Se do lado de fora do Cine Brasília fazia um calor exasperante, dentro do cinema a noite do último domingo (21) foi morna. A programação da penúltima noite da Mostra Competitiva do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que termina hoje, contou com dois curtas irregulares e um longa mediano.
O curta B-Flat, de Mariana Youssef, se passa na Índia. Com 24 minutos de duração, o filme tem estrutura de longa-metragem e uma história que não convence ninguém. O documentário carioca Luz, de Gabriel Medeiros, tem uma proposta bastante interessante e ótima fotografia, mas não impressiona ao retratar, de maneira bastante artificial, a história de famílias que vivem sem luz elétrica em algumas partes do estado do Rio de Janeiro.
Estreia do diretor pernambucano Gabriel Mascaro na ficção, Ventos de Agosto recebeu menção honrosa no Festival de Locarno pouco antes de chegar a Brasília. Após o documentário Doméstica, Mascaro faz agora um retrato poético da vida e da morte tendo como pano de fundo paisagens paradisíacas do Nordeste brasileiro. Com o elenco quase todo formado por não-atores, acompanhamos a rotina da protagonista Shirley, vivida pela bela atriz Dandara de Morais, e seu namorado, o pescador Jeison (Geová Manoel dos Santos).
Indecisão
Fã de punk rock, Shirley veio da cidade grande para cuidar da avó, mas não é muito feliz com a vida que leva na pacata vila de pescadores. O personagem Jeison, que a princípio parece ser um mero coadjuvante, ganha força a partir da metade do filme. Ele acaba tomando conta da história quando começa a lidar de maneira bastante atípica com a morte ao encontrar um corpo em decomposição próximo de sua casa. Destaque para a cena nonsense em que Jeison e um amigo velam o tal corpo no meio da rua, bebendo ao som de Baby Can I Hold You, de Tracy Chapman.
O filme peca em não se decidir entre o documental e a fábula. Ventos de Agosto descreve o cotidiano da vila lentamente devorada pelo mar, mas não consegue ir além. Apresenta uma fotografia competente, mas traz um roteiro inconsistente. Ao final, temos a mesma sensação de impotência de Jeison, que luta para conter o avanço das águas sobre o cemitério local, ao sentir que o filme poderia ser, mas não é.
Clássico de Glauber Rocha vira exposição
Homenageado no Festival de Brasília, ao ser exibido em sua noite de estreia, Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, é considerado um clássico do cinema nacional. Para comemorar o aniversário da obra, que completa 50 anos este ano, uma exposição foi montada na capital, em cartaz no Museu Nacional da República (Esplanada dos Ministérios) até domingo, com entrada franca.
O público tem a oportunidade de ver fotos feitas durante as gravações. Elas mostram cenas, atores, locações, a direção de Glauber Rocha, além de instalações com vídeos. Em uma das salas, é possível acompanhar a reprodução do roteiro original do longa. Para a filha de Glauber, a cineasta e produtora Paloma Rocha, a exposição tem significado especial. Junto com a família e a filha, ela trabalhou durante dez anos para restaurar filmes, fotos, documentos e desenhos feitos por Glauber. O material exibido é resultado desse esforço. “Foi um privilégio fazer essa restauração”, diz.