Trinta peças, entre máscaras e esculturas, confeccionadas em argila. Essa poderia ser mais uma exposição, dentre tantas, a ser realizada na Galeira Parangolé do Espaço Cultural Renato Russo, se não fosse um detalhe: os seis artistas participantes são deficientes visuais.
A exposição aberta ontem na cidade, e que tem continuidade até o dia 25 de maio, é o resultado de um trabalho desenvolvido ao longo de dois anos no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais (CEEDV).
A mostra conta com obras de Francisco Souza, Cirilo Pimenta, Flávio Luís, Paulo Sérgio, Almerentina Silva e Jonas Neto. Todos, com idade entre 25 e 65 anos, nasceram com visão normal e já adultos a perderam por diferentes razões. Professora de Artes há dois anos e meio no centro, Mariângela Hermano é a grande incentivadora dos alunos. “Começamos a fazer esse trabalho com argila pois o material é excelente para apurar o tato, o sentido mais importante para quem perdeu a visão”, diz a professora. Muitos deles nunca tinham tido contato com nenhuma arte, antes de se tornarem deficientes. Por isso o primeiro contato foi difícil. “Alguns não acreditavam no seu potencial de artista e aprenderam a desenvolvê-lo”, lembra Mariângela. Flávio Luís é um exemplo disso. Trabalhava como laboratorista em uma fábrica de bebidas e nunca havia tido contato com a arte. Infelizmente um acidente fez com que ele perdesse a visão e sua vida mudou completamente. “Comecei a freqüentar a escola, fazendo aulas de Braile e de artes, mas não queria participar da exposição, fui incentivado pela Mariângela”, lembra Flávio, que freqüenta as aulas duas vezes por semana.