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Torcida

Pelé ficou mais próximo dos filhos com o passar dos anos

A exceção foi Sandra Regina Machado, filha reconhecida apenas na Justiça. Ela morreu em 2006, aos 42 anos, vítima de câncer na mama. Os dois não tinham contato

FolhaPress

29/12/2022 17h08

Alex Sabino
São Paulo, SP

Enquanto Pelé foi um mascate da bola, o requisitado garoto-propaganda, teve pouco tempo para os filhos.

Ele acompanhou a distância o crescimento deles porque nunca estava em casa ou havia se divorciado das mães. A aproximação com todos aconteceu a conta-gotas e veio com a maturidade. A exceção foi Sandra Regina Machado, filha reconhecida apenas na Justiça. Ela morreu em 2006, aos 42 anos, vítima de câncer na mama. Os dois não tinham contato.

Pelé é pai de Edinho, 52, Kely Cristina, 54 e Jennifer, 43, frutos do seu casamento com Rosemeri dos Reis Cholbi. Da relação com a cantora gospel Assíria Lemos nasceram os gêmeos Joshua e Celeste, 25. Flavia Cristina, 53, também foi admitida como filha apenas quando já adulta (como Sandra), mas sem batalha judicial.

“Cresci em Nova York, criado pela minha mãe, um filho de pais divorciados. Havia rebeldia em mim. Eu pensava: quem fez a minha mãe chorar? Foi aquele cara. Então eu era rebelde”, relembra Edinho, atualmente treinador.

Pelé se envolveu nos problemas dos filhos apenas quando essa intervenção se tornava inevitável. Ex-funcionários do Rei do Futebol ouvidos pela reportagem afirmam que isso se devia à preocupação com a própria imagem e com o que outras pessoas poderiam pensar dele.

Em entrevista à Folha de S.Paulo em 2021, quando Pelé completou 80 anos, Edinho contou que a primeira lembrança que tinha do pai era brincar de futebol com ele em uma casa que moravam no bairro da Ponta da Praia, em Santos. A bola era um travesseiro. Em Nova York, onde o jogador atuou pelo Cosmos em 1975, houve afastamento.

“Quando meus amigos perguntavam o que meu pai fazia, eu tinha vergonha de falar. Não tinha vergonha dele, mas de dizer que ele era jogador de futebol, um esporte que era visto como coisa de meninas [nos EUA]”, explicou.

Com Edinho crescendo praticamente sem a presença do pai na cidade americana, Pelé entrou em cena apenas quando soube que o filho começava a se envolver com gangues. Ligava para o time pelo qual o garoto atuava nos Estados Unidos para saber como ele se saía em campo.

Esforçou-se para que, de férias em Santos, o garoto fosse treinar na Vila Belmiro. Foi a fagulha que acendeu sua carreira de goleiro.

“Foi uma aproximação instantânea entre nós, do dia para a noite. Comecei a perceber quem era meu pai e o que ele representava. Começou a me ligar todos os dias para perguntar o que eu havia feito, algo que nunca havia acontecido antes”, recorda-se.

“Eu era muito carente, como qualquer filho que sente a ausência do pai. Tinha vontade de agradá-lo e orgulhá-lo. À medida que ele começou a me dar atenção e se interessar pela minha vida, houve essa conexão entre nós”, completa.

Isso não significa que Edinho tenha passado a ter tudo de mãos beijadas. Pelé sabia, quando preciso, ser duro, usando o que os americanos chamam de “tough love” (amor duro). Queria fazer com que os filhos conseguissem as coisas por si mesmos.

Quando deu uma cobertura em Santos para o filho, não foi apenas um presente. Em troca, fez com que o filho passasse a escritura do outro apartamento em que morava na cidade para as empresas da família. Mas esteve presente, na medida do possível, quando o já ex-goleiro foi condenado por associação ao tráfico de drogas em 2005. Edinho alega inocência.

Quando Kely Cristina quis comprar um apartamento em Nova York com o marido, teve de financiá-lo como uma cidadã qualquer, sem envolvimento do pai famoso.

“Essa aqui é a minha filha, não vão achar que é a minha namorada”, fez graça ao chegar com ela ao show do músico Carlos Lyra, em São Paulo, em 2013.

Edinho foi o primeiro a perceber a necessidade de insistir na relação com Pelé e notou que era necessário também oferecer.

“Jogar futebol quebrou essa barreira [entre pai e filho]. Tomei consciência de que tinha de lutar pela relação. Eu tinha de ceder em várias coisas. Isso me fez refletir muito e buscar entender meu pai, quem ele era e a realidade da vida dele. Foi o gatilho para a gente se reaproximar. Prometi a mim mesmo que ia conquistá-lo e virou algo de nós dois. Cada um ganhou do outro a parte que lhe faltava. E o futebol foi a razão de tudo isso”, diz.

Quando Joshua quis tentar a sorte como atleta nas categorias de base do Santos, Pelé apoiou, mas deixou que o garoto caminhasse com as próprias pernas para ver se era aquilo mesmo que desejava. Não era, e o então adolescente desistiu.

Com o passar dos anos, a velhice e a teimosia do pai, os filhos tiveram de tentar assumir o papel de protetores. As conversas, as broncas e os pedidos para que levasse a sério a fisioterapia e tomasse os remédios eram constantes. O mesmo para as tentativas de melhorar seu humor, que começou a variar.

Pelé não conseguiu remediar o relacionamento com Sandra Regina, mas apenas porque essa foi sua vontade. A contrariedade em reconhecer e abraçar a filha que era tão parecida fisicamente com ele (até as suas vozes tinham o mesmo tom) tornou-se o porrete com o qual mais apanhou dos seus críticos.

Ela morreu em 17 de outubro de 2006. Cinco dias depois, o Rei do Futebol foi vaiado pelo público em Interlagos, antes do GP Brasil de F1.

Segundo Samir Abdul-Hak, advogado morto em 2016 que trabalhou por muitos anos para Pelé, seu cliente e amigo jamais acreditou que Sandra fosse realmente sua filha e nada conseguia convencê-lo do contrário. Nem mesmo o exame positivo de DNA pedido pela Justiça, anexado ao processo.

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