Menu
Torcida

Escola onde Kobe Bryant estudou é fechada por conta do coronavírus

Todas as escolas da Pensilvânia foram obrigadas a fechar as portas para mitigar a disseminação do novo coronavírus

Redação Jornal de Brasília

24/03/2020 14h50

Kobe Bryant

ARDMORE, Pensilvânia – No final de janeiro, as pessoas de luto colocaram flores, camisetas e tênis do lado de fora do ginásio da Lower Merion High School. A homenagem era dedicada ao ex-aluno mais famoso da escola, Kobe Bryant. Agora, outra ausência misteriosa prevalece em Lower Merion, os estacionamentos e as salas de aula estão vazios, assim como o ginásio, os campos de futebol e os ônibus, que permanecem em quarentena atrás de uma cerca. Todas as escolas da Pensilvânia foram obrigadas a fechar as portas para mitigar a disseminação do novo coronavírus.

O torneio estadual de basquete foi suspenso, com a Lower Merion, no subúrbio da Filadélfia, presa no limbo no segundo turno. Seus treinadores e jogadores não têm ideia de quando ou se as salas de aula e o ginásio reabrirão nesta primavera.

Demetrius Lilley, 17 anos, pivô com mais de dois metros de altura, deixou seus tênis de basquete na escola e não pode recuperá-los durante o período de isolamento. Ele corre e anda de bicicleta todos os dias para tentar se manter em forma. “Perdemos Kobe, que era nosso Michael Jordan”, disse Lilley. “E agora provavelmente perdemos nossa temporada. É horrível.”

Talvez nenhuma outra escola tenha sido destruída da mesma maneira pela tragédia, a tristeza e a incerteza perturbadora causadas pelas duas ocorrências que mais abalaram o mundo dos esportes este ano: a morte prematura de uma estrela mundial e a pandemia global.

“Tudo parece pesado aqui”, disse Doug Young, assistente de técnico de basquete da Lower Merion e ex-companheiro de equipe de Bryant, que morreu aos 41 anos de idade com a filha de 13 anos, Gianna, e outras sete pessoas em um acidente de helicóptero nos arredores de Los Angeles em 26 de janeiro. “Suponho que esteja difícil em todos os lugares”, continuou Young, 42 anos, falando por telefone. “Mas é um pouco diferente aqui.”

Gregg Downer está em sua 30ª temporada como treinador de basquete na Lower Merion. Ele treinou Bryant para um campeonato estadual em 1996 e conquistou dois títulos desde então. Este é o momento que ele temia. O som de nenhuma bola quicando. O vazio de um dia em que a escola está fechada e a proibição da prática de esportes ali. Quando não há oponentes para vigiar, nenhum vídeo para exibir, nenhuma aula de saúde e educação física para dar. Nenhuma rotina anterior possível para afastar sua mente da perda de seu melhor jogador, que se tornou um amigo íntimo.

“Sinto como se houvesse um buraco no coração que possivelmente estará lá para sempre”, disse Downer, 57 anos, durante uma série de entrevistas por telefone.

O fim da dor, ele disse, parece mais uma “esperança terapêutica” do que uma realidade. Em vez disso, disse Downer, há “apenas uma escuridão geral na minha vida enquanto tento descobrir como lidar com isso”.

Ele passa os dias ajudando sua filha de 7 anos com seus estudos on-line e fazendo longos passeios pela natureza. Ele recebeu uma sugestão de Brett Brown, o técnico do Philadelphia 76ers cujo filho, Sam, é aluno do 9º ano na Lower Merion. Brown aconselhou a equipe do Sixers a montar uma rotina para o seu dia.

Então Downer se comunica com seus jogadores por e-mail. Ele os instrui a ficar atentos às aulas on-line, que começaram na quarta-feira, a fazer a lição de casa, lavar as mãos e seguir outros protocolos sobre como permanecer seguro em uma pandemia. Além de se exercitar, ler um livro, assistir a um filme que nunca viu e ser gentil uns com os outros.

“Encontre algo que faça os dias parecerem os mesmos”, disse Downer. É uma mensagem para seus jogadores e para si mesmo.

Parece improvável que o torneio estadual de basquete seja retomado em breve, isso, se houver ainda. O Condado de Montgomery, onde está localizado a Lower Merion, é um forte foco de coronavírus na Pensilvânia. O governador Tom Wolf ordenou que as escolas do estado fossem fechadas por pelo menos duas semanas e que todos os negócios não essenciais permanecessem de portas fechadas. “Não consigo imaginar um cenário em que eles possam jogar em meio a tudo isso”, disse Downer. “Como você pode colocá-los em perigo?”

No entanto, os adolescentes podem se sentir invencíveis. Os Aces esperam poder jogar novamente. Uma equipe jovem que perdeu 12 jogadores do terceiro ano do Ensino Médio há um ano se uniu no final desta temporada. Seu lema havia se tornado: apoiar uns aos outros. Alguns jogadores continuam tentando lançar bolas nas cestas de basquete de suas casas. Outros assistem repetições dos jogos da temporada. Em conjunto, os jogadores fizeram um anúncio de serviço público sobre como manter a higiene adequada no surto e o publicaram no Instagram.

“Estamos apenas tentando permanecer positivos”, disse James Simples III, 17 anos, guarda e líder da equipe. Ainda assim, ele e seus colegas de equipe ficaram impressionados com a forma como a morte de Bryant devastou seus treinadores, que o conheceram pessoalmente. Homens fortes desmoronaram, disse Simples. “Isso foi difícil de ver”, afirmou.

E agora a frustração começou quando a temporada foi interrompida por uma pandemia. Para os alunos do terceiro ano, isso é ainda mais doloroso, pois eles talvez não possam usar o uniforme da equipe novamente. As esperanças de jogar na faculdade ficaram incertas agora que a NCAA interrompeu o recrutamento pessoal até 15 de abril.

“Estou aprendendo a ter paciência”, disse Simples. “Algumas coisas estão fora de seu controle.”

A dor continua. E como o coronavírus cancelou as aulas e suspendeu o basquete, as coisas não são mais fáceis para Downer. E ele teme que a situação possa piorar ainda mais. Por isso, tenta encontrar uma rotina familiar. Ele mantém Bryant presente por meio das histórias que conta:

Bryant uma vez assinou tantos autógrafos em um torneio do Ensino Médio na Carolina do Sul, que machucou o pulso. Ele usava seu short da Lower Merion por baixo do short do Lakers. Ele apareceu na escola quando estava na cidade com o Lakers para jogar contra o Sixers. E trocou ideias de estratégia por e-mail com Downer sobre a guarda do Boston durante as finais da NBA de 2010, quando Bryant foi nomeado o jogador mais valioso da série de sete jogos.

Bryant ainda falava às vezes com os Aces pelo viva-voz, direto do vestiário, antes de jogos importantes. No outono de 2018, ele recebeu a equipe da Lower Merion, deu ingressos aos jogadores para ver uma partida do Lakers e, depois, levou-os para almoçar em um restaurante com vista para o Oceano Pacífico. Quando a escola precisou de um benfeitor para reformar seu ginásio, ele fez um cheque de US$ 500.000 e disse simplesmente: “Feito”.

“Ele era nosso batimento cardíaco”, disse Downer. “Ele era tudo o que aspirávamos ser nos últimos 30 anos. Ficamos muito orgulhosos em dizer que o ajudamos em sua jornada. Vivendo sua vida adulta em Hollywood, ele poderia facilmente ter esquecido a Lower Merion. Mas isso nunca aconteceu.”/TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

Estadão Conteúdo

 

 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado