Menu
Torcida

Idas e vindas com drogas tornaram Maradona paciente tão famoso quanto jogador

Maradona reconheceu, mais de uma vez, que teria uma carreira muito diferente na sobriedade. “Com a minha doença, lhes dei vantagem”, disse

Redação Jornal de Brasília

25/11/2020 19h31

Foto: Daniel Luna/AFP

SÃO PAULO, SP

Diego Maradona, ícone do futebol argentino morto nesta quarta-feira (25), aos 60 anos, foi alvo de atenção midiática por suas idas e vindas com as drogas tanto quanto por sua atuação nos gramados.

O próprio ex-jogador reconheceu, mais de uma vez, que teria tido uma carreira muito diferente na sobriedade. “Com a minha doença, lhes dei vantagem”, disse em entrevista ao canal argentino Tyc Sports, em 2014, fazendo referência a seus adversários.

“Sabe que jogador eu teria sido se não tivesse usado drogas? Um jogador do caralho. Tenho 53 anos, mas é como se tivesse 78. Minha vida não foi normal, digamos. 53 anos? Eu vivi 80.”

O craque conheceu a cocaína em 1983, quando jogava no Barcelona. Após fraturar o tornozelo esquerdo em um jogo contra o Athletic Bilbao, foi operado e precisou de três meses de repouso. Tinha 23 anos e estava no ápice de seu vigor físico.

Pouco depois, foi suspenso por mais três meses pela federação espanhola devido a uma agressão em campo contra o jogador Miguel Ángel Sola, em outra partida contra o Bilbao.

Devido a conflitos com o presidente do Barcelona e perdas financeiras causadas pela má gestão de seu agente, Maradona se transferiu para o Napoli. A Camorra, máfia napolitana que controlava a distribuição de cocaína na Europa, foi a principal responsável pela aquisição do craque, em litígio com o Barça.

Ironicamente, em 1984, Maradona protagonizou campanha antidrogas patrocinada pelo governo catalão. Em uma peça produzida para a TV, aparecia jogando bola com alguns garotos na praia e se voltava à câmera nos segundos finais. “Me faça um favor. Se alguém um dia te oferecer drogas, apenas diga não”, dizia.

O jogador passou ileso pelos anos 1980 -nos quais se consolidou como principal nome do futebol argentino e responsável pela primeira Copa do Mundo do país-, mas na década seguinte, as drogas cobraram um preço cada vez maior sobre sua imagem pública e seu condicionamento físico.

Em 1991, no mesmo dia em que o Napoli venceu o Bari por 1 a 0, o exame antidoping do craque deu positivo para cocaína e resultou numa suspensão de 15 meses do clube. De volta à Argentina, Maradona chegou a ser preso por porte de drogas; após pagar à fiança, deu entrada pela primeira vez em uma clínica de reabilitação.

Na Copa do Mundo dos Estados Unidos, em 1994, o jogador foi sorteado para fazer o exame antidoping, que deu positivo para efedrina.

Maradona tinha sido apresentado à substância -que não dá barato, mas acelera a perda de gordura e diminui o cansaço físico– por Daniel Cerrini, fisiculturista que havia sido contratado para fazê-lo voltar à forma para o Mundial.

Cerrini o dava um coquetel de suplementos e comprimidos obtidos sem receita cinco vezes por dia; um deles, chamado Ripped Fuel, continha a substância. O fisiculturista não tinha experiência alguma com futebol e desconhecia a relação das drogas permitidas e proibidas aos jogadores. “Ele foi descuidado, mas eu também fui”, reconheceu Maradona meses depois.

A suspensão foi um golpe na carreira do jogador. Então com 33 anos, ele sabia que não teria condições de disputar outra Copa do Mundo, e havia se empenhado para dar às filhas Dalma e Giannina a chance de vê-lo em campo.

Enquanto tentava se reinventar como técnico e voltava como jogador ao seu time de origem, o Boca Juniors, a saúde de Maradona passou a ser afetada de forma mais visível pela dependência -na época, ele chegou a errar cinco pênaltis seguidos.

Viajou à Suíça para se internar numa clínica, mas voltou a usar pouco depois. Em abril de 1997, foi internado em um hospital com problema de pressão. No mesmo mês, voltou a jogar pelo Boca e foi novamente flagrado em exame antidoping, num jogo contra o Argentinos Juniors.

O exame detectou traços de cocaína, o que lhe rendeu numa suspensão temporária. Maradona retornaria aos campos em outubro e, ao derrotar com o Boca Juniors o River Plate por 2 a 1, fez seu último jogo como atleta profissional.

O ex-jogador passou o fim dos anos 1990 longe das câmeras, se revezando entre clínicas na Argentina e em Cuba. Em 2000, teve um ataque cardíaco motivado por overdose em um resort em Punta del Este, reduto da elite uruguaia.

Em 2004, teve uma nova crise hipertensiva e, em 2007, foi hospitalizado por hepatite causada pelo alcoolismo. A internação, que durou quase dois meses, criou especulações sobre sua morte; milhares de pessoas se concentravam em frente a hospitais e igrejas na Argentina rezando pela saúde do ídolo.

Na década de 2010, seus problemas de saúde renderam operações no joelho, ombro e abdômen.

Ao dar entrada em sua internação derradeira, no início do mês, o ex-jogador relatou sintomas de abstinência, além de anemia e desidratação. Ele passou por uma operação de drenagem de uma pequena hemorragia no cérebro, associada a traumas com causa desconhecida (comuns entre praticantes de esportes coletivos).

Nos anos recentes, suas filhas Dalma e Giannina vinham reclamando com frequência dos assessores, dirigentes de futebol e outras pessoas do entorno do pai, a quem acusavam de levá-lo a eventos sociais sem ter a preocupação de controlar sua ingestão de álcool.

No dia de sua morte, na quarta-feira (25), o comentarista de futebol, ex-jogador e dependente químico Walter Casagrande fez observação similar.

“Sempre fiquei revoltado com quem estava ao redor dele, vendo que ele está indo para o fundo do poço, destruindo a vida dele -e ninguém faz alguma coisa para evitar isso?”, disse no Jornal Hoje, da Globo.

“Fico chocado pela perda de um grande jogador, um cara que conheci, que eu gostava muito e um dependente químico. Eu sofro muito quando morre um dependente químico. Para mim, é muito duro.”

As informações são da FolhaPress

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado