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Quem é rei, nunca perde a majestade…

Pelé completa hoje 80 anos. Leia nesta reportagem especial que conta curiosidades da trajetória do maior jogador de futebol de todos os tempos

Pedro Marra

23/10/2020 6h00

Os 80 anos do Rei Pelé e seus grandes feitos

No aniversário do maior camisa 10 de todos os tempos, saiba histórias e curiosidades sobre ele

Edson Arantes do Nascimento, o mineiro de Três Corações-MG, merecidamente conhecido como o Rei Pelé, completa hoje 80 anos de vida. Dono de três taças de Copa do Mundo (1958, 1962 e 1970), se tornou o maior artilheiro da história do futebol com 1281 gols reconhecidos pela FIFA, e virou símbolo maior do Santos Futebol Clube, onde colecionou diversos títulos importantes.

Quebrar recordes foi uma das marcas de Pelé enquanto atleta. Até hoje, o camisa 10 é o campeão mais jovem da história das Copas. Em 1958, ele marcou cinco gols no mundial de seleções, realizado na Suécia. Os donos da casa perderam de 5 x 2 para o Brasil, com dois do rei. Naquela final, mesmo que ainda jovem, o pequeno Edson marcou um dos maiores golaços de sua carreira. Ele deu um belo chapéu no zagueiro sueco Bengt Gustavsson, e chutou no canto do goleiro Karl-Oskar Svensson para marcar o terceiro gol da Seleção Canarinho na decisão.

Mas nada disso seria possível se a relação com o futebol não viesse desde pequeno, quando o camisa 10 ainda tinha o apelido de “Dico” no meio da família. Em 1944, Dondinho, pai de Pelé, jogava pelo Vasco da Gama de São Lourenço-MG. Nos treinos, o pequeno Edson gritava muito o nome do goleiro da equipe, Bilé, quem admirava bastante. Por ser criança, se enrolava para falar corretamente o nome do jogador, e dizia Pilé. Ali surgiu Pelé para o mundo.

MILESIMO13 S9 ARQUIVO 19/11/69 ( ESPECIAL ESP ESTADO) VASCO VS SANTOS 1000 GOLS ( PELE ) – FOTO REPRODUCAO/AE

Mais tarde, em oito de agosto de 1956, Pelé fez sua estreia em jogo profissional pelo Santos com apenas 15 anos de idade. Ele marcou o último gol da goleada de 7 x 1 contra o Corinthians de Santo André, na Vila Belmiro. em cima do goleiro Zaluar. Naquele momento, o futuro Rei do futebol levantou sua primeira taça na carreira: o Troféu Tiradentes.

Aí em diante, Pelé colecionou títulos pelo Peixe e balançou mais redes adversárias. Foi decacampeão paulista pelo Santos entre 1958 e 1973, época em que os torneios regionais eram mais valorizados que atualmente. O camisa 10 ainda ganhou duas vezes a Taça Libertadores pelo Peixe em 1962 e 1963. Justamente nesses dois anos, o Rei também garimpou o Mundial de Clubes pelo Alvinegro Praiano. Pelo Santos F.C., Pelé marcou 1.091 gols em 1.116 jogos.

Uma das grandes curiosidades sobre a carreira de Pelé envolve o seu armário na Vila Belmiro, sede do Santos F.C. Após ele se aposentar, ele nunca mais foi aberto, só Pelé tem a chave.

O Santos já informou que nunca irá mexer ou revelar o conteúdo contido no armário. O próprio Pelé afirma que não há nada demais guardado por lá.

Milésimo gol

Em 19 de novembro de 1969, Pelé alcançou outra conquista importante na carreira: o milésimo gol. A marca veio na partida contra o Vasco, no Maracanã. O jogo estava 1 x 1 quando o Rei se chocou com o zagueiro Fernando Silva.

O juiz marcou a penalidade máxima, o que fez a imprensa ficar aglomerada atrás do gol à espera da marca histórica. Da marca da cal, Pelé chutou a bola no canto do goleiro Andrada, que não conseguiu impedir a vitória de 2 x 1 do Santos, e ficou marcado como o goleiro que levou o milésimo gol do Rei do futebol.

Após o feito, os jornalistas cercaram Pelé, que se emocionou e deixou uma mensagem de compaixão. “Pelo amor de Deus, olha o Natal das crianças, olha Natal das pessoas pobres, dos velhinhos cegos. Tem tantas instituições de caridade por aí. Pelo amor de Deus, vamos pensar nessas pessoas. Não vamos pensar só em festa. Ouça o que eu estou falando. É um apelo, pelo amor de Deus. Muito obrigado”, disse emocionado o camisa 10.

E a bola ficou redonda nos Estados Unidos

Não há como falar de Pelé sem citar a passagem do Rei pelo Cosmos, equipe de Nova Iorque-EUA. Sem nunca ter jogado em um clube europeu, o que muitos jogadores brasileiros fazem atualmente no Brasil, Pelé vestiu a camisa do time estadunidense entre 1975 a 1977, período em que marcou 65 gols.

Mas somente na última temporada que o camisa 10 ganhou um título pelo Cosmos. O Rei levantou a taça da extinta North American Soccer League (NASL), a liga nacional da época.

Justamente naquele ano ocorreu a despedida de Pelé dos gramados. Em 1º de outubro de 1977, a casa do Cosmos, o Giants Stadium, em New Jersey, estava cheia de torcedores fanáticos. Eram mais de 75 mil pessoas nas arquibancadas para assistir o amistoso contra o Santos, escolhido para coroar o fim de carreira do Rei do futebol.

Pelé disputou o primeiro tempo com o uniforme verde dos Cosmos, e fez até um gol de falta. Após o intervalo, voltou para vestir a camisa branca do Santos como forma de agradecer ao clube onde iniciou a vida profissional no esporte.

Quando a partida terminou, Pelé tirou a camisa 10 do Santos e a presenteou o ex-jogador Waldemar de Brito, seu descobridor para o futebol no Santos. Seu pai, Dondinho, recebeu a camisa do Cosmos no intervalo do jogo.

Ao final da cerimônia, foi carregado pelos colegas de equipe do Cosmos e acompanhado pelos jogadores santistas em uma volta olímpica no estádio.

“Quero aproveitar a oportunidade para pedir que deem mais atenção às crianças. Quero dizer que julgo o amor a coisa mais importante na vida, e que devemos nos ajudar sempre que possível. Digam comigo três vezes: amor, amor e amor”, disse Pelé em inglês (love, love, love).

A passagem do Rei pelos Estados Unidos foi um grande impacto para o mercado do futebol estadunidense.

Foram quebrados recordes de público, como em 9 de junho de 1977, quando o público no Giants Stadium foi de 62.394 pessoas, recorde para o futebol nos EUA naquele momento.

Décadas depois, os norte-americanos sediaram a Copa do Mundo de 1994, vencida pelo Brasil, por sinal. Nos dois seguintes, fundaram o campeonato nacional, a Major League Soccer (MLS).

Uma curiosidade é como ocorreu a estreia de Pelé no. No jogo contra o Dallas Tornado, em 15 de junho de 1975, o gramado do estádio Downing, em Nova Iorque, foi pintado de verde para cobrir diversas falhas e buracos. A estrutura tinha 40 anos e com capacidade para 22 mil pessoas.

A idolatria pelo Rei nos EUA é tão grande que ele ganhou uma praça em sua homenagem, em 1984: a Praça Pelé, situada em Los Angeles.

O jogador que parou uma guerra na África

O Rei Pelé parou uma guerra. Como jogador, o camisa 10 tinha uma força enorme mundialmente. Em 1969, na África, o Santos fez uma excursão pelo continente e jogou na República Democrática do Congo (chamada de Congo-Kinshasa à época), no Congo (o antigo Congo-Brazzaville) e na Nigéria (chamada de Biafra).

O fato ocorreu no jogo realizado em terras nigerianas, onde o amistoso do Santos diante da seleção da Nigéria fez parar uma guerra civil que durava dois anos. Quando o Santos deixou a África, o conflito foi retomado.

Segundo a delegação santista, o governo nigeriano decretou um cessar-fogo para que eles pudessem se deslocar do hotel para o estádio Ogbe em segurança e depois retornar ao local onde estavam hospedados.

Pelé se envolveu com uma guerra, e também com o Exército Brasileiro. Aos 18 anos de idade, o Rei dividiu o tempo de jogador de futebol com o serviço militar.

Ele mesmo se alistou e serviu o Exército Brasileiro por seis meses no 6º Grupo de Artilharia de Costa Motorizado, em Praia Grande (SP).

Como personagem plural, ele também se envolveu com a música. Tanto que compôs canções e participou de um álbum junto da cantora de Música Popular Brasileira (MPB) Elis Regina, em 1969.

Mas a música mais conhecida de Pelé é a popular “ABC”. A canção foi gravada em 1998 como parte da campanha “Brasil em Ação”, do governo federal, incentivando a alfabetização do povo brasileiro.

Outro fato curioso sobre a carreira do camisa 10 é como surgiu o apelido de “Rei do futebol”. No dia 25 de fevereiro de 1958, Pelé foi chamado de rei pela primeira vez em um jogo do Santos pelo Torneio Rio-São Paulo, no estádio Maracanã. O Alvinegro da Baixada Santista goleou o América-RJ por 5 a 3.

Nessa partida, Pelé marcou quatro gols, o que fez o grande jornalista Nelson Rodrigues escrever uma crônica. Nela, ele classificava o craque como rei do futebol com o seguinte título: “A realeza de Pelé”. O texto foi publicado na antiga Revista Manchete Esportiva.

Saiba Mais

Pelé ficou marcado como atacante, mas também exerceu a função de goleiro em algumas vezes na carreira. Ele precisou jogar embaixo das traves do Santos em quatro partidas, por conta de contusões ou expulsões dos titulares. A primeira vez foi em 1964 contra o Corinthians no Pacaembu em São Paulo. O Rei ainda vestiu as luvas contra o Comercial em 1969, Botafogo-PB em 1969, e Baltimore-EUA, no ano de 1973;

Filho de Pelé, Edson Cholbi do Nascimento, o Edinho, que também jogou no Santos, já foi preso cinco vezes. A detenção ocorreu em 2005, quando ele foi acusado de ter ligação com tráfico de drogas. Atualmente, Edinho está solto, e é técnico do time sub-23 do Alvinegro Praiano;

Além do futebol, Pelé fez aparições no cinema. O craque foi ator nos filmes: wFuga para a Vitória (1981), com Sylvester Stallone no elenco; e no longa nacional Os Trombadinhas (1979). Mas são os documentários em que retratam a vida do Rei do futebol. Pelé Eterno (2004) e Pelé: O Nascimento de uma Lenda (2016) são os que ilustram a carreira de Edson Arantes do Nascimento;

Pelé também é bastante cobrado por ex-jogadores negros por nunca ter sido uma voz ativa na luta antirracista no meio do futebol.

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