembro (domingo), às 17h e 20h
Local 2 — Semente Cia de Teatro -Taguatinga
Quando: 28 de novembro (sexta-feira), às 19h
29 de novembro (sábado), às 17h e 20h