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Três bons discos de jazz brasileiro estão nas lojas

Arquivo Geral

17/01/2005 0h00

Quem gosta de jazz fusion não pode deixar passar em branco uma oportunidade rara em termos de lançamento de discos. Chegaram às lojas nesse mês de janeiro três excelentes exemplares dessa linguagem musical que mistura e improvisa sobre temas lineares e que, às vezes, pouco acrescentam à discografia de grandes nomes da música. Mas dois dos CDs em questão são discoteca básica para os aficcionados do jazz e expressamente recomendados aos apreciadores do pop, no caso A Bad Donato, do excepcional João Donato; e Dom Um, a estréia do percussionista carioca Dom Um Romão. O terceiro álbum é um encontro peculiar do guitarrista Toninho Horta com o cantor Carlos Fernando (ex-Nouvelle Cousine) tratando a obra de Chico Buarque em forma de standards no melhor estilo jazzy.

Samba-jazz A cozinha rítmica inventada por Dom Um Romão no final dos anos 50 rendeu ao instrumentista carioca a posição de dono das baquetas da bossa nova e presença constante em álbuns de Tom Jobim, João Donato, Elis Regina, Rosinha de Valena, entre outros. Pouco conhecido dos jovens brasileiros, Dom Um é nome de peso como instrumentista e arranjador nos Estados Unidos, sendo requisitado por grandes nomes do jazz e da música pop.

Seu disco de estréia, Dom Um, foi lançado originalmente em 1964 e é considerado o marco do chamado “samba no prato”. É notória a influência de Chet Baker, mas fica claro que a mistura do jazz americano com o samba e a bossa nova cria um novo som nesse álbum antológico que sai pela primeira vez em CD.

Clássicos da bossa nova como Telefone (Menescal/Bôscoli), Vivo Sonhando (Jobim), Consolação (Baden Powell) e Diz Que Fui Por Aí (Zé Keti) compõem esse repertório que levou o baterista/percussionista ao estrelato nos EUA, a bordo de uma das mais lendárias bandas de jazz de todos os tempos, a Weather Report, fundada por músicos egressos da banda de Miles Davis, liderada por Wayne Shorter e Joe Zawinul, e que contava, ainda, com o brasileiro Airto Moreira na percussão, além do baixista Jaco Pastorius (em formações distintas).

Pai da disco music João Donato foi considerado pelo produtor Tommy Li Puma como “o pai da disco music”, por influenciar, com A Bad Donato (1970), toda a geração da discoteque. É exatamente esse álbum que a Dubas Música recoloca no mercado, pela primeira vez em CD. Trata-se de uma aula de jazz e soul que tem em Eumir Deodato o principal parceiro nos arranjos e participação de Dom Um Romão.

O clima do repertório, que mais tarde traduziria a Banda Black Rio, é do período “paz e amor” do final dos anos 60 e início dos 70, quando brilhavam o rock de Led Zeppelin, Janis Joplin, Beatles, Jimi Hendrix e a fusão criada por Miles Davis.

A Bad Donato é uma peça rara que estava esquecida no tempo. É daqueles discos que a gente ouve várias vezes e sempre tem um ar de novidade. Para chegar a esse resultado, João Donato utilizou todas as novidades eletrônicas da época, se trancou em seu apartamento e só parou de tocar depois de experimentar as fusões de rock, soul, blues, jazz, bossa nova e samba.

Para Chico Qualquer canção, um disco lançado originalmente em 1994, inaugurando os trabalhos da Dubas Música, reflete o sonho do ex-líder da banda de jazz paulista Nouvelle Cousine de interpretar canções do mestre da MPB Chico Buarque. Para essa empreitada foi convocado um mestre da guitarra, Toninho Horta. O resultado do trabalho do duo é surpreendente. Primeiro porque juntou a maestria instrumental de Horta, que dialoga com a rara voz de Carlos Fernado. Segundo porque eles fizeram do repertório um painel de standards digno dos melhores discos do gênero lançados no mercado mundial.

As releituras, sem perder o original, ganharam forma própria e, em muitos casos, soa como trabalho inédito. O clima cool dado pelo duo ao repertório, às vezes com inserções bluseiras, trata a obra de Chico Buarque como uma bela paisagem jazzística. Destaque para as versões de Samba e Amor, Pedro Pedreiro, Tatuagem, Joana Francesa, Carolina e Vitrines.

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    Samba-jazz A cozinha rítmica inventada por Dom Um Romão no final dos anos 50 rendeu ao instrumentista carioca a posição de dono das baquetas da bossa nova e presença constante em álbuns de Tom Jobim, João Donato, Elis Regina, Rosinha de Valena, entre outros. Pouco conhecido dos jovens brasileiros, Dom Um é nome de peso como instrumentista e arranjador nos Estados Unidos, sendo requisitado por grandes nomes do jazz e da música pop.

    Seu disco de estréia, Dom Um, foi lançado originalmente em 1964 e é considerado o marco do chamado “samba no prato”. É notória a influência de Chet Baker, mas fica claro que a mistura do jazz americano com o samba e a bossa nova cria um novo som nesse álbum antológico que sai pela primeira vez em CD.

    Clássicos da bossa nova como Telefone (Menescal/Bôscoli), Vivo Sonhando (Jobim), Consolação (Baden Powell) e Diz Que Fui Por Aí (Zé Keti) compõem esse repertório que levou o baterista/percussionista ao estrelato nos EUA, a bordo de uma das mais lendárias bandas de jazz de todos os tempos, a Weather Report, fundada por músicos egressos da banda de Miles Davis, liderada por Wayne Shorter e Joe Zawinul, e que contava, ainda, com o brasileiro Airto Moreira na percussão, além do baixista Jaco Pastorius (em formações distintas).

    Pai da disco music João Donato foi considerado pelo produtor Tommy Li Puma como “o pai da disco music”, por influenciar, com A Bad Donato (1970), toda a geração da discoteque. É exatamente esse álbum que a Dubas Música recoloca no mercado, pela primeira vez em CD. Trata-se de uma aula de jazz e soul que tem em Eumir Deodato o principal parceiro nos arranjos e participação de Dom Um Romão.

    O clima do repertório, que mais tarde traduziria a Banda Black Rio, é do período “paz e amor” do final dos anos 60 e início dos 70, quando brilhavam o rock de Led Zeppelin, Janis Joplin, Beatles, Jimi Hendrix e a fusão criada por Miles Davis.

    A Bad Donato é uma peça rara que estava esquecida no tempo. É daqueles discos que a gente ouve várias vezes e sempre tem um ar de novidade. Para chegar a esse resultado, João Donato utilizou todas as novidades eletrônicas da época, se trancou em seu apartamento e só parou de tocar depois de experimentar as fusões de rock, soul, blues, jazz, bossa nova e samba.

    Para Chico Qualquer canção, um disco lançado originalmente em 1994, inaugurando os trabalhos da Dubas Música, reflete o sonho do ex-líder da banda de jazz paulista Nouvelle Cousine de interpretar canções do mestre da MPB Chico Buarque. Para essa empreitada foi convocado um mestre da guitarra, Toninho Horta. O resultado do trabalho do duo é surpreendente. Primeiro porque juntou a maestria instrumental de Horta, que dialoga com a rara voz de Carlos Fernado. Segundo porque eles fizeram do repertório um painel de standards digno dos melhores discos do gênero lançados no mercado mundial.

    As releituras, sem perder o original, ganharam forma própria e, em muitos casos, soa como trabalho inédito. O clima cool dado pelo duo ao repertório, às vezes com inserções bluseiras, trata a obra de Chico Buarque como uma bela paisagem jazzística. Destaque para as versões de Samba e Amor, Pedro Pedreiro, Tatuagem, Joana Francesa, Carolina e Vitrines.

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