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Galvão Bueno narra seu 50º jogo do Brasil em Copas de olho no ‘é hexa’

O dia 16 marcou a primeira final da seleção em uma Copa do Mundo, no histórico –e dramático– Maracanazo, quando a seleção perdeu para o Uruguai por 2 a 1, de virada

FolhaPress

27/11/2022 17h21

Sandro Macedo
São Paulo, SP

Cinco dias antes de Galvão Bueno nascer, em 21 de julho de 1950, o Brasil já vivia um drama, no mesmo Rio de Janeiro.

O dia 16 marcou a primeira final da seleção em uma Copa do Mundo, no histórico –e dramático– Maracanazo, quando a seleção perdeu para o Uruguai por 2 a 1, de virada.

Muitos dramas, conquistas, gols e erres depois, a voz mais famosa da narração futebolística do país completará 50 jogos do Brasil em Copas nesta segunda (28), todos pela Globo, quando a seleção entrar em campo no estádio dos contêineres, o 974, para enfrentar a Suíça pela segunda rodada do Grupo G no Mundial do Qatar.

“A Copa é o auge da nossa carreira. Cada uma é a renovação dessa conquista. Você tem ideia para quantos milhões de pessoas eu falo na Copa? É o suficiente para jogar a adrenalina lá para cima”, disse Galvão à Folha, em 2018, pouco antes do Mundial disputado no mesmo ano.

No Qatar, o narrador entra em ação em sua 13ª Copa (já brincou com Zagallo nas redes sociais, lembrando o número), mas é a décima em que narra jogos do Brasil na TV aberta.

Em seus 49 jogos anteriores, o retrospecto é positivo, com 34 vitórias, sete empates e oito derrotas; 88 gols marcados e 42 sofridos.

Sua estreia foi em 1986, na magra vitória da seleção contra a Argélia ainda na primeira fase, gol de Careca.

Passava de 21 do segundo tempo quando em um jogo enroscado quando ele finalmente gritou “goooooollllll do Brasil, é de Careca, número 9”, com uma voz mais limpa, aos 36 anos, muito antes dos recentes “olha o gol, olha o gol, olha o gol…”

O narrador principal naquela Copa foi Osmar Santos, que só ficou ausente da partida diante dos argelinos porque teve uma crise de hemorróidas.

Em 1990, já era a voz da emissora, lembrando sempre que “ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor”. Mas foi a Argentina que eliminou a seleção naquela Copa.

Seu “é tetra, é tetra, é tetra”, com a voz esganiçada, como ele mesmo lembra, tornou-se marca registrada, assim como o “sai que é sua, Taffarel”, que gritava para o goleiro da seleção. No começo, em tom crítico, mas depois virou um elogio, usado até em decisão de pênaltis, e que a cada quatro anos é adaptado para o cara da vez –estamos sob o signo “sai que é sua, Alisson” desde 2018.

Em 2002, o tetra virou penta, e a letra erre nunca foi tão esticada em Rrrrronaldo, Rrrrrronaldinho Gaúcho, Rrrrrrivaldo e Rrrrrrroberto Carlos –em 2022, temos Rrrrrricharlison, mantendo a tradição.

A narração mais técnica foi ganhando um tom mais crítico ao longo dos anos.

Galvão continua acompanhando o lance, dificilmente erra o nome de jogadores, mas arruma um tempinho para dar suas alfinetadas ou aumentar a carga dramática, “haaaaaja, coração”, “vive um drama…”.

Luiz Felipe Scolari não fala com o narrador desde os comentários de 2014, no Jornal Nacional; Neymar e amigos sempre reclamam por críticas recebidas vez ou outra, ou outra, ou outra.

“Existe pressão sobre tudo o que você fala na televisão. Eu não tenho nada com a vida pessoal de ninguém. Eu critico, comento o que é do campo”, disse em outra entrevista à Folha, em agosto de 2022.

Quando os memes ainda eram coisa de criança, já tinha um “cala a boca, Galvão” ganhando a internet durante a Copa de 2010 e liderando os trending topics mundial, dividindo as atenções com Larissa Riquelme e o polvo Paul.

E se Galvão não nasceu a tempo do Maracanazo, viveu plenamente o Mineiraço. Nos 7 a 1 contra a Alemanha, pior derrota da seleção em Copas, e de Galvão, suas frases em tom de decepção para cada gol do rival são repetidas até hoje em diversos contextos: “Virou passeio”, “lá vem eles de novo”.

Galvão vem dizendo que está prestes a encerrar seu ciclo na televisão aberta e que sua carreira deve se movimentar para outras plataformas. Mas também já chegou a dizer em 2010 que não faria mais Copa fora do Brasil e que, portanto, 2014 seria sua última.

Talvez o narrador esteja esperando o “é hexa, é hexa, é hexa” para sair no auge. Como diria Zagallo, comentarista naquele jogo contra a Argélia em 1986, só faltam seis.

E mesmo que esta seja sua última Copa de fato, o telespectador não terá tempo de ficar tão saudoso de sua voz, cada vez mais frequente nos intervalos comerciais, redes sociais, podcats…

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