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Cinema

Cinema mineiro em movimento ganha força com Suçuarana

Filme de Clarissa Campolina e Sérgio Borges estreia nesta quinta-feira (11) após circuito internacional de festivais

Tamires Rodrigues

11/09/2025 10h25

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Foto: Divulgação/Embaúba Filmes

A estrada como metáfora da vida, a paisagem devastada pela mineração e a busca incessante por pertencimento formam o coração de Suçuarana, novo longa dos diretores mineiros Clarissa Campolina e Sérgio Borges. Depois de uma trajetória por festivais internacionais, o filme estreia nesta quinta-feira (11) no Brasil e propõe uma reflexão profunda sobre deslocamento, resistência e a força de uma protagonista feminina que recusa as convenções sociais.

O ponto de partida da criação foi o livro A Fera na Selva, de Henry James. A partir dele, os diretores perceberam ecos de um modelo em crise, mas decidiram criar uma personagem que fosse além. “Queríamos uma protagonista feminina que não fosse domesticada, que estivesse sempre em movimento, imprevisível e questionando os papéis impostos às mulheres”, conta Clarissa em entrevista ao Jornal de Brasília. Dora, interpretada por Sinara Teles, nasce desse gesto de subversão: uma mulher que carrega apenas uma mochila e a memória de uma fotografia da mãe, caminhando por Minas Gerais em busca do mítico Vale do Suçuarana.

O filme dialoga com a tradição dos road movies, mas dentro de uma chave brasileira. “A primeira parte é claramente uma jornada de estrada, marcada pela presença da mineração em Minas e pelas marcas que essa exploração deixou no território”, explica Sérgio Borges. Para ele, a paisagem devastada ajuda a narrar tanto a história coletiva quanto o estado de espírito da protagonista. O ponto de virada acontece quando Dora encontra uma comunidade, inaugurando outra parte do filme, marcada por solidariedade e coletividade.

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Os diretores mineiros Clarissa Campolina e Sérgio Borges. – Foto: Dibulgação

Essa imersão no território mineiro despertou conexões com públicos fora do Brasil. “A questão ambiental é urgente no mundo todo. E a construção de uma personagem feminina que subverte o modelo esperado também é muito comentada, independentemente do país”, observa Clarissa. Sérgio acrescenta que, na América Latina, o diálogo é ainda mais forte: “Países como o Peru, que também têm mineração, ou outras nações colonizadas e marcadas por exploração, entendem imediatamente os ecos da história”.

Para além dos debates ambientais e de gênero, a presença do filme em festivais internacionais revelou um aspecto afetivo inesperado. “Percebemos como brasileiros que vivem fora se emocionam ao ver no cinema a brasilidade, a conexão com personagens que remetem às suas raízes. Para muitos, o filme se tornou uma espécie de refúgio de afeto”, comenta Sérgio.

A parceria com Sinara Teles também foi central. A preparação envolveu caminhadas reais pelas estradas mineiras, permitindo que a atriz absorvesse a atmosfera de deslocamento e silêncio que a personagem exige. “Dissemos a ela: primeiro você caminha, depois você encontra. Era importante que o corpo viesse antes da palavra”, relembra Clarissa. A composição também dialogou com a vida real de atores como Carlos Francisco e membros de comunidades quilombolas, aproximando ficção e experiência.

Para os diretores, Suçuarana marca uma maturidade em suas trajetórias cinematográficas. “É um filme que reflete o resultado de anos de experimentação. Há elementos do realismo fantástico que já trabalhamos antes, mas aqui se encontram de forma mais madura”, avalia Sérgio. Clarissa completa: “Esse amadurecimento também tem a ver com uma política pública que, naquela época, nos deu tempo de desenvolver o roteiro com calma. Hoje, ver o filme estreando em circuito comercial é uma vitória coletiva”.

No momento em que blockbusters dominam as salas, Suçuarana chega como um respiro de cinema autoral brasileiro, carregando no olhar contemplativo de Dora não apenas a busca por um vale mítico, mas também um espelho da travessia de tantos que resistem e reinventam suas jornadas.

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