Logo nas primeiras notas é possível notar que Música de Brinquedo é um álbum diferente: Pato Fu conseguiu transformar antigos sucessos como Sonífera Ilha e My Girl em músicas divertidas e inocentes, mas que ainda assim são muito fiéis às versões originais. O segredo são as ferramentas escolhidas pela banda mineira: as composições foram inteiramente recriadas com instrumentos de brinquedo. É com este novo conceito que o grupo toca na edição deste ano do Porão do Rock, no dia 11 de setembro.
Embora transformar o estúdio em uma brinquedoteca pareça muito divertido, montar o ambicioso álbum não foi brincadeira. A banda passou dias a fio no estúdio quebrando a cabeça para descobrir formas de criar melodias a partir dos sons agudos e repetitivos que, sozinhos, são irritantes, mas que nas mãos certas tornam-se música. Assim a banda procurou tirar o melhor de cada inusitado “instrumento” – entre eles carrinhos de polícia, tubos de plástico, caixas de fósforo, tecladinhos e xilofones.
“A gente não tinha nada, então procurávamos em lojinhas, pensando o tempo todo no que poderia dar certo”, conta Fernanda Takai. Para a banda não bastava somente tocar as melodias em instrumentos miniaturas – eles foram em busca de substitutos diferentes para cada elemento das músicas, fazendo o que podiam com brinquedos muito limitados e quase sempre desafinados. Assim a sanfona de Frevo Mulher foi substituída pelo som de um mini teremim, e até o barulho de um elefante de brinquedo pode ser ouvido em Live and Let Die.
A ideia surgiu em 1996, quando a banda se encantou com um álbum do Snoopy, cujo repertório consistia em músicas dos Beatles interpretadas com instrumentos infantis. Como experiência, há cerca de um ano o grupo gravou Primavera, que hoje é a primeira faixa do disco. Satisfeita com o resultado, a banda resolveu tocar o projeto e começou a brincadeira de adaptar as músicas originais na base da tentativa e erro.
Além do prazer de ouvir doces melodias construídas somente com objetos infantis, Música de Brinquedo oferece também o toque especial do back vocal usado nas faixas. Logo em Primavera é impossível não abrir um sorriso ao ouvir as vozes de Nina Takai e Mariana Devin cantando “vai chuva” com o jeito espontâneo típico das crianças de seis anos. Nas próximas 11 faixas o pequeno Matheus D’Alessandro assume com a amiguinha Nina, dando um tempero a mais ao álbum.
“Para quem é pai isso é truque sujo, é inevitável deixar de ficar emocionado”, brinca Fernanda Takai, que emprestou a filhota para o álbum. “Quero que ela tenha uma boa recordação da infância. O trabalho todo foi nosso, as crianças brincaram de fazer disco”, explica. Todo o processo foi feito respeitando-se o ritmo dos pequenos cantores, que nunca passaram mais de 3 horas no estúdio. Assim, em doses homeopáticas, as vozinhas passaram a fazer parte do álbum em apenas três dias.
Mas engana-se quem pensa que a imersão no universo infantil transformou Música de Brinquedo em um álbum para crianças. Descrito pelos autores como um CD “para universos diversos”, o projeto composto de músicas de todas as décadas tem letras estranhas para o repertório comum dos pequenos, como Todos Estão Surdos e Twiggy Twiggy. O resultado foi um conjunto de releituras que ora surpreendem, ora parecem perfeitamente naturais. “Acho que a Rita vai gostar”, diz Fernanda Takai, referindo-se à nova versão de Ovelha Negra.
Música de Brinquedo é o resultado da busca constante que Pato Fu sempre fez por novos elementos, desde o estranho Rotomusic de Liquidificapum. “Faz parte dos discos do Pato Fu primeiro surpreender a nós mesmos. Gravamos quando temos boas idéias, não para seguir um cronograma”, resume Fernanda Takai. Com músicas tão diferentes, o show também não podia ser comum. A banda programa uma turnê pelo país que será inteiramente interpretada ao vivo, somente com os brinquedos usados na gravação. Os fãs também poderão conferir versões lúdicas de antigos sucessos do Pato Fu, que não estão presentes no novo CD. Como as crianças não poderão acompanhá-los, dois bonecos de monstros criados pela companhia Giramundo as substituirão no apoio das canções.
PORÃO DO ROCK
O Porão do Rock confirmou, além do Pato Fu – que participa pela segunda vez do Porão (a primeira foi em 2005) – a banda pernambucana Mombojó, que estreará no evento dentro da turnê de lançamento do terceiro disco, Amigo do Tempo.
Desta forma, o line up já conta com 11 nomes nacionais: André Matos (SP), Filhos da Judith (RJ), Gangrena Gasosa (RJ), Korzus (SP), Mechanics (GO), Mindflow (SP), Mombojó (PE), Música Diablo (SP), Pato Fu (MG), Sick Sick Sinners (PR) e Zemaria (ES), e quatro internacionais: She Wants Revenge (EUA), The Supersuckers (EUA), Los Primitivos (Argentina) e Right Ons (Espanha).
De Brasília, já foram convidadas 10 atrações: Cassino Supernova, Death Slam, Deceivers, Dynahead, Galinha Preta, Mork, Soatá, Trampa, Watson e Tributo a Led Zeppelin. Seis bandas sairão das três seletivas e mais duas atrações nacionais ainda serão anunciadas, totalizando 33 nomes no Porão 2010.
Fique por dentro de mais informações do festival no portal (em reformulação) www.poraodorock.com.br
