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Cinema

‘Pluft, o Fantasminha’ tem ex-BBB em papel bobo e 3D dispensável

Longa infantil que adapta peça de Maria Clara Machado carrega na pós-produção e se perde com piadas de pum e cocô

FolhaPress

21/07/2022 15h46

Nicolas Cruz e Lola Belli em cena do filme infantil ‘Pluft, O Fantasminha’, baseado na peça de Maria Clara Machado – Divulgação

IEDA MARCONDES
SÃO PAULO, SP

Filmado em 2017, mas com muitos efeitos especiais para serem adicionados na pós-produção, “Pluft, o Fantasminha” estava programado para estrear em julho de 2020, mas antes veio a pandemia. O primeiro longa infantil em 3D feito no Brasil não poderia ser lançado direto no streaming, já que foi pensado para a tela grande do cinema -mas a espera de dois anos, finalmente, acabou.

Baseado no clássico da dramaturgia infantil, escrito por Maria Clara Machado em 1955, “Pluft, o Fantasminha” já havia sido adaptado em 1962 pelo cineasta franco-brasileiro Romain Lesage. Estrelado por Dirce Migliaccio, foi o primeiro longa colorido revelado no Brasil e contava com as participações ilustres de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, além de atores como Nelson Dantas, Fábio Sabag e Kalma Murtinho.

Sem a aprovação de Maria Clara Machado, que não gostou das invenções de Lesage, e com uma reação negativa dos intelectuais da época, então adeptos da estética do cinema novo, o filme não foi um sucesso retumbante, pois também concorreu nos cinemas com “O Pagador de Promessas” e “As Diabólicas”, de Henri-Georges Clouzot -mas inspirou um seriado produzido pelas TV Educativa e pela Globo.

Desta vez, a obra tem a direção de Rosane Svartman, de “Tainá – A Origem” e “Desenrola”, e roteiro adaptado por José Lavigne e Cacá Mourthé, que estiveram juntos na montagem de “Pluft” dirigida por Maria Clara em 1977. O elenco conta com Juliano Cazarré, o Alcides da novela “Pantanal”, Fabiula Nascimento, de “Estômago”, e Arthur Aguiar, polêmico vencedor do BBB 22 -que sequer foi citado na matéria do “Fantástico” sobre o filme.

Interpretado por Nicolas Cruz, Pluft é um fantasminha que morre de medo de gente e que mora numa casa abandonada com a mãe, Fabiula Nascimento no papel da Dona Fantasma, e o tio Gerúndio, “desencarnado” por José Lavigne.

Tudo muda quando a casa é invadida pelo pirata Perna de Pau, vivido por Juliano Cazarré, e a pequena Maribel -a novata Lolla Belli como a menina raptada pelo temível larápio e o seu papagaio Zé Bicudo.

Arthur Aguiar, Lucas Salles e Hugo Germano são, respectivamente, Sebastião, João e Julião, três marinheiros atrapalhados -no geral, papéis bobos, é bom que se diga- que tentam resgatar Maribel das garras do Perna de Pau, mas sem grande sucesso. Para derrotarem o pirata malvado de uma vez por todas, a menina e o fantasma vão ter de formar uma amizade inusitada, aprendendo a superar os próprios medos e aceitando as diferenças um do outro.

Svartman não quis retratar os fantasmas de maneira tradicional, acoplando uma imagem meio transparente dos personagens às cenas. Sua solução foi filmar as assombrações numa piscina, o que garante movimentos mais fluidos, mas também cria o problema das bolhinhas de ar que nem sempre podem ser removidas na pós-produção. Também pelos olhos dos atores, é fácil distinguir o que foi ou não filmado debaixo d’água.

Fora o apelo comercial, não há muito que justifique o uso da tecnologia 3D, não há grandes mergulhos ou objetos sendo atirados contra o espectador. Com fotografia assinada por Dudu Miranda, a maioria dos planos são estáticos e não tiram muito proveito da profundidade de campo, apesar da direção de arte caprichada de Fabiana Egrejas, que preenche os cenários com detalhes interessantes.

Trata-se de um filme infantil, é claro, mas incomoda a “gag” visual do pirata defecando no banheiro da taberna e, mais tarde, a longa piada envolvendo um espírito peidorreiro. É esperado que o vilão seja mau e tenha falas problemáticas, mas é de causar estranheza quando a Dona Fantasma diz que o Pluft levaria uma “surra” de seu pai -termo que poderia ter sido trocado por “bronca” para se adequar ao século 21.

Apesar dos defeitos, a trilha sonora de Tim Rescala é agradável, com destaque para as músicas de Frejat e Simone Mazzer. Cazarré e Nascimento fazem a festa com seus papéis, e Lolla Belli interpreta uma Maribel corajosa e determinada. Com pouco menos de uma hora e 20 minutos de duração, sem contar os créditos finais, “Pluft” agora terá de enfrentar inimigos muito mais poderosos do que os de 1962 -“Thor: Amor e Trovão” e “Minions 2”.

PLUFT, O FANTASMINHA
Onde Em cartaz nos cinemas
Classificação Livre
Elenco Juliano Cazarré, Lolla Belli e Cleber Salgado
Produção Brasil, 2021
Direção Rosane Svartman
Avaliação Regular

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