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Criador do ‘Treino do Sapo’ quebra estereótipos e mergulha na luta contra o preconceito

“Quero ser referência para pretos, como LeBron James e Jay Z, que jogam (e ganham) um jogo que foi projetado para fazer com que pessoas pretas falhem, sejam presas e morram”

Marcos Nailton

22/05/2023 18h22

Foto: arquivo pessoal

Os conceitos do futebol americano e os R$ 200 emprestados do pai foram suficientes para levar Bruno Sapo a se tornar uma referência em educação física. O TDS, como ficou conhecido o “Treino do Sapo”, foi desenvolvido pelo então atleta de futebol americano para jogadores profissionais, mas acabou conquistando o público geral. Quebrando barreiras, aos 38 anos, o personal trainer pretende continuar ampliando seus horizontes e sendo referência para pessoas, principalmente pessoas pretas.

Formado pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, Bruno desde sempre se viu fazendo algo relacionado ao esporte. “Educação física foi algo muito claro pra mim”, destaca. É desta maneira que Bruno se apresenta tanto em sua vida pessoal quanto profissional. Através de seus posts no Instagram, ele se posiciona abertamente sobre temas que muitos não teriam coragem de falar e se evidencia ainda mais por isso.

“Um preto de dread falando sobre artigos científicos já se destaca. Percebi que meu trabalho ficou muito mais eficiente e verdadeiro, a partir do momento que passei a me posicionar, estudar e ter opinião formada. O preconceito com o profissional de Educação Física já existe há tempos, pois pensam que a faculdade é só jogar bola e ir na academia passar 3×10”, destacou.

Ambiente tóxico e preconceituoso

Para muitas pessoas, realizar atividades físicas, seja ao ar livre ou em academias, acaba sendo um grande desafio. Bruno conta que vivenciou muitas pessoas relatando ter essa dificuldade de aceitar o próprio corpo, e que o famoso discurso de “é só querer, qual a sua desculpa” para mudar, não pode ser resumido a todos.

“Muitas vezes as pessoas esquecem que outros vem de realidade diferente da sua, trabalham em lugares diferentes, então você não pode falar pra uma pessoa que mora a duas horas do trabalho, depende de transporte público para ir e voltar, é pai solo, mãe solo, que basta querer. Quanto maior o privilégio que a pessoa tem, mais alto está no topo da pirâmide, e a gente sabe que quanto mais alto, mais branca essa pirâmide é”, destaca.

Quebrar estereótipos é exatamente o que torna ‘Sapo’ diferenciado. O personal conta que o ambiente ainda é bastante intimidador. “Infelizmente, o meio fitness, das academia e personais, é muito preconceituoso, excludente e tóxico para muitas pessoas”, afirma. “Tento acolher as pessoas independente dos seus objetivos, sem julgamentos de corpos, gênero, orientação sexual e raça”.

Bruno afirma também que existe uma carência de pessoas pretas como referência, mas declara se inspirar em Jay Z e LeBron James. “Eles não escondem suas qualidades, buscam sempre mais sucesso e não se omitem, tudo isso enquanto jogam (e ganham) um jogo que foi projetado para fazer com que pessoas pretas falhem, sejam presas e morram.”

Apesar de demorar a se enxergar assim, Bruno hoje se vê como uma referência para as pessoas pretas que chegam a abandonar a graduação em educação física por causa desse ambiente tóxico.

“Muitas pessoas começaram a me falar que voltaram a estudar depois de ver meus vídeos, que hoje falam abertamente sobre preconceito e antes não falavam com medo de perder o emprego. Já me falaram que é muito maneiro eu ser personal usando Dread, porque já teve que cortar o próprio cabelo para ser contratado, […] Quero alcançar lugares maiores para tornar uma referência ainda melhor para mais pessoas”, disse.

Saúde é prioridade

Bruno conta que as pessoas perceberam a necessidade de praticar atividade física logo quando começou a pandemia de Covid-19. “Logo no início daquela fase mais crítica da pandemia não sabia-se muita coisa da covid, mas era sabido que a prática de atividade física ajudava. Muita gente que já treinava, continuou treinando em casa e se adaptou, e muitas outras começaram a treinar para minimizar os riscos do virus”, relata.

Apesar de muitos buscarem a estética de um corpo perfeito e a saúde não ser definida como prioridade, o personal ressalta que é bacana ter objetivos estéticos, mas para isso, a atenção à saúde tem que continuar sendo o foco. “Você estará mais pendente a fazer loucuras ao acreditar em pessoas sem formação só para alcançar determinado objetivo estético que você acha que vai te fazer feliz.”

Treino do Sapo

Criado há mais de 11 anos por Bruno Rosa, o Treino Do Sapo (TDS) foi desenvolvido, a princípio, para jogadores de Futebol Americano, mas se tornou uma febre para todo mundo que queria uma vida mais saudável e bons resultados estéticos. Hoje, Bruno faz com que seu atendimento seja completo e humanizado.

“Tento tornar o ambiente de treino acolhedor e menos intimidador, conversando com quem deseja treinar comigo antes de começarmos, controlando suas frequências, sono, estresse e alimentação para que possa orientar de melhor forma possível, estudando situações atípicas para que possa auxiliar as pessoas a se manterem em movimento de forma prazerosa, alcançando seus objetivos, sejam eles quais forem”.

Bruno se destacou pela percepção de que no mundo pós pandêmico, o online viria para ficar e apenas mudaria o seu formato quando a rotina voltasse ao normal. Os grupos online podem até, em boa parte, ter migrado para a consultoria, mas não deixaram de ser a grande aposta.

Seleção Brasileira de Flag Football

Aos 37 anos e sem esperar, Bruno Rosa voltou a ser atleta, novamente rompendo os paradigmas do improvável. Dessa vez, a aposta foi o Flag Football, modalidade derivada do futebol americano. “O objetivo era conhecer pessoas em uma cidade nova”, conta o jogador, que rapidamente foi convocado para a Seleção Brasileira do esporte.

“Foi uma experiência renovadora e reveladora também, visto que não me imaginava mais praticando nada a nível de ser um dos melhores do Brasil, depois de ter me aposentado do Futebol Americano.

Bruno sempre demonstra sua gratidão ao Futebol Americano por tudo que conquistou e aprendeu. Durante 12 anos como atleta profissional, teve passagens pelo Flamengo, Vasco, Fluminense, Seleção Carioca e Seleção Brasileira e parou de jogar em 2016. Hoje, é o atual preparador físico da Seleção Brasileira.

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