IVAN FINOTTI
SÃO PAULO, SP
Filmes com personagens com deficiência visual estão na moda, dado o sucesso de “O Homem nas Trevas”, de 2016, e sua sequência, lançada no ano passado. Neles, Stephen Lang faz um homem que não vê que sua casa é invadida por ladrões, na primeira obra, e sequestradores, na segunda.
Agora estreia no Brasil “Veja por Mim”, que aborda mais ou menos a mesma temática. Sophie é uma adolescente que sofre de uma doença rara que a cegou recentemente. Ansiosa para se virar sem depender de ninguém, a mocinha começa a arrumar trabalhos para preencher o tempo, como ir cuidar de um gato numa mansão afastada durante a viagem da proprietária.
Para transitar por lugares desconhecidos, ela tem um segredinho. Faz uma ligação de vídeo para seu melhor amigo, que conta o que vê pela câmera do celular de Sophie. Ela também passa a usar um aplicativo para deficientes visuais que faz exatamente a mesma coisa, ou seja, ao apontar seu telefone para a frente, uma pessoa do outro lado da linha a ajuda a se movimentar.
Agora só falta aproveitar a mansão, talvez tomando um vinho roubado da adega. Mas a vida de Sophie não será fácil assim. Homens espionam a casa. Depois, a invadem. Vão até o cofre e tentam arrombar a porta.
É até covardia inventarem uma história dessas. Pôr uma garota cega sozinha à mercê de três ladrões, potencialmente cruéis? Pois é. “Veja por Mim” não tem um pingo de novidade. Para piorar, o diretor Randall Okita não sabe fazer suspense.
Essa sinopse, aliás, é exatamente a mesma do clássico “Um Clarão nas Trevas”, de 1967, no qual ninguém menos do que Audrey Hepburn faz a garota cega que tem a casa invadida por um trio de bandidos. Naquela obra, eles procuravam por heroína. Neste aqui, é só dinheiro mesmo.
Só que “Um Clarão nas Trevas”, de Terence Young, é uma aula de suspense. Jonathan Demme revisitou o gênero “garota cega” de forma magistral no final de “O Silêncio dos Inocentes”, quando pôs a agente Clarice Starling -vivida por Jodie Foster- no escuro enquanto seu algoz Buffalo Bill dançava ao seu redor com óculos de visão noturna.
Randall Okita não chega nem perto dessas caras, mas ainda há algo pior neste filme -o carisma da atriz Skyler Davenport, que faz Sophie. Sua personagem é extremamente antipática e o espectador acaba sentindo muito pouca empatia pela moça.
Vale dizer que a atriz Skyler Davenport, de 30 anos, ficou cega há dez anos, também devido a uma doença rara. É o mesmo caso de “No Ritmo do Coração”, que ganhou o Oscar de melhor filme neste ano, e apresenta uma família surda sendo interpretada por atores surdos. Mas, no caso de Davenport, sua condição não parece auxiliar muito a obra final.
VEJA POR MIM
Onde Em cartaz nos cinemas
Classificação 14 anos
Elenco Skyler Davenport, Jessica Parker Kennedy, Kim Coates
Produção Canadá, 2021
Direção Randall Okita
Avaliação Ruim