A história recente das artes cênicas na Bahia tem no Theatro XVIII um de seus mais importantes capítulos. Desde sua inauguração, o espaço cultural já produziu 29 espetáculos, entre dança, música e teatro de outros grupos e artistas – novos ou veteranos, da Bahia ou de outros estados – além de suas próprias produções (média de duas por ano).
Este ano, o 18 (como é conhecido por seus freqüentadores) completa uma década de atividades e se apresenta em Brasília pela primeira vez. Dois de seus espetáculos estarão em cartaz no Teatro Dulcina: Esse Glauber, de hoje ao dia 12; e Três Mulheres e Aparecida, entre os dias 15 e 19 próximos.
Na primeira peça, os atores Rita Assemany e Diogo Lopes vivem dois “cordeiros” (como são conhecidas as pessoas que seguram as cordas que separam os blocos de Carnaval de Salvador, Bahia), cuja história é acompanhada enquanto eles aguardam o pagamento por seus serviços prestados. “O espetáculo é uma metáfora do Brasil contemporâneo, um país no qual 5% da população usufruiu de uma fortuna exuberante e os outro 95% padece no inferno”, comenta Aninha Franco, autora do texto diretora e superintendente Theatro XVIII.
Os cordeiros separam esses dois mundos distintos: o de quem pode pagar para participar da folia e o daquelas pessoas que assistem à folia do lado de fora. O Glauber no título se explica, pois o Carnaval em que se passa a história tem como tema Deus e o Diabo na Terra do Sol, uma homenagem ao cineasta Glauber Rocha.
Já o monólogo Três Mulheres e Aparecida apresenta a atriz Rita Assemany como uma mendiga que vaga pelas ruas da capital baiana e discute passado e presente. Três outras personagens – a índia tupinambá Jacapu Coema, a prostituta portuguesa Maria Pureza e a escrava angolana Luedji – aparecem em cena para reconstruir o Brasil do século 16. O texto também é de autoria de Aninha Franco.
A vinda dos espetáculos baianos para Brasília faz parte do Projeto Caravana Funarte Petrobras de Circulação. Além de Esse Glauber e Três Mulheres e Aparecida, a equipe do Theatro XVIII também desejava trazer a peça A Casa da Minha Alma, o que só não foi possível devido à ausência de um teatro disponível para abrigar a montagem durante a permanência da em Brasília.
Trajetória
A escolha das montagens serve apenas como uma breve amostra do trabalho desenvolvido ao longo de dez anos de Theatro XVIII. “Escolhemos sempre temas pontuais e bem brasileiros”, conta Aninha. Esse Glauber é de 2004, e Três Mulheres e Aparecida, de 2000. A autora observa que, apesar do tempo decorrido, os espetáculos ainda não envelheceram.
Mesmo com o reconhecimento de crítica e público baianos, somente este ano o Theatro XVIII começou a levar seus espetáculos para outras parte do Brasil. “Já recebemos propostas até para nos apresentar no exterior, mas temos muito trabalho no XVIII para fazer, o que sempre impediu as viagens”, explica Rita Assemany.
O Theatro XVIII começou suas atividades em 1997 como outro teatro qualquer, onde artistas e grupos podem alugar o espaço para realizarem seus espetáculos e cobrar por eles preço de mercado.
Apoiado em pesquisas de opinião, o XVIII foi moldando seu perfil até que, em 2000, democratizaram o espaço e fixaram o preço do ingresso em R$ 2,18 (dois, por conta daquele ano, e 18 por conta do nome do teatro), sempre vinculado desde então ao valor do salário mínimo (atualmente os ingressos são vendidos a R$ 4).
“Foi uma ruptura com o teatro de elite”, diz Aninha Franco. “A partir disso, o que assistimos foi a uma pequena revolução. O público, que antes era muito restrito, se ampliou e hoje é comum a recebermos pessoas de todos os bairros da cidade”, explica a superintendente. Além do ingresso barato, o XVIII não cobra dos artistas que lá se apresentam e reverte para eles os lucros da bilheteria.
Com todas essas vantagens, o local é muito procurado por grupos locais e de outros estados. “A moeda da casa é a qualidade. Não importa se o espetáculo é novo ou antigo, o importante é ser bacana”, aponta Aninha. Projetos de inclusão social, com jovens de diferentes comunidades, também fazem parte do cotidiano do espaço. Como nem tudo são flores, o XVIII sofre na hora de colocar suas contas na ponta do lápis. “É uma verdadeira guerrilha manter o teatro. Esperamos que os próximos dez anos sejam mais leves”, almeja Rita Assemany.
Temporada do Theatro XVIII – Esse Glauber – De hoje ao dia 12 deste mês, às 20h, no Teatro Dulcina de Moraes (Conic). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia para estudantes, pessoas com mais de 65 anos e doadores de agasalho). Três Mulheres e Aparecida, de 15 a 19 deste mês, às 20h, no Teatro Dulcina de Moraes (Conic). Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (meia para estudantes, pessoas com mais de 65 anos e doadores de agasalho). Classificação indicativa: 14 anos.