O samba surgia, nos primórdios do século 20, a partir dos compassos de chorinho, que antes era classificado por uma melodia com sotaque europeu e ritmo inspirado no lundu africano. As composições eram dançadas em polca e executadas pela formação de flauta, piano, violão harmonizador, cavaquinho e pandeiro.
O choro não era gênero musical. Estava mais para uma maneira improvisada e brasileira de fazer música. “Os compositores dessa época tocavam de ouvido. Quando foram copiar as polcas tocadas nos grandes bailes, acrescentaram um sentimentalismo europeu à malícia rítmica dos escravos africanos”, explica o pesquisador musical e um dos mais aclamados chorões da atualidade Henrique Cazes.
Segundo Cazes, o elemento choro está presente a cada batida de samba e foram os chorões os responsáveis por escrever os primeiros parágrafos da história do estilo protagonizado por Noel Rosa, Cartola e Ismael Silva. “A riqueza musical do samba vem diretamente do acervo de conhecimentos acumulados por esses grandes compositores do chorinho”, acrescenta.
Os ancestrais do estilo surgiram entre meados do século 19 e o início do século seguinte e são lembrados até hoje pelas antigas composições que nunca envelheceram. Basta trazer à memória Corta-Jaca, de Chiquinha Gonzaga; Brejeiro, de Ernesto Nazareth; Carinhoso, de Pixinguinha; Noites Cariocas , de Jacob do Bandolim; Tico-tico no Fubá, de Zequinha de Abreu; e o hino Brasileirinho, do cavaquinista Waldir Azevedo.
Anualmente o Clube do Choro cria um projeto em que exalta uma dessas figuras – excêntricas e boêmias – de um tempo antes do samba descer do morro para os salões cariocas e muito antes de Vinícius de Moraes defender que ele nasceu lá na Bahia.
Começou em 1998, com homenagem a Pixinguinha. Depois o Clube do Choro recordou Waldir Azevedo, abriu alas para Chiquinha Gonzaga, reconheceu Ernesto Nazareth como o pai do choro moderno e, neste ano, faz tributo ao violonista interiorano revelado por Carmem Miranda, Garoto.
Para o próximo ano, ainda não há previsão de quem será o homenageado. Mas ao pesquisar o alfabeto do choro, encontra-se uma grande lista de importantes personalidades que merecem ser recordadas: Joaquim Antônio da Silva Callado, Patápio Silva, Ademilde Fonseca, Luperce Miranda, Bola 7 e Radamés Gnatalli, para citar exemplos.