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Teatro e Dança

Dos palcos de Brasília para o mundo 

O ator se sente em casa em Brasília, esta capital que ele considera muito criativa

Amanda Karolyne

28/07/2024 16h37

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Foto: Felipe Ponce

Cria do teatro brasiliense, o artista Bernardo Felinto conversou com a equipe de reportagem do Jornal de Brasília sobre sua carreira que tem passagens por novelas como Órfãos da Terra e Joia Rara, produções autorais, temporadas dos Melhores do Mundo e seu primeiro protagonista nas telonas com o filme Letícia, que esteve nos cinemas brasileiros recentemente. 

O ator se sente em casa em Brasília, esta capital que ele considera muito criativa. Mas ele sempre quis expandir a carreira para outros lugares. “Eu tenho muito orgulho de ser de Brasília e reforçar que na capital tem grandes artistas, além de um cenário musical e artes cênicas fortes”. Para ele, a grande questão é como fazer para que as produções regionais alcancem outros públicos. Atualmente ele mora em Brasília, que é uma região que facilita o deslocamento para audições e projetos em todos os cantos. 

Os primeiros passos no teatro

Bernardo começou a fazer teatro aos 15 anos, apesar de não saber na época que era uma carreira que iria seguir de fato. O primeiro curso de teatro do qual participou foi no Teatro dos Bancários. “E depois da minha primeira aula, eu tive certeza que era isso que eu queria porque mexeu muito comigo”. E esta aula mexeu tanto com ele, que resolveu cursar Artes Cênicas na Universidade de Brasília depois do Ensino Médio, ainda se formou pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. “E aí a partir dali, começou a minha carreira profissional. Eu criei um grupo de comédia em Brasília em 2004 chamado De 4 é Melhor e ficamos durante 10 anos em cartaz no Teatro dos Bancários”. 

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Foto: Felipe Ponce

Ele conta que em 2009 o grupo De 4 é Melhor saiu um pouco de Brasília, porque já tinham feito um nome na capital e queriam crescer. “Fomos para São Paulo durante 6 meses com a primeira temporada fora de Brasília que foi um grande fracasso”. Mas Bernardo acredita que aprendeu com esse percalço a como levar administrativamente uma peça para fora. Para ele, essa é a vantagem do teatro ou de se ter grupos de teatro: um artista sempre tem mais de uma função nessas produções além da atuação. “Como éramos um grupo, eu também além de ator, era produtor, assessor de imprensa e tinha muitas funções dentro do grupo”, citou. E isso possibilitou a ele, ter uma grande bagagem de como se auto produzir na indústria artística. 

As produções teatrais que ele participou em sua maioria foram de comédia, gênero que ele afirma ser muito difícil de se praticar. “Esse tempo do humor é uma coisa que não se ensina”. E ele sabe do que fala pois entre as mais de 30 peças que compõem o currículo do ator, estão as temporadas com Os Melhores do Mundo. “Quando eu comecei a fazer teatro, eles já estavam explodindo em Brasília e eu via muito as peças deles”. Bernardo os tinha como ídolos e mentalizava que queria fazer aquilo. 

Em 2017, Bernardo foi constatado pela equipe dos Melhores do Mundo para substituir Vitor Leal temporariamente. “Eu aceitei com o maior prazer e fiquei durante quase dois anos apresentando em diversas capitais, inclusive em Brasília”. O que para o ator foi uma aula de profissionalismo. 

Dos palcos para as telas

O teatro realmente ajudou que Bernardo desenvolvesse muitas habilidades artísticas, o que possibilitou a criação de uma peça de muito sucesso em Brasília: Não Durma de Conchinha, produzida pelo grupo De 4 é Melhor. Na época, alguns produtores de elenco das novelas, foram assistir quando a peça estava em cartaz no Rio de Janeiro. E assim, ele começou a ser chamado para audições para a televisão. Até 2011, ele não tinha muita experiência no audiovisual, porque era um ator de teatro há muitos anos. Para ele, a linguagem de interpretação é uma linguagem diferente no teatro e em tela. 

Depois de alguns testes, ele foi escalado para o Zorra Total, onde ficou durante um ano e meio. Ele veio dos palcos e da comédia, uma arte difícil de se fazer, mas não queria ser só conhecido como comediante ou fazendo produtos de humor. “Eu sei que a comédia e o drama andam muito juntos e eu jamais recusaria fazer um bom produto de comédia, se tiver um bom roteiro”, comentou. O artista explicou que já vinha fazendo muita comédia no teatro e depois continuou neste nicho na televisão. “Era uma questão de explorar outras coisas. Mas eu reconheço que não é qualquer ator que faz comédia”. 

Bernardo conseguiu fazer outras audições para variados segmentos televisivos e pegou seu primeiro papel, o garçom Juca, na novela Joia Rara, em 2013. “Eu tive uma experiência real de como é fazer uma produção, como é ir todo dia para o Projac e ter essa experiência de fazer novela”. Esse momento foi um divisor de águas na carreira do ator. Ele emplacou outros produtos no canal, como Malhação, A Grande Família, Tapas & Beijos, Amor à Vida, Cheias de Charme, Império, Lado a Lado e Avenida Brasil. Em 2019, Bernardo voltou para a emissora no elenco principal de Órfãos da Terra, com o personagem Kaara. 

Portas abertas 

Sempre foi muito claro para Bernardo, que ele precisava estar se especializando na arte e em 2018, em um curso de atuação para cinema em Nova York, na New York Film Academy, outras portas se abriram em sua profissão. “O curso abriu muito a minha mente, no sentido de que eu já produzia e já escrevia muito para teatro há muitos anos. E eu queria fazer essa transição para trabalhar com obras autorais no audiovisual”. 

Ele aprendeu outras técnicas, inclusive de roteiro “porque o ator também é um criador”, como afirmado pelo artista. “Às vezes o ator se prende num papel de intérprete, mas na minha concepção, o ator que escreve tem uma facilidade maior de composição, por conseguir colocar a mentalidade dele no próprio personagem”. Com o desejo de escrever e atuar para o cinema, Bernardo produziu seu primeiro curta-metragem chamado Me Deixe Não Ser. O filme ganhou um prêmio em Los Angeles em 2019. “Foi uma experiência tão louca e tão boa na minha vida e carreira, que eu queria continuar fazendo isso”. 

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Filme “Leticia”. – Foto: Felipe Ponce

Em seguida, Bernardo escreveu Enquanto Estamos Juntos, um curta que foi lançado no auge da pandemia. A produção ganhou quase vinte prêmios em festivais nacionais e internacionais em premiações de Chicago, Paris e Itália, em categorias como melhor ator, melhor atriz, direção, roteiro, melhor filme e fotografia . “E isso me fez ficar ainda mais conhecido dentro da área, principalmente no mercado Rio-São Paulo, que é onde acontecem as maiores produções do audiovisual”. Depois veio o terceiro curta intitulado Redenção, que junto dos outros dois filmes forma uma trilogia. 

A partir daí, Bernardo estava diante de mais portas escancaradas para ele. O ator participou do sucesso de bilheteria Minha Mãe É Uma Peça 3 com Paulo Gustavo. “O que também já me deu uma vontade ainda maior de ficar produzindo cinema”. E crescendo ainda mais no meio, ele conquistou seu primeiro protagonista em um longa-metragem no filme Léticia do diretor brasiliense Cristiano Vieira. Atuar como o personagem chamado Gustavo nessa produção, foi um dos trabalhos que Felinto mais gostou de fazer até agora. “Letícia ficou em Cartaz durante quase três semanas na rede Cinemark em várias cidades do Brasil e estamos torcendo para ela entrar em algum streaming”. 

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Foto: Felipe Ponce

Para ele, foi uma tarefa difícil, mas excelente de se fazer. “Quando eu li o roteiro, eu achei a história muito interessante e aceitei quase que de imediato, porque protagonizar um longa é uma coisa que às vezes atores de 30, 40 anos de carreira não têm essa oportunidade”, desabafou.  O ator destacou que cinema é uma arte muito cara e que não se faz todo dia. 

Ele tem muitos projetos principalmente para 2025, mas se mantém misterioso a respeito deles. “Eu quero levar uma peça para o Rio de Janeiro e para São Paulo ano que vem e quero rodar mais um longa-metragem”. Ele também está trabalhando num projeto para os meios digitais. “Eu tive um canal de humor no YouTube chamado Só 1 minuto que alcançou um sucesso relativo em Brasília com 200 mil inscritos, mais de 30 visualizações e 100 vídeos produzidos”. Ele pretende retomar essa iniciativa mais para a frente.  

Fomentando a arte

Em 2008 Bernardo fundou o curso de Teatro Bernardo Felinto que já tem mais de 16 anos em Brasília. Um curso que vem se consolidando cada vez mais e que começou de uma forma despretensiosa, como diz seu criador. “Eu era o professor, administrador, o faz tudo do curso”. 

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Foto: Felipe Ponce

Atualmente, são mais de 200 alunos por trimestre. O curso de teatro também é recomendado a quem quer seguir uma carreira de atuação, mas é principalmente destinado a pessoas que querem se desenvolver pessoalmente. ‘ Porque a maioria dos nossos alunos já têm uma profissão, como por exemplo advogado ou médico ou professor”. As aulas ajudam no desenvolvimento da desinibição, autoconhecimento, criatividade e consciência corporal e Bernardo acredita que fazer teatro é importante para todos os públicos. “Nós costumamos brincar que teatro não é terapia, mas é terapêutico. Então as pessoas que fazem o curso saem transformadas”. 

O curso começa no nível inicial e o estudante vai subindo para outras etapas à medida que “é picado pelo bichinho do teatro”. “E muitos que participaram do curso já seguiram carreira, muitos alunos já fizeram novelas. Esse curso é um filho meu que já está quase ganhando a maioridade”, finaliza. 

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