
Em A Poltrona Escura, o paraense Cacá Carvalho interpreta três contos do dramaturgo Luigi Pirandello (1867-1936), Prêmio Nobel de Literatura em 1934: Os pés na grama, O carrinho de mão e O sopro. O espetáculo, com direção de Roberto Bacci, trata do olhar inquietante e divertido, lúcido e cruel do autor italiano sobre a condição humana, sexta-feira (23), às 21h, no Teatro Oi Brasília.
A atuação rendeu a Cacá o Prêmio Shell de Melhor ator em 2003. A montagem foi considerada também um dos cinco melhores espetáculos daquele ano pela Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA).
No conto Os Pés na grama, o ator mostra a solidão e a perplexidade de um pai que ficou viúvo e nos leva a compreender a cruel sucessão das gerações e o isolamento progressivo dos que vivem a última fase da vida. Em O Carrinho de mão, um grande e famoso advogado desmascara a miséria da condição humana com a revelação de um inconfessável prazer. Por fim, O Sopro apresenta um homem comum que descobre ter o poder de matar o próximo juntando o polegar com o indicador da mão direita e soprando neles. O absurdo chega ao ponto de tornar-se uma epidemia, que acabará por destruir até o próprio protagonista.
Nascido em Belém (Pará), o ator e diretor Carlos Augusto Carvalho Pereira, o Cacá Carvalho, 58 anos, ficou nacionalmente conhecido graças ao doce portador de deficiência mental Jamanta da novela Torre de Babel (1998/1999). Com o sucesso, o personagem retornou em outro folhetim da TV Globo, Belíssima (2005/2006), ambas escritas por Sílvio de Abreu. Cacá participou também de outras novelas e minisséries na telinha, tais como Renascer (1993), A Muralha (2000), A Pedra do Reino (2007), Mandrake (2007) e O Cego e o Louco (2007). No cinema, atuou em filmes como Jogo Duro (1985), Exu-Piá, Coração de Macunaíma (1987), Lendas Amazônicas (1998) e Outras Estórias (1999).
Mas foi no teatro que Cacá mais se desenvolveu como artista. Começou entre 1968 e 1969 na Universidade de Belém participando dos grupos Teatro Experiência e Barca da Cultura da Amazônia. Em São Paulo, fez dois anos de formação no Piccolo Teatro. Novamente na capital paraense, ao lado do autor Aderbal Freire-Filho, participou de um espetáculo com textos de Qorpo-Santo.

Em 1976, já radicado na capital paulista, participou de uma produção de Morte e Vida Severina, no Teatro Popular do Sesi, até integrar o grupo de pesquisa (selecionado por Antunes Filho) para encenar Macunaíma, em 1978. Reconhecido como brilhante revelação de intérprete, manteve-se no papel-título até desligar-se do grupo e mudar-se para Nuremberg (Alemanha), em 1980, onde estagiou com a diretora francesa Arianne Mnouchkine, fundadora do Théâtre du Soleil, em Paris.
De volta ao Brasil, decidiu abandonar o teatro e se tornar artesão. Em 1982, porém, voltou aos palcos sob a direção de Paulo Yutaka para a realização de Teatro Maluco de Zé Fidelis, baseado em crônicas do humorista paulistano. No mesmo ano, com direção de Juca de Oliveira, atuou em Otelo, de William Shakespeare. Participou de A Ley de Linch, de Walter Quaglia, e integrou o elenco de Hamlet, também de Shakespeare, sob direção de Marcio Aurelio, ambas em 1984.