O diretor Martin Scorsese causou hoje a primeira grande onda de flashes no Festival Internacional de Cinema de Berlim com o filme Ilha do Medo, uma história que começa como thriller e acaba como imersão na loucura, escorado na atuação de Leonardo DiCaprio.
Ilha do Medo promoveu o primeiro grande assédio da imprensa em Berlim, em meio à plateia lotada para a estreia do tormentoso filme de Scorsese, exibido fora de concurso, mas ponto forte do Festival.
DiCaprio retornou como estrela ao tapete vermelho, dez anos após monopolizar os flashes com A Praia, em um filme de grande impacto que conta também com a atuação de Ben Kingsley, Mark Ruffalo e Michelle Williams, sob direção de Scorsese.
“Somos de diferentes gerações, mas trabalhamos juntos há dez anos e conseguimos cooperar cada vez melhor, principalmente com a incrível maturidade artística de Leonardo”, afirmou o diretor, abrindo a rodada de elogios mútuos e lembrando seu trabalho conjunto em Gangues de Nova York e O Aviador.
“Quando era mais jovem, entendi que só um louco poderia desperdiçar a oportunidade de trabalhar com Scorsese. Desenvolvemos uma espécie de camaradagem”, acrescentou DiCaprio.
É com maturidade, mas com os contornos adolescentes de seu rosto, que DiCaprio atua na obra de Scorsese no papel do investigador Teddy Daniels. O filme busca desmascarar psiquiatras que fazem experiências radicais em seus pacientes no hospício de Shutter e buscam impedir o trabalho de Daniels.
O clássico Um Estranho no Ninho (1975) deixa claro que é mais fácil sair de uma prisão de segurança máxima que de um hospício. A pergunta é quantas viagens de ida e volta entre realidade e loucura cabem em um filme, quantos furacões, quantas torturas internas e quem é quem no falso thriller.
“Era um desafio. Um filme que exigia muita empatia, muita emoção de todos. Por sorte, estávamos em boas mãos”, afirmou Ben Kingsley, outro assíduo do Festival de Berlim. O próprio Scorsese provocou dois anos atrás outra onda de flashes na abertura do festival acompanhado dos Rolling Stones e de seu filme “Shine a Light”.
É difícil imaginar que tivesse derivado um roteiro como o do filme sem a boa atuação de Kingsley e a maturidade de DiCaprio.
“Me perguntaram se participaria da competição e respondi que não. Foi isso, certo?”, respondeu Scorsese, buscando resposta de seu produtor, Bradley Fischer, quando questionado por que não estava entre os 20 aspirantes ao Urso.
“Viemos a Berlim contentes da mesma forma, dentro ou fora da competição”, prosseguiu. Efetivamente, Scorsese não precisa concorrer aos Ursos para monopolizar flashes.
O diretor do festival, Dieter Kosslick, tinha afirmado ao inaugurar o 60º Festival de Berlim que seu eixo temático seria a família. Os dois filmes participantes deste sábado encaixavam nisso, a partir da perspectiva comum não de comédias de enredos simples entre familiares, mas de duas famílias completamente desestruturadas.
Submarino, do dinamarquês Thomas Vinterberg, seguiu a tendência de outros anos dos filmes escandinavos no Festival de Berlim de apresentar a face mais triste de seu país: alcoólatras e viciados em drogas.
If I Want To Whistle, I Whistle, do romeno Florin Serban, aborda a vida de um jovem de 18 anos prestes a sair da asquerosa prisão de menores onde está preso e de onde tenta fugir para impedir que sua mãe leve embora seu irmão mais novo, de quem tanto gosta, para a Itália.
O enredo comum é a desestrutura familiar, mas as diferenças entre um e outro são várias. O filme dinamarquês seguiu a linha bastante difundida em festivais anteriores, enquanto o romeno apresentou uma boa surpresa: o trabalho de seu jovem ator, George Pistereanu, outro rosto adolescente marcado pela maturidade interpretativa.