Um centenário de música no Brasil é data para se comemorar. E assim o faz a gravadora Odeon, que, marcando presença desde os tempos das vitrolas e dos pesados discos de vinil de 78 rotações, aciona a máquina do tempo e lança uma centena de álbuns remasterizados. A notícia não poderia ser melhor para quem quer música de boa qualidade – não somente com relação ao conteúdo, como também na reprodução do som.
O projeto da Emi/Odeon mostra o quão eclética vem sendo esta gravadora, firme no cenário das mais bem-cotadas do Brasil desde os tempos em que nem se imaginava o advento do mundo digitalizado. Assim, a produção não mediu recursos para garimpar o que de mais pitoresco existe em seus acervos, para trazer à tona material que nem sempre pode ser visto nas paradas.
Tem de tudo um pouco. Noel Rosa, por exemplo, desponta no clássico Noel Por Noel, com pérolas como Cem Mil Réis, Com Que Roupa?, Conversa de Botequim, Quem Dá Mais? e outras que compõem o dicionário da música popular brasileira.
Quem quiser revisitar os tempos em que se fazia samba com acordes mais ricos – para não dizer menos raquíticos do que a métrica comercial que corre solta pelas paradas de sucesso atuais, com raras exceções – tem boas chances nesse relançamento. Há material de bom quilate, como A Pedida é Samba, que traz Isauginha Garcia cantando com Walter Wanderley e seu conjunto (na época se falava em conjunto, não banda ou grupo); Moreira da Silva, em O Último Malandro, e um tanto mais. E o Gasolina, com Sambou Prá Frente? Puro deleite, coisa de museu. O acervo de samba desta coleção, aliás, é respeitável.
Também sucessos do tempo em que música nordestina não se resumia ao axé enlatado podem ser encontrados nesses relançamentos. É o caso do Trio Nordestino, com o antológico Pau-de-Arara é a Vovozinha, com material de fazer muita gente chorar de saudade dos tempos menos descartáveis.
Dos anos 60 para cá, material de valor é o que não falta. Simona, com Wilson Simonal, é um dos exemplos dessa boa safra. Não houve, com ainda não há similares ao estilo. Dick Farney, Luiz Bonfá, Johnny Alf, Nelson Cavaquinho, Dóris Monteiro (que aparece na capa posando ao lado de um portão daqueles dos anos psicodélicos), Milton Banana Trio, Hélio Delmiro e, mais perto deste século 21, a singular Fátima Guedes, tudo isso e muito mais fazem parte deste universo saudosista. Não que as boas idéias tenham ficado para trás. Mas que havia músicas mais bem-elaboradas, isso é fato. Ouça e confira.