O diretor Abel Ferrara é um apaixonado pela profissão. Seus filmes sempre dividem a crítica, mas ninguém nega a dedicação do cineasta ao ofício. Afinal, para poder começar a carreira atrás das câmeras, o nova-iorquino dirigiu e atuou em um filme pornô com a própria namorada. “A gente fazia o que fosse preciso”, diz Ferrara. “Em troca, não abríamos mão de nossa liberdade criativa.”
Essa “liberdade” será exibida em mostra que começa hoje e vai até o dia 29 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul). Serão 34 sessões com a filmografia do cineasta, sempre com entrada franca. “É agora ou nunca. Não estive no Brasil antes, mas amo a música do País”, exalta o diretor de 60 anos, que foi homenageado com a mesma mostra no Rio de Janeiro e São Paulo.
Mas não se deixe enganar pelas palavras doces. O cinema de Ferrara passa longe de ser açucarado. Ele é famoso por filmes que retratam a pior espécie de ser humano – policiais corruptos, traficantes, assassinos, mafiosos.
Foi assim que chocou em O Assassino da Furadeira (1979), no qual também faz um artista plástico que sai para matar com, óbvio, uma furadeira. Nos anos 1980, tentou a vida como diretor de Miami Vice, a convite do amigo Michael Mann, então produtor da série, mas precisava de mais espaço.
Então produziu seus dois melhores longas: O Rei de Nova York (1990), retrato brutal do poder das facções criminosas, e Vício Frenético (1992), sobre um policial corrupto viciado e violento, que ganhou até uma refilmagem de Werner Herzog, em 2009.
“Gosto dos filmes de Herzog, mas ele roubou meu título, disse que não me conhecia e que não tinha visto o meu filme”, reclama Ferrara, que não viu o remake protagonizado por Nicolas Cage. “Fiz Vício Frenético com suor e sangue, e eles simplesmente pegaram o nome porque não conseguiriam o dinheiro de outra maneira”, critica. Irônico, porque Ferrara hoje é pouco lembrado como parte da geração que mudou Hollywood nos anos 1970.
Reconhecimento
Abel indicado para os festivais de Cannes (pela sequência Os Invasores de Corpos – A Invasão Continua), em 1993, e Berlim (o vampírico The Addiction), em 1995. Mas, desde o polêmico Maria (2005), anda esquecido, apesar de cultuado por Quentin Tarantino – a quem chama de “meu garoto”– e pela “geração internet”.
“Sei que é a maneira que eles encontram de ver meus filmes, mas é pirataria. Não se deve roubar o trabalho de outra pessoa”, afirma ele. O diretor agora procura distribuição para seu mais recente filme, 4:44 Last Day on Earth. Também prepara um longa baseado em escândalos sexuais como o de Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-geral do Fundo Monetário Internacional – FMI.
Abel Ferrara – De hoje até 29 de abril. De terça a domingo, no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Esportivos Sul). Verifique as sinopses dos filmes no site: bb.com.br/cultura. Entrada franca. Informações: 3108-7600. Não recomendado para menores de 18 anos.