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Cinema

58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro abre as cortinas

Entrevista exclusiva com Sara Rocha e Eduardo Valente revela os bastidores da edição histórica que celebra 60 anos do mais longevo festival de cinema do país

Tamires Rodrigues

12/09/2025 5h00

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Foto: Toninho Tavares/Divulgação

O 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro começa nesta sexta-feira (12) com a missão de celebrar seis décadas de história. Mais do que exibir filmes, o evento enfatiza seu papel como palco de memória, resistência e futuro do cinema nacional. Em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, a diretora-geral Sara Rocha e o diretor artístico Eduardo Valente compartilharam os bastidores de uma edição que equilibra o peso da tradição com a pulsação do presente.

A noite de abertura, no dia 12, exibirá O Agente Secreto, novo longa de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura e já premiado em Cannes e Lima. O encerramento ficará com A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo, que percorreu festivais internacionais e conquistou prêmios como o de Melhor Filme do Júri Infantil no Uruguai.

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Foto: Divulgação

Para Sara Rocha, conduzir a edição que marca os 60 anos do festival é um gesto de reverência. A programação foi pensada para conectar gerações, resgatando obras da primeira edição, em 1965, e apresentando produções inéditas que representam o novíssimo cinema brasileiro. Entre os destaques está a homenagem a Fernanda Montenegro, primeira vencedora do Troféu Candango de Melhor Atriz, que será celebrada com a exibição de A Falecida e com a entrega do Troféu Candango de Conjunto da Obra. “É uma grande honra e um grande desafio estar à frente dessa edição comemorativa, que busca resgatar a tradição e, ao mesmo tempo, projetar o futuro”, afirma.

Com 80 filmes distribuídos em mostras e sessões especiais, o festival cresce em um dia e amplia o número de produções na Mostra Competitiva Nacional e na Mostra Brasília. Esta última terá sessões diárias com júri popular, fortalecendo a participação do público. Outro ponto central é a descentralização, levando exibições a Planaltina, Gama e Ceilândia. Para formar novos públicos, estudantes da rede pública terão transporte subsidiado para participar das sessões.

O olhar para o futuro também aparece em iniciativas estruturais. Sara Rocha lembra a criação do Conselho Consultivo do Audiovisual do DF e o concurso de projetos para o anexo do Cine Brasília, que deverá abrigar reserva técnica, espaço para projeção e novas instalações. A parceria inédita com a TV Globo Brasília, que exibirá produções locais em TV aberta, é outro marco. “É um avanço histórico. Essas obras circularão muito além das salas de cinema, alcançando um público amplo e diversificado”, comemora.

Já Eduardo Valente destaca que a seleção de 2025 reforça o papel do festival como espelho do Brasil. A Mostra Competitiva Nacional reúne filmes de 14 estados, cobrindo todas as regiões, sem repetição entre longas e curtas. Para ele, essa diversidade surgiu de forma natural, reafirmando o caráter nacional do evento. “Uma das marcas do festival ao longo de 60 anos é essa possibilidade de representar o cinema brasileiro como um todo. Estar em Brasília, cidade central e capital do país, também significa ser ponto de encontro de diferentes olhares”, explica.

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Foto: Divulgação

Segundo o diretor artístico, os filmes selecionados dialogam com diferentes tempos históricos, cruzando memórias remotas e futuros possíveis. “As conexões entre os filmes surgem do olhar do público. Nós já falamos muito ao selecionar. O que importa agora é deixar que os espectadores, críticos e realizadores descubram seus próprios caminhos”, comenta.

A diversidade de vozes também se destaca. Realizadores indígenas, negros e mulheres ocupam espaço central, refletindo não apenas uma preocupação curatorial, mas a vitalidade do cinema brasileiro contemporâneo. “Essas autorias variadas permitem enxergar os diferentes ‘Brasis’ a partir de prismas diversos. O público sempre nos surpreende ao criar novas interpretações sobre essas vozes”, observa Valente.

As homenagens reforçam o elo entre memória e presente. Além de Fernanda Montenegro, serão celebrados Chico Sant’Anna, a cineasta Lúcia Murat e a pesquisadora Ivana Bentes. Valente lembra que a escolha traduz a ideia de uma história viva e pulsante, feita por artistas e intelectuais que seguem produzindo e transformando o cinema. No caso de Lúcia Murat, sua trajetória conecta-se ao espírito do Prêmio Leila Diniz, voltado para diretoras que desafiam convenções. Já a Medalha Paulo Emílio Salles Gomes concedida a Ivana Bentes reconhece o compromisso do festival com o pensamento crítico, a preservação e a pesquisa audiovisual.

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Foto: Divulgação

Outra novidade é a Mostra Caleidoscópio, que terá júris especiais, incluindo a Fipresci, entidade internacional de crítica que completa 100 anos, e um júri jovem em parceria com a Universidade de Brasília. “O festival sempre dialogou com a universidade e com o público jovem. São olhares inquietos, que propõem ideias para o cinema que ainda virá”, ressalta Valente.

Entre tradição e renovação, o Festival de Brasília mantém-se fiel à sua vocação de palco de encontros, contradições e descobertas. Em 2025, mais do que nunca, a mostra demonstra sua relevância cultural e política, celebrando memórias, homenageando trajetórias e abrindo espaço para novas vozes. Como resume Sara Rocha: “O festival é um espelho do país, mas também uma janela para onde queremos ir.”

Mostra Competitiva Nacional – LONGAS

Morte e Vida Madalena, de Guto Parente (CE)
Xingu à Margem, de Wallace Nogueira e Arlete Juruna (BA)
Quatro Meninas, de Karen Suzane (RJ)
Corpo da Paz, de Torquato Joel (PB)
Aqui Não Entra Luz, de Karol Maia (MG)
Assalto à Brasileira, de José Eduardo Belmonte (SP)
Futuro Futuro, de Davi Pretto (RS) 

Mostra Competitiva Nacional – CURTAS

Logos, de Britney (RS)
Safo, de Rosana Urbes (SP)
Dança dos Vagalumes, de Maikon Nery (PR)
Faísca, de Bárbara Matias Kariri (AC)
Laudelina e a Felicidade Guerreira, de Milena Manfredini (RJ)
Boi de Salto, de Tássia Araújo (PI)
Couraça, de Susan Kalik e Daniel Arcades (BA)
A Pele do Ouro, de Marcela Ulhoa e Yare Perdomo (RR)
Cantô Meu Alvará, de Marcelo Lin (MG)
Ajude Os Menor, de Janderson Felipe e Lucas Litrento (AL)
Replika, de Piratá Waurá e Heloisa Passos (MT)
Fogo Abismo, de Roni Sousa (DF) 

MOSTRA BRASÍLIA – LONGAS
Vozes e Vãos, de Edileuza Penha de Souza & Edymara Diniz
Mil Luas, de Carina Bini
Maré Viva Maré Morta, de Claudia Daibert
A Última Noite da Rádio, de Augusto Borges
Menino Quem Foi Seu Mestre?, de Rafael Ribeiro Gontijo e Sandra Bernardes

MOSTRA BRASÍLIA – CURTAS

Notas Sobre a Identidade, de Marisa Arraes
Dizer Algo Sobre Estar Aqui, de Vaga-mundo: poéticas nômades
O Bicho Que Eu Tinha Medo, de Jhonatan Luiz
A Brasiliense, de Gabmeta
O Fazedor de Mirantes, de Betânia Victor e Lucas Franzoni
Rainha, de Raul de Lima
Terra, de Leo Bello
Dois Turnos, de Pedro Leitão
Três, de Lila Foster
O Cheiro do Seu Cabelo, de Clara Maria Matos
Rocha: Substantivo Feminino, de Larissa Corino e Patrícia Meschick

MOSTRA CALEIDOSCÓPIO
Nosferatu, de Cristiano Burlan
Palco Cama, de Jura Capela
Atravessa Minha Carne, de Marcela Borela
Uma Baleia Pode Ser Dilacerada Como Uma Escola de Samba, de Marina Meliande, de Felipe M. Bragança
Nimuendajú, de Tania Anaya

MOSTRA FESTIVAL DOS FESTIVAIS

Cais, de Safira Moreira
A Mulher Sem Chão, de Auritha Tabajara e Débora McDowell
Vasta Natureza de Minha Mãe, de Aristótelis Tothi e Inez dos Santos
As Travessias de Letieres Leite, de Iris de Oliveira e Day Sena

MOSTRA COLETIVAS IDENTIDADES

Pau d’Arco, de Ana Aranha
Notas Sobre um Desterro, de Gustavo Castro
A Voz de Deus, de Miguel Antunes Ramos

MOSTRA HISTÓRIA(S) DO CINEMA BRASILEIRO

Relâmpagos de Críticas Murmúrios de Metafísicas, de Julio Bressane e Rodrigo Lima
Os Ruminantes, de Tarsila Araújo e Marcelo Mello
Anti-heróis do Udigrudi Baiano, de Henrique Dantas

SESSÕES ESPECIAIS

Sérgio Mamberti – Memórias do Brasil, de Evaldo Mocarzel
Para Vigo Me Voy, de Lírio Ferreira e Karen Harley
O Nordeste sob a Caravana Farkas, de Arthur Lins e André Moura Lopes
Hora do Recreio, de Lúcia Murat (Prêmio Leila Diniz)
Ontem, Hoje e Amanhã e O Cego Estrangeiro, de Marcius Barbieri
O Socorro Não Virá, de Cibele Amaral

60 ANOS DO FESTIVAL DE BRASÍLIA

São Paulo SA, de Luiz Sérgio Person
A Falecida, de Leon Hirszman
Vinil Verde; Noite de Sexta Manhã de Sábado; e Recife Frio, de Kleber Mendonça Filho

CLÁSSICOS BRASILEIROS 

Terceiro Milênio, de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer
A Lenda de Ubirajara, de André Luiz Oliveira
Viramundo, Geraldo Sarno; Nossa Escola de Samba, Manuel Horacio Giménez; Hermeto, Campeão, de Thomaz Farkas

HOMENAGEM A JEAN-CLAUDE BERNARDET

Mensagem de Sergipe
O Homem do Fluxo
Vim e Irei como uma Profecia
Homenagem a Kiarostami 

FESTIVALZINHO

Quando A Gente Menina Cresce, de Neli Mombelli
Hacker Leonilia, de Gustavo Fontele Dourado
Notícias da Lua, de Sérgio Azevedo
A História de Ayana, de Cristiana Giustino e Luana Dias
Seu Vô e a Baleia, de Mariana Elisabetsky
Baú, de Matheus Seabra e Vinicius Romadel

SERVIÇO – 58º FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Data: 12 a 20 de setembro de 2025
Locais: Cine Brasília (106/107 Sul), Complexo Cultural de Planaltina, Sescs Gama e Ceilândia
Mais informações: festcinebrasilia.com.br

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